Após a traição devastadora de seu noivo, Mia abandona tudo o que conhecia em busca de um recomeço. Nova cidade, nova casa, novo emprego. Mas, por mais que tente, o passado insiste em persegui-la. É então que seu caminho cruza com o do homem que todos temem: seu chefe. Arrogante, enigmático e inacessível, ele desperta nela uma mistura de repulsa e fascínio. Entre olhares que dizem mais do que palavras e segredos que nenhum dos dois ousa confessar, nasce um sentimento inesperado, capaz de desarmar corações que juravam estar fechados.
Ler maisQuando voltei ao meu quarto no hotel, ele parecia menor naquela dia, como se as paredes tivessem se aproximado em silêncio, sufocando qualquer tentativa de ignorar a noite anterior. Eu passava cuidadosamente cada peça de roupa dobrada, tentando manter os gestos metódicos para distrair minha mente. Mas não adiantava. Aquela viagem havia acabado e com ela, eu levaria lembranças que jamais poderia esquecer. Cada vez que meus dedos roçavam no tecido do vestido negro que havia usado no jantar, meu corpo recordava a intensidade do que acontecera depois. A respiração entrecortada, a urgência nos olhos de Kairos, o peso dele sobre mim — tudo ainda estava tão vivo que eu me perguntava como conseguiria voltar a olhar para ele sem corar. — Como estão as coisas aqui?. — A voz dele cortou o ar, grave e firme enquanto entrava no meu quarto. Ergui os olhos. Kairos estava diante do espelho, ajeitando a gravata cinza com a mesma precisão quase ritualística que parecia definir cada movimento
Antes que eu pudesse me dar conta, já estávamos em seu quarto, e mesmo que eu não tinha certeza de que aquilo era realmente certo, meu corpo não me deixava hesitar. A noite foi mais do que eu esperava, e quilo era perigoso. No dia seguinte, a primeira coisa que senti ao abrir os olhos foi o peso do silêncio. O quarto estava mergulhado em uma penumbra suave, cortada apenas pela luz pálida da manhã que escapava pelas frestas da cortina. O ar tinha o perfume amadeirado que eu já reconhecia de longe — ele ainda pairava, impregnado não apenas no espaço, mas em mim. Kairos dormia ao meu lado. Seu corpo estava parcialmente coberto pelo lençol branco, o tórax exposto, a respiração ritmada, como se o controle que ele exercia em vigília se dissipasse por instantes no sono. O semblante, ainda assim, não era de completo descanso. Havia uma rigidez na linha da mandíbula, como se até sonhando ele mantivesse a postura de quem nunca baixa a guarda. Permaneci imóvel, observando-o. A lembrança
Quando retornei para dentro do salão, eu caminhei entre as mesas, tentando manter a compostura, mesmo que minha mente ainda ecoasse com as palavras de Kairos momentos antes. Ele estava cercado de alguns assessores e empresários, a postura impecável, o terno cinza perfeitamente alinhado. A gravata prata refletia a luz como se fosse parte da aura impenetrável que ele carregava. Observá-lo em meio àquele círculo de homens e mulheres de influência me fez perceber o quanto sua presença dominava os espaços — ele não apenas participava das conversas, ele as guiava. Respirei fundo, criando coragem, e me aproximei do grupo. Um dos homens, um senhor de cabelos grisalhos penteados para trás, me olhou com um sorriso aberto assim que percebi sua atenção voltar-se para mim. — Quem é essa jovem linda? — perguntou, o olhar curioso, mas cortês, varrendo-me de cima a baixo. Por um instante, hesitei. Mas antes que eu pudesse responder, senti o olhar de Kairos de relance, frio e calculado. Ele ergue
O carro parou suavemente diante da entrada iluminada do hotel. O motorista saiu primeiro para abrir a porta, e o ar da noite tocou minha pele como um aviso de que a atmosfera lá dentro seria ainda mais sufocante.Desci devagar, sentindo o tecido leve do vestido negro deslizar pela minha pele, e ajeitei a fenda discreta que revelava parte da perna a cada movimento. Meus saltos ecoaram no piso de mármore, firmes, enquanto eu erguia o queixo, consciente de que precisava aparentar segurança.Kairos desceu logo em seguida. O terno cinza escuro moldava sua silhueta com perfeição, e o reflexo da gravata prata brilhou sob as luzes da fachada. Ele ajustou o paletó com um gesto simples, mas a naturalidade com que o fazia transbordava autoridade. A presença dele ao meu lado era quase esmagadora.Não trocamos palavras. Apenas caminhamos lado a lado até as portas de vidro do hotel, em um silêncio carregado de tensão. Cada passo parecia marcar um compasso invisível entre nós, e eu não precisava olh
Kairos se virou e saiu, e eu fiquei olhando para o nada tentando assimilar tudo o que aconteceu. O dia seguinte começou envolto em uma atmosfera pesada, como se a noite anterior tivesse deixado marcas invisíveis entre nós dois. Eu não vi Kairos pela manhã, mas a simples ideia de encontrá-lo ainda me fazia lembrar da proximidade sufocante do quase-beijo que compartilham os nossos silêncios. O destino, porém, parecia disposto a testar a minha sanidade. Logo cedo, uma reunião importante havia sido marcada no hotel em que estávamos hospedados. O salão de conferências, amplo e iluminado, parecia frio demais para o calor que eu ainda sentia na memória. Entrei no espaço carregando uma pasta com documentos, forçando a mim mesma a adotar a postura profissional que tanto me protegia. Kairos já estava lá. Sentado à cabeceira da mesa, impecável em sua presença, seu olhar não vacilou quando me viu entrar. Não houve sorriso, nem mesmo o resquício da intensidade da noite anterior. Apenas frieza.
— Talvez você tenha razão — murmurei, tentando controlar a firmeza da minha voz. — Mas não custa absolutamente nada descobrir. Ele se inclinou levemente para frente, e eu percebi o quanto estávamos próximos. Perto demais. A tensão percorria meu corpo, deixando minhas mãos inquietas, meu coração acelerado, meu pensamento em desordem. Eu precisava dizer alguma coisa, qualquer coisa que cortasse aquela linha invisível que parecia nos puxar um para o outro. Seu sorriso surgiu novamente no canto da boca, lento, quase preguiçoso, como se estivesse satisfeito com a minha resposta, mas ainda mais com o efeito que eu não conseguia esconder. — Eu gosto disso. — Seus olhos brilharam de maneira intensa, quase perigosa. — Talvez você seja mais determinada do que eu achei. Meu corpo queimava a cada frase dele. Seus olhos estavam fixos na minha boca, como se não houvesse nada mais digno de atenção no mundo. Foi quando me afastei disfarçadamente, fingindo buscar alguma coisa ao meu lado, mas no
Último capítulo