Após perder o seu pai em uma operação policial fracassada em um morro perigoso do RJ, Lívia Viana decide se vingar de todos os envolvidos na tragédia. Usando o seu talento para a atuação, ela se transforma em Ludmila Brandão, uma jovem que se muda para o morro e se infiltra entre os seus inimigos. Mas o seu plano sofre uma reviravolta quando ela conhece Nanzin, o dono do morro, um homem misterioso e sedutor. Agora, ela terá que escolher entre a vingança e o amor, enquanto tenta manter a sua verdadeira identidade em segredo. Será que ela conseguirá?
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Esta é uma história que tem o morro como pano de fundo, mas se você espera encontrar cenas de extremo abuso, drogas ilícitas, torturas... Este livro NÃO corresponderá às suas expectativas. O foco aqui é sobre o casal e os motivos que os uniram.Juliana Andrade****O início:Desde que perdi a minha mãe aos doze anos, durante uma frustrada tentativa de assalto, somente porque a reconheceram como militar, decidi que quebraria o círculo vicioso do militarismo familiar. A dor de perdê-la na época da minha vida em que eu mais precisei foi tão intensa, que fiquei determinada a nunca permitir que o meu filho sinta algo assim no futuro.Após a morte da minha mãe, optei por morar com os meus avós maternos em Portland - Maine - EUA, e há dois anos, mesmo com um estilo de vida totalmente diferente do que eu vivia lá, voltei a morar no Rio de Janeiro com o meu pai.Hoje é o meu aniversário de 24 anos, os meus avós paternos aproveitaram a sua estadia no Rio e organizaram uma festa para mim. Eu tento ligar pela quinta vez para o meu pai para saber se ele aparecerá, pois ele foi designado para uma operação em uma das favelas mais perigosas do Rio de janeiro, mas mais uma vez ele apenas ignorou a minha ligação.Mesmo frustrada, chego em casa após algumas horas no cabeleireiro e tomo um banho para me arrumar, afinal, ninguém quer chegar atrasada na sua própria festa de aniversário._ Ainda não acredito que uso isto. - Digo enquanto aponto para o vestido vermelho e curto, que uma das minhas melhores amigas compraram para mim._ Está linda, Liv._ Concordo com a Thai. Você brilhará essa noite._ Eu não quero brilhar, Debi. Apenas quero beber e descontrair, para esquecer a frustração de ser, mais uma vez, abandonada pelo meu pai por conta do trabalho._ Calma, daqui a pouco ele aparece. Vamos!Sorrio desanimada e termino de me maquiar. Quando estamos prontas para sair, ouço o meu celular tocando e suspiro aliviada ao ver o nome do meu pai escrito na tela._ Achei que fosse curtir a festa sozinha, Clark Kent. - Digo assim que atendo a ligação. - Quando vai parar de querer salvar o mundo e dar atenção para a sua filha?_ Me desculpa, Liv. A operação acabou agora, e sairemos daqui do morro daqui poucos minutos, devo me atrasar um pouco, mas vai sozinha e encontre a sua avó lá. Prometo não demorar._ Só irei acreditar porque não costuma quebrar as suas promessas. Não demore, a festa começa às 19h e os meus avós já estão lá. Eu te amo, pai. Isso é importante e estou bem animada._ Eu também te amo, Liv. Eu quero aproveitar cada minuto com você, eu sei que estou bem ausente esses dias. Que tal um almoço amanhã para compensar o meu atraso?_ Só se for um bom e velho churrasco._ Considere feito, minha filha. Estamos indo embora. Liv, eu prometo que chego antes de...E enquanto ele fala, ouço dois disparos e a voz dele some. Ouço gritos e, entre algumas palavras incompreensíveis, alguém diz "Bora, bora! Foi na cabeça, bora levar ele para o hospital, porra! " E a ligação se finda.Sinto todo o meu corpo amolecer, seguido de um choro incessante, a sensação de que aconteceu algo muito ruim toma conta de todo o meu corpo. Volto a ligar por diversas vezes enquanto tento inutilmente chegar até o meu carro, mas a Debi e a Thai me impedem de sair com ele. Aproximadamente vinte minutos depois alguém me atende, e me manda ir até o hospital.Leandro, um dos amigos de trabalho mais antigo do meu pai, me abraça assim que eu chego na recepção do hospital, e ele não precisa dizer uma palavra para que eu entenda que o pior aconteceu.Apenas choro e deixo toda a tristeza sair em meio as minhas lágrimas, novamente sinto a dor massacrante de perder alguém, o meu velhinho não conseguirá cumprir a sua última promessa._ Como isso aconteceu? - Digo assim que consigo me acalmar um pouco. - Ele me ligou, disse que a operação havia acabado._ Sim, Liv. Estávamos nos preparando para voltar para o batalhão. Aconteceu tudo muito rápido, não tivemos como reagir. Eu sinto muito._ Essa é a filha do Viana? - Outro colega do meu pai se aproxima e me abraça, provocando novas lágrimas em mim. - Eu sinto muito, o seu pai era como um pai para mim. Me chamo Ulisses Duarte, trabalho com o seu pai há poucos meses._ Obrigada. Com licença, vou ligar para os meus avós e dar a notícia.Em poucos minutos os meus avós aparecem e se juntam a mim no hospital, e choramos por longos minutos até darmos inicio a parte burocrática para a libertação do corpo. Tive que me fazer de forte para não deixar a minha avó ainda pior do que ela já está, e o meu avô, mesmo que tente nos amparar, se mostra tão perdido quanto nós duas.Foi uma das piores noites da minha vida, e o Leandro se prontificou a nos ajudar em tudo, desde o reconhecimento no IML até os preparativos para o funeral.Logo nas primeiras horas da manhã o velório dele se iniciou, amigos da família, amigos do batalhão, alguns familiares... O meu pai era querido por muitas pessoas e tivemos que fazer um rodízio, para que todos pudessem dar o seu último adeus. E antes da hora do almoço, que ele se prontificou em fazer para compensar o atraso, eu pude ver o meu pai pela última vez._ Liv, o que você precisar é só me ligar que eu venho correndo. - Leandro diz assim que estaciona em frente ao meu condomínio._ Eu não sei como te agradecer, Leandro. Em pensar que o certo éramos ter curtido a noite e almoçar juntos hoje e agora... - Suspiro para não chorar novamente. - Ainda tento entender como isso aconteceu._ Iremos vingar o seu pai, Liv. Não se preocupe._ Obrigada. - Abro a porta do carro saio, me apoiando na janela do carro, enquanto ele me encara confuso. - Eu quero a sua ajuda, eu quero encontrar quem fez isso com ele._ Está louca, Liv? Aquele morro é imenso, e é perigoso demais, o seu pai não permitiria._ Eu não me importo que seja perigoso, Leandro. Logo os meus avós voltarão para Minas, e eu não tenho planos para voltar a Portland agora. Ficarei praticamente sozinha no mundo, então realmente não me importo. Eu farei com ou sem a sua ajuda, só preciso que me facilite e me dê um nome._ Liv. - Ele encara o para brisa por alguns segundos, provavelmente pensando nos riscos. - Sabemos que há poucos meses são dois a frente do morro, DG e Nanzin. Qualquer novidade te falo. Lívia, promete que não vai fazer besteira._ Prometo. Mais uma vez, obrigada por tudo. Beijo.Ele me dá um sorriso amarelo e sai, enquanto eu descruzo os meus dedos ao vê-lo partir com o carro. Me desculpe, Leandro. Mas essa é uma promessa que talvez não conseguirei cumprir. Eu vou vingar todos os responsáveis pela morte do meu pai, diretos e indiretos, ou não me chamo Lívia Viana.***5 anos depois ***Muita coisa mudou na vida de todos nesses últimos cinco anos. Namoros, noivados, casamentos, gravidezes, perdas… A Renata engatou um namoro com um juiz alguns meses depois do nosso casamento e realmente se casou dois anos depois do buquê. Embora tenha se mostrado ciumento no início, aos poucos o Renan se acostumou com a ideia e os dois se tornaram grandes amigos. O TH, ou melhor, Thiago, como ele prefere ser chamado agora, conseguiu fazer a barbearia que ele abriu no morro, quando optou sair do movimento, se transformar numa conhecida e movimentada barbearia na zona sul. Há três anos ele abriu outras duas, mas nunca se esqueceu de onde começou e sempre que pode ele está no morro, participando de alguma ação beneficente.A Débora se dedicou ainda mais a sua carreira e aos estudos, e há um pouco mais de dois anos se tornou delegada. Ela e o Thiago continuam mais apaixonados que nunca, e há um ano os dois se casaram. Há alguns dias ela descobriu que está grávida de
Como passar a festa inteira usando um enorme véu e um vestido longo seria impossível, assim que chegamos no local troco o vestido tradicional, e dou lugar a um vestido branco e curto para relembrar a vida como a Ludmila. — Aí sim, Liv! — Jéssica diz animada assim que me vê com o novo vestido. — Pensei que você ficaria a noite inteira usando aquele monte de pano. Agora dá pra gente rebolar até o chão.— A Ludmila não podia faltar, não é? Bora curtir e rebolar a noite toda, amiga!— Assim você acaba comigo, loirinha. — Renan cochicha quando me aproximo dele e sorri maliciosamente. — Se continuar me olhando assim, a lua de mel vai ter que ser adiantada, e ainda temos que curtir a festa do nosso casamento com os nossos amigos antes.— Fazer o que se não te resisto, por mim a gente ia agora mesmo. Bem, então vamos dar atenção aos nossos amigos logo, ou vou ter que te jogar no meu ombro e te sequestrar antes da hora.Passamos boa parte da festa na pista de dança, onde curtimos animadament
Os quatro meses passaram num piscar de olhos, e depois de me dividir entre a maternidade, a empresa e a organização do casamento, tudo com a ajuda do Renan, no fim, graças a deus deu tudo certo. Durante toda a noite não consegui sequer descansar, tamanha a ansiedade com o casamento, e antes que amanhecesse eu já estava de pé. _ Estarei ansioso te esperando no altar. - Renan diz enquanto nos despedimos, antes que eu vá em direção ao salão de beleza. _ Eu estarei ainda mais, meu amor. Nem acredito que é hoje._ Nem eu. - Eu o abraço e ele me beija. - Eu amo você, até mais tarde. Nos despedimos e fui em direção ao salão de beleza, onde encontro as minhas amigas, a Renata e as minhas avós. Logo começamos os nossos preparativos para a cerimônia, mas a todo o momento envio mensagem para a Anna, babá do Noah, e aos poucos vou me acalmando.Optamos por uma cerimônia no final da tarde para podermos aproveitar bastante, antes de irmos para a nossa lua de mel. Após algumas horas entre manicur
Diferente do que eu pensei e ouvi, os primeiros dias do Noah foram os mais tranquilos possíveis. O Noah é a cópia perfeita do Renan, os olhos, a boca, o nariz… E nós dois somos os pais mais babões do mundo.— Ele dormiu? — Renan pergunta quando entro no banheiro e o encontro tomando banho.— Sim, acabou de dormir. — Que tal se juntar ao meu banho pra relaxar antes de dormir? — Acho uma ótima ideia. Eu estava esperando ansiosamente por esse banho.— Então não posso deixar a minha mulher esperar ainda mais tempo. — Ele sorri maliciosamente e começa a ensaboar o meu corpo. — Eu estava pensando em uma coisa, um pouco antes de você chegar. — Eu também, por isso estou aqui. — O seu fogo não diminui, ainda bem, loirinha. Mas não era só isso que eu estava pensando. Acho que já podemos marcar a data do casamento.— Acho ótimo, amor. Tem alguma data específica?— Sim, daqui quatro meses, quando completarmos dois anos de namoro.— Não poderia pensar numa data melhor, eu amei a ideia, mas ach
Os meses foram passando e aos poucos fomos voltando a nossa normalidade, retornando ao que éramos antes do Leandro aparecer nas nossas vidas. Como Ulisses disse, o Renan realmente soube cuidar de tudo muito bem e não houve nada que pudesse incriminá-lo, pois a única pessoa que conseguiu pôr as mãos no dono do morro do Vovô em Casa, preferiu manter a sua fidelidade a mim. Como parte final do seu plano, após três anos morando em Seattle, Renan Galvão retornou ao Brasil e retomou a sua carreira como advogado, deixando o Nanzin para trás de vez.Eu não sabia que isso seria possível, mas durante esses meses tenho sido ainda mais feliz do que já fui um dia, e o Renan esteve ao meu lado em todas as etapas da gravidez, me dando ainda mais certeza de que há males que vem para o bem. — Obrigada por me trazer, amiga. Eu não sei onde o Renan estava com a cabeça em vir só pra trazer um documento e esquecer o documento. — Comento com a Débora assim que subimos a serra. — Acontece, amiga, o bebê
Mesmo com a preocupação com o estado de saúde do Renan, após tomar um banho e jantar, senti o meu corpo pesado e resolvi me deitar um pouco antes de voltar ao hospital. Porém o que era para ser apenas alguns minutos se tornaram horas, e eu só acordei quando senti o sol bater no meu rosto. — Caramba, olha a hora. — Digo para a Débora assim que termino de me arrumar. — Dormi além da conta.— Eu preferi que você descansasse, Lívia, eu sei que a situação não é das melhores, mas você precisava relaxar.— Eu descansei bastante. Nossa, nem ouvi a Renata ligar sete vezes. — Falo enquanto olho o celular. — Primeiro toma o seu café, Liv, depois você retorna a ligação. Débora diz e desvia o olhar de mim, voltando a sua atenção para a tela do celular, e então tomo um café com leite e uma fatia de pão, antes de me levantar da mesa para ligar para a Renata. — Come mais um pouco, amiga. — Não, já estou preocupada com esse mistério, aliás, você disfarça muito mal.— Só quis que você comesse. — D
Último capítulo