Mundo ficciónIniciar sesiónNão me neguei nada que os meus olhos desejaram; não me recusei a dar prazer algum ao meu coração. Este sou eu.
Então alguém me explique porque estou parado em frente a escola dela, observando-a conversar com seu colegas de classe. Ela está usando uma saia plissada preta e uma camisa de manga longa branca, acompanhada de uma gravata preta com um pequeno emblema. Nos pés, ela calça sapatos tipo Mary Jane pretos, com meias brancas. Seu cabelo é longo e encaracolado, preso em tranças que chegam até a cintura. Eu nunca duvidei que ela fosse social, mas não me agrada muito ver o garoto entregando uma carta para ela com um sorriso bobó. E o olhar de surpresa dela. Não gosto. E não gosto ainda, mais pelo facto de eu estar agindo como um pouco perseguidor. Ou bem pior, como um pedófilo desnaturado. Coisa que repugno e não sou. Dou as costas e sigo meu caminho. Já fiquei tempo demais aqui, também eu devo voltar para Moscovo e refrescar a cabeça. Bom, eu saí com essa ideia. Na cama. Até chegar a hora que eu sempre vou buscá-la em sua casa e encontrá-la com seu moletom e cabelos presos e expressão de impaciência e ansiedade. Mal me vê corre para o meu alcance. Então sem aviso prévio me abraça. — O que te deixou chateada, Myshka? — Minha irmã voltou para casa!— diz com a voz emburrada. — E isso não deveria ser bom? Ainda nem é fim de semana e ela voltou mais cedo. — Ela voltou com uma criança de 5 anos. — para na minha frente.— Diz que o filho é dela, e que foi expulsa do lar onde estava. Eu não entendi muito bem a história. Mas, minha mãe está chateada, ninguém sabia que ela tinha um filho. Minha mãe bateu nela. Estão gritando desde que voltei dá escola. O miúdo não para de chorar, e eu não sei o que fazer, nunca tive de cuidar de ninguém. E com essa. Só tem 12 anos. Porque raios deveria cuidar de alguém? — Não faça nada. Elas vão se resolver. São mãe e filha. Não vão brigar para sempre. Certo? — Certo! Coloquei minha mão em seu ombro enquanto a levava para o apartamento. Eu não sinto atração sexual por ela, então deus me livre de ser um pedófilo. Mas, sinto algo maior, um sentimento de territorialidade que não sei justificar. — Passei da sua escola. Vi você recebendo uma carta, Myshka. Seus olhos brilham e olha para mim contente. — Sim, um garoto se declarou para mim. E me pediu em namoro. Um sentimento hostil se apossou de mim. — Rejeite. — Porque? Até minhas colegas tem namoradinhos? Na minha antiga escola era assim. Respirei fundo, para não agir como um idiota. — Myshka, quantos anos você tem? — 12 anos. — Uma menina de 12 anos é o que? — Criança. — Exato. Crianças, não namoram. Crianças não se apaixonam. Essas coisas são para adultos você entende? Só pode namorar quem pode pagar suas próprias contas. Você pode fazer isso? — Não.— diz baixinho. — Logo? — Logo, não posso namorar. — Exatamente. E outra, não basta pagar suas contas. Tem que ter idade, 30 anos no mínimo para namorar. — Tudo isso?— grita.— Minha irmã só tem 22, mas tem filho. Porque eu tenho que namorar com essa idade? — Ponto número 2. Você não é seus coleguinhas, você não é sua irmã, você não é sua mãe. Você é você. Se o João rouba significa que você tem que roubar? — Não. — Então? — Desculpa. — Não quero ouvir mais esse assunto de namoros, OK? Você prefere aquele chorão do seu colega ou casar comigo? Ela sorri timidamente. — Com você. — Obviamente. Sou mais bonito, mais experto e tenho dinheiro. Então cresça para que possamos nos casar ok? — Sim. — Rejeite todos os idiotas que te fizerem pedidos como esse.— ela acena obedientemente. Droga. Eu enlouqueci de vez. Tenho definitivamente de ir embora antes que eu me envergonhe das minhas atitudes. Ficamos por mais duas semanas, para acertar, alguns pontos. O resto ficaria a cargo de nossos subordinados. Que estão controlando a cidade. Eu fiz de tudo para resumir mais dois meses de trabalho em um duas semanas. Por isso hoje, tenho de me despedir da minha, Myshka. — Darina, estou voltando para minha casa e não sei quando voltarei.— disse para ela saiu da escola e levei-a para passear. — Oh...— ela me olhou surpresa.— Você vai embora? O choque é claro em seu olhar e em suas palavras. O gosto amargo também não passa despercebido. — Sim. — Você vai voltar?— sua voz saiu com pesar. — Não sei dizer. Mas se voltar virei te ver. — Oh... Então é um adeus? — Sim. — Ah... ok... Faça boa viagem? — E o meu abraço? Ela se levantou desajeitada da cadeira da lanchonete, me levantei e ela me abraçou. Senti suas lágrimas molharem minha camisa e minha pele, e isso me fez sentir mal comigo mesmo. Mas, tem de ser. Pelo bem dela. — Eu vou sentir sua falta.— disse com voz de choro. — Eu também vou, Myshka. Ela me apertou com seus braços. E ficamos nessa posição por muito tempo antes de se afastar de mim com os olhos vermelhos. — Não se esqueça de mim.— pediu. Mas, eu estou indo embora para me esquecer exatamente de você. — Não se esqueça de tudo que te ensinei. Certo? — Sim. Não esquecerei de nada.— ela voltou a me abraçar. E aquela foi a última vez que a vi o tive contacto sobre a vida dela. Depois que voltei para Moscovo tentei viver minha vida como eu vivia antes de conhecê-la. Na plenitude. Não indiferença. No sarcasmo. E na luxúria.






