Após pegar o marido na cama com sua meia-irmã, Luísa Rossini saiu pelas ruas de Bari quando, de repente, um mafioso misterioso entrou em seu caminho. “Assine o contrato e vou te ajudar a recuperar tudo o que perdeu”, ele falou num tom imperativo. “A partir de hoje, você tocará piano só para mim”, Don Paolo Morano ressaltou com possessividade. Após anos procurando pelo grande amor de sua vida, o mafioso a encontrou, mas Luisa parecia não se lembrar dele. Talvez fosse por isso que ela seguiu em frente e construiu uma família com outro homem. Contudo, Paolo Morano se recusava a deixá-la sair de sua vida outra vez. Será que Luísa aceitará a proposta do mafioso e se envolverá numa sinfonia de amor perigosa?
Ler maisNaquele ano, o homem com traços marcantes completava 22 anos. Paolo Morano possuía uma postura intimidadora quando se empertigou em seus 1,90 de altura. O italiano passou os dedos pelas veias que saltavam em suas têmporas e, em seguida, enterrou nos cabelos, jogando os fios lisos para trás enquanto o tio dirigia e reclamava em seu ouvido.
— Temos que expandir os negócios da nossa família. Você precisa encontrar uma ragazza e… — Já disse que não vou casar! — Interrompeu o tio quando recusou com veemência. Vencido pela teimosia do sobrinho, ele desistiu de aconselhar. — O seu pai não está na cidade, então, temos que ir até Bari. Stefano cuidava dos homens e gerenciava os locais em que dominava. Já Francesco, pai de Paolo, sempre administrou a parte burocrática da organização. Estava sempre em reuniões importantes ou participando de jantares para manter a aliança com pessoas poderosas. Embora o clã fosse mais poderoso e sanguinário da região de Bari, os dois sempre divergiam, não havia um meio-termo entre os irmãos Morano. Paolo e Stefano estavam a caminho de Bari, uma cidade portuária no Mar Adriático e capital da região da Apúlia. Através da janela, Paolo vislumbrou as pizzarias, lojas e empresas nas ruas sinuosas e então bufou. — Anime-se, você vai se divertir. — Stefano comentou com entusiasmo. — Vou ficar lá por uma hora. — Aborrecido, ele murmurou. — Você vai gostar do lugar. — O homem calvo, com alguns fios que ladeavam a cabeça, deu um tapa leve nas costas do sobrinho. — Tem muitas garotas lá, você pode escolher uma ou até mesmo duas. Mesmo relutante, Paolo reconheceu que estava ali para cuidar dos negócios da família. Estava decidido a trocar palavras com alguns dos aliados e depois voltar para casa. Assim que estacionou o Porsche preto em frente ao clube noturno Casa de Afrodite, Stefano abriu a porta e Paolo fez o mesmo. Quando saiu, o homem alto ajustou as mãos nos bolsos do casaco enquanto observava o tio dar ordens a um grupo de homens. Ao entrarem no estabelecimento com uma decoração clássica, ambos foram até o saguão, onde tinha um enorme lustre dourado acima das mesas. Alguns convidados bebiam e conversavam animadamente. A cada passo que dava a caminho da mesa, ele escutava o som do piano e da voz suave cantarolando a canção “Ti amo” de Umberto Tozzi. Foi naquele instante que Paolo fixou os olhos no palco e sentiu-se atraído pela jovem de olhar cintilante como esmeraldas. Alheia ao olhar faminto, Luísa Rossini tocava o piano e cantava com intensidade. Os seus cabelos eram escuros como petróleo e reluziam com a luz que pendia acima dela. A melancolia em seu semblante era visível, era como se ela carregasse o peso de um coração partido. Paolo sentou-se à mesa sem tirar os olhos dela. Cada nota que Luísa tocava naquele piano parecia conectar-se diretamente a ele. — Quer alguma coisa? — Ao perguntar, uma mulher loira interrompeu seus devaneios. — Vinho tinto. — Sem hesitar, Paolo pediu e logo emendou: — Qual o nome da pianista? A garçonete lançou um olhar rápido para o palco. — A Luísa faz apresentações para entreter os clientes, mas não costuma passar a noite com os homens, entende? Intrigado, Paolo apenas sorriu. A ideia de que Luísa poderia ser exclusivamente dele parecia tentadora. Ajustando-se na cadeira, continuou admirando-a. Quando seus olhares finalmente se cruzaram, ele sentiu algo que jamais experimentou.🎶 “In fondo un uomo che non ha freddo nel cuore” (No fundo, um homem que não tem um coração frio).🎶 Ela mantinha a conexão enquanto entoava cada palavra da canção, como se cantasse diretamente para ele. O vinho foi servido por uma das garotas que circulavam pelo local.
— Meu nome é Fiorella. — Inclinando-se para mais perto de Paolo, ela sussurrou ao pé de seu ouvido. — Se precisar de algo, é só chamar.
— Grazie, isso é tudo! — Dispensou-a com um aceno. Fiorella olhou na direção para a qual ele olhava. A sua meia-irmã sempre roubava atenção dos homens, não só por sua formosura, mas pela maneira como parecia encantar a todos quando estava naquele palco tocando o piano. Paolo estava perdido em seus próprios pensamentos, enquanto a pianista continuava a tocar e cantarolar. Todavia, Luísa quebrou a conexão quando encerrou a música, levantou e desapareceu por uma porta nos bastidores. Ele tentou segui-la com o olhar, mas Stefano o interrompeu. — Cadê as garotas novas? — gritou o tio, impaciente. Fiorella jogou os cabelos loiros para trás e subiu ao palco com outras garotas, mas Luísa não retornou. — Escolha, Paolo! — Stefano insistiu. — Onde está a pianista? — perguntou ele, quase sussurrando. — Prefere ouvir música ao invés de se fartar com essas lindas garotas? — O tio zombou. — Quero a pianista — respondeu com firmeza, encarando o tio. A anfitriã conversou rapidamente com um dos seguranças, que, rapidamente, trouxe Luísa pelo braço. A jovem parecia apavorada, com os olhos marejados. — Eu só vim aqui para tocar piano e cantar para os convidados… — A voz embargada de Luísa alegou. — Não é você quem decide isso! — Stefano a advertiu. — Quer mesmo passar a noite com a pianista? — perguntou Stefano, dirigindo-se ao sobrinho. — Ela não parece ser boa de cama. — Ótimo! — Decidido, Paolo exclamou. A garota estagnou no lugar. O olhar de Luísa refletia o pavor. — Vá com ele, Luísa! — A anfitriã do bordel ordenou. — Não foi isso que combinamos! — Luísa protestou. — Paolo é um Morano. Quer mesmo discutir com o herdeiro de um dos clãs da máfia? — Com tom ameaçador, a anfitriã retrucou. Assustada, Luísa encolheu os ombros. Só aceitou aquele trabalho para pagar o aluguel da casa que dividia com sua meia-irmã. Fiorella jurou que seu trabalho era só tocar piano e cantar para entreter a clientela. — Use a pianista como você quiser. — Stefano falou com o sobrinho. — Ela será o seu presente de aniversário. Depois que estiver satisfeito, será a minha vez. Capisci? Franzindo o cenho, Paolo estreitou o olhar, mas não respondeu. Ao invés de concordar com o tio, segurou na mão de Luísa. — Venha comigo, ragazza! — Tocando em seu pulso, ele levou a pianista para um dos quartos.— Não se cansa de se intrometer na minha vida, tio? — Paolo andou até parar na frente dele. — Estou te protegendo. — Não sou mais um garoto bobo. — Mas está parecendo um idiota que se apaixona pela primeira boceta que come… Contraindo o olhar, Paolo examinou as feições do homem com o rosto marcado pelo tempo. Estava claro que Estéfano sabia quem era a pianista. — Queira ou não, o garoto é meu filho! — Encarando o tio, ele salientou. — Mandei fazer o teste de paternidade e o resultado deu positivo. — Estúpido! — Enraivecido, o velho ergueu a voz. Pondo-se de pé, Estéfano fulminava o sobrinho com o olhar. — Por que não usou preservativo? — Não! — Claramente aborrecido, Paolo redarguiu. — O senhor não vai me dar lição de moral. — Vai mesmo assumir essa mulher e essa criança? — Amanhã, vou me reunir com os membros do conselho e falarei sobre o meu filho e o casamento com Luísa. — Está louco. Você sabe que sua avó materna não vai gostar disso… Tocando a veia saltada no pescoç
Luísa ouviu a porta bater com força assim que saiu, e apressou o passo pelo corredor espaçoso do segundo andar. Foi direto para o quarto, onde costumava dormir com o filho, girou a chave na fechadura e verificou se Enzo ainda dormia serenamente. Deitou-se ao lado da criança, esticando o corpo cansado sobre a cama, enquanto lutava contra o sono que ameaçava vencê-la. Fitava a porta, à espera de qualquer movimentação, mas Paolo não apareceu. A exaustão começou a dominar seus sentidos; as pálpebras se tornaram pesadas, descendo lenta e involuntariamente. Ainda era madrugada quando, num sobressalto, notou uma figura sentada na poltrona, envolta pela penumbra do quarto. O vulto observava-a em silêncio. Acreditando que era apenas um fruto de sua imaginação, ela deixou ser vencida pelo cansaço outra vez. Pela manhã, despertou com a claridade atravessando as cortinas e aquecendo-lhe o rosto. Instintivamente, virou-se para a poltrona, que estava vazia. “Foi apenas um sonho” tentou se conve
O ambiente estava saturado pela inquietação de Paolo. O silêncio preenchia o espaço com a expectativa sufocante. — Estou com dor de cabeça. — Ela murmurou, desviando o olhar. — Por quê? — Olhou-a enquanto sentava na cama. Após retirar os sapatos, Paolo começou a desabotoar a camisa. — Venha deitar na cama — ordenou, tirando as calças sem parar de encará-la. Ela se sentia desconfortável, como se tivesse sido colocada numa armadilha invisível da qual não poderia escapar sem causar ainda mais confusão. Se tentasse sair dali aos gritos, não haveria quem lhe estendesse a mão. Estava completamente perdida. Com passos indecisos, começou a caminhar de um lado para o outro do quarto, como se cada movimento pudesse mostrar uma saída. — Vim aqui apenas para conversar sobre essa aproximação repentina com o Charlie — falou ao se virar para ele. — Deite-se! — O comando soou como um estalo seco no ar. — Isso não vai acontecer de novo — afirmou, com os olhos arregalados e os lábios trêmulo
Ajoelhou-se ao lado da cadeira do menino e sorriu de leve, estendendo a mão para tocar no cabelo dele. A expressão endurecida de instantes atrás havia se dissipado, ao menos parcialmente. O gesto denunciava um homem dividido entre o ressentimento que nutria por Luísa e a afeição que começava a cultivar pelo seu filho. Luisa permaneceu em silêncio, observando a cena. Por mais que desejasse manter-se firme, observar o homem ajoelhado ao lado do filho sorridente a desarmou. — Mamãe, o senhor Morano pode ser meu amigo? — perguntou Enzo, voltando-se para ela com entusiasmo. Luisa hesitou, mas depois assentiu com suavidade. — Sim, ele é. — A resposta soou como uma concessão. Contar a verdade era um dilema que exigiria mais do que meras palavras. Paolo ergueu-se com lentidão e afastou-se, sem pronunciar mais nenhuma palavra. Desapareceu pela porta da cozinha, deixando para trás o urso de pelúcia e um silêncio denso, quase solene. Luísa voltou a preparar os sanduíches enquanto os pens
Luísa sentia uma vontade quase incontrolável de pegar o copo de uísque que estava em cima da mesa e tacar nele. No entanto, conteve-se. Conhecia bem o temperamento de Paolo — e temia a resposta de um homem que se deixava dominar tão facilmente pela fúria. Ele era inflexível quanto às próprias regras; moldava o mundo ao seu bel-prazer e exigia obediência incondicional. — Por que está armando todo esse escândalo, Paolo? Já não basta me manter presa nessa casa? — Luísa, todos os meus inimigos e aliados sabem quem é você… — retrucou ele, elevando o tom da voz. — Qualquer um deles pode te usar para me afetar. Não posso te deixar por aí sozinha com meu filho. — Então quer dizer que não posso sair de casa? — — Você não vai a lugar algum enquanto não me der satisfações, Luisa! — vociferou ele, com um gesto brusco. Assim que ela se afastou da cadeira, ele avançou abruptamente, vencendo a distância entre ambos em poucos passos. Parou a centímetros de seu corpo. O cheiro do álcool exalava d
— Fiquei sabendo que seu amigo agrediu um homem em Japigia, é verdade? — indagou, dando um passo adiante. Ela ergueu o queixo, mantendo a compostura.— Primeiro, Carlo é meu amigo desde o internato…Ele riu com escárnio e passou a mão pelos cabelos com impaciência.— Sabe o que me surpreende, Luísa? — Enraivecido, ele interpelou. — Você lembra desse farabutto, mas não consegue ter uma mísera recordação do dia em que nos conhecemos… — enfatizou amargamente.— Por que estava passeando com aquele homem de automóvel por Japigia, Luísa?As vozes intrusivas o atormentaram durante toda a viagem de volta. “Será que ela está fingindo? Talvez esteja trabalhando como espiã desse advogado?” A mente estava agitada com esses pensamentos.Todos naquela casa comentaram sobre o passeio que Luísa deu pela periferia. Era óbvio que um dos seguranças comentou e alguma funcionária da casa escutou e espalhou para os outros.— O que espera que eu faça? — rebateu ela. — Não vou me ajoelhar e implorar por per
Último capítulo