Destinos Trocados

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Máfia
Última actualización: 2025-10-22
Anne Vaz  Recién actualizado
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Resumen
Índice

Paula Caccini sempre soube o peso do sobrenome que carrega. Filha de Don Caterino, um dos homens mais temidos de Nápoles, ela foi criada para servir aos interesses da máfia. Seu destino já estava traçado: casar-se com Mario Moretti, herdeiro da Cosa Nostra, em uma união que selaria o poder das duas maiores organizações criminosas da cidade. Mas no dia do casamento, o impossível acontece. O carro do noivo é emboscado e Mario é brutalmente assassinado em plena luz do dia. O caos toma conta das ruas. Entre rumores de conspiração e sede de vingança, Don Caterino acredita que a emboscada foi um recado para ele. Para evitar uma guerra sangrenta, o pai de Paula propõe o improvável. Que Paula e Don Nicolo Moretti, patriarca da família rival, casem-se. Agora, entre traições, segredos e jogos de poder, Paula se vê presa em uma teia perigosa onde o amor parece impossível e a lealdade pode custar a vida. Mas uma pergunta ecoa como uma sentença: quem matou Mário Moretti? Uma trama de máfia, paixão e segredos que vai prender você até a última página.

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Capítulo 1

01 - O Peso de um Sobrenome

Paula Caccini

O silêncio em nossa casa nunca era apenas silêncio.

Era uma coisa viva, pesada, que se enrolava nos corredores como uma serpente adormecida, pronta a sussurrar segredos e advertências. Eu cresci aprendendo a escutar o que o silêncio dizia. Ele me contava, antes de qualquer um, que meu pai estava de mau-humor, os passos eram mais curtos e secos no mármore.

Ele me avisava quando as visitas não eram bem-vindas, a pausa era longa demais antes do tilintar da campainha ser atendida. E, principalmente, ele carregava o eco da voz da minha mãe, um fantasma de perfume de jasmim e melancolia que nunca nos deixou completamente.

Em Nápoles, sob o sol implacável que tanto ilumina a beleza quanto expõe a sujeira, meu sobrenome é uma sentença. Não se pronuncia Caccini; sussurra-se, com um misto de respeito e medo. É meu pai, Don Caterino, a encarnação viva desse medo. Para o mundo, meu pai é um homem de negócios, um filantropo que financia a reconstrução de igrejas barrocas.

Para mim, a figura imponente que me ensinou, antes das tabuadas, que a honra da família é a única lei, e que nossa vida, a minha e a do meu irmão Vicenzo, nunca nos pertenceu de verdade.

Pertence a essa entidade abstrata e voraz chamada Família.

Lembro-me de ter uns seis anos, sentada no topo da escada de caracol que levava aos nossos quartos, estava espiando a sala de visitas. Meu pai recebia um homem cujas mãos tremiam tanto que o café na xícara de porcelana fina chocalhava, criando pequenos círculos de tão grande era o seu terror. Eu não entendia as palavras, elas eram baixas e cortantes, mas entendia a linguagem universal do poder.

O encolher dos ombros do homem, a voz firme e calma de meu pai, o modo como ele ajustou o anel de selar no dedo mindinho em um movimento tão suave, tão final. Aquele homem saiu da sala mais leve, agradecendo que as suas dívidas foram perdoadas ou transformadas em outra coisa, uma coisa que ele teria que pagar pelo resto da vida.

Aprendi ali que o medo é uma moeda mais forte que o euro.

Minha mãe, Isabella, tentou, enquanto pôde, ser um amortecedor entre o mundo brutal dos homens e o meu. Morreu quando eu tinha doze anos, um câncer silencioso que a consumiu sem fazer alarde, como tudo em nossa esfera.

Foi ela quem me deu pequenas doses de beleza pura, não manchada por transações ou lealdades compulsórias. Me ensinou a tocar piano, não canções napolitanas, mas Debussy e Chopin. “A música, minha pequena Paula”, ela dizia, com os olhos perdidos na janela que dava para o mar, “é a única coisa que é só nossa. Eles não podem comprá-la, nem a vender, nem a controlar. Ela simplesmente é.”

Ela partiu, levando consigo o pouco de suavidade que existia nestas paredes espessas. O silêncio da casa ficou mais profundo, mais carregado de coisas não ditas.

Vicenzo, meu irmão mais velho, mergulhou de cabeça no universo do nosso pai, ansioso para provar seu valor, para carregar o fardo do sobrenome com orgulho. Enquanto eu, fiquei no limbo, uma mulher crescendo num reino de homens, meu valor calculado não pela minha inteligência ou pelo meu caráter, mas pela minha utilidade futura.

Eu era um trunfo, um bem a ser guardado a sete chaves e negociado no momento certo.

E o momento certo chegou hoje.

A refeição da noite foi tensa. O ragù cozinhou por seis horas, mas o sabor se perdeu na minha boca, estava insosso diante da notícia que eu sabia que estava por vir. Meu pai mastigava devagar, metodicamente, seus olhos escaneando a mesa como um estrategista avaliando um campo de batalha. Vicenzo evitava meu olhar, focando no vinho tinto como se nele estivesse a soVicenzoo para algum problema complexo.

— Nicolo Moretti veio me visitar hoje — disse meu pai, pousando os talheres.

A declaração ecoou na sala de jantar como um disparo.

Os Moretti. Outro sobrenome pesado, do outro lado da cidade. Aliados, às vezes. E concorrentes, na sua grande maioria. Uma dinastia que queria se expandir, consolidar poder. Eu senti um nó de gelo se formar no meu estômago.

— Ele propôs uma… fusão — continuou-o, a palavra soando obscena e comercial. — Uma aliança que traria estabilidade para todos. Que acabaria com décadas de desconfiança estúpida.

Vicenzo finalmente olhou para mim. Havia uma pontinha de pena em seus olhos, rapidamente suplantada pela resignação. Ele já sabia.

Todos sabiam, menos eu, até aquele exato segundo.

— Que tipo de fusão, pai? — perguntei, minha voz soando estranhamente calma, como se pertencesse a outra pessoa.

Ele me fitou, sem hesitação, sem emoção. Era um negócio.

— Seu filho, Mario. Ele acha que vocês fariam um bom casal. E eu concordo.

O mundo não desabou. Não houve raios nem trovões. Somente o tilintar da faca de Vicenzo contra o prato. A fusão é o mesmo que dizer a palavra casamento.

Mario Moretti. Conhecia-o de vista, de eventos sociais onde nós, os filhos da realeza do submundo, éramos exibidos como troféus bem-vestidos. Ele era bonito, sim, com a beleza polida e vazia de um homem que nunca teve que duvidar de seu lugar no mundo. Mas seus olhos eram frios, calculistas, como exatamente os do meu pai.

— Mario Moretti? — consegui articular. — Pai, ele é…

— Ele é um bom partido — interrompeu-me, sua voz deixando claro que a discussão não era bem-vinda. — Vai herdar o império do pai. É educado e discreto. A união das nossas famílias será benéfica para todos e trará paz.

Paz. A palavra mais horrenda que já ouvi.

Paz para eles e para mim seria uma guerra perpétua, travada dentro de quatro paredes ainda mais douradas e opressoras do que estas.

— E o que eu quero? — A pergunta saiu num sussurro, uma heresia perigosa.

Meu pai inclinou a cabeça, como um cientista, observando uma cobaia comportando-se de forma inesperada.

— Você quer o que é melhor para esta família, Paula — disse, e cada palavra era uma pedra assentando meu destino. — Você é uma Caccini. Seu sangue, seu nome, sua vida, pertencem a esta casa. Este casamento é o que é melhor. A cerimônia será em três meses. Os detalhes já estão sendo acertados.

Ele retomou a refeição e o assunto foi encerrado. Vicenzo baixou a cabeça. Olhei para o meu prato, a comida agora me dando náuseas. A sala estava silenciosa novamente, mas desta vez o silêncio gritava. Gritava o fim de todas as minhas pequenas esperanças secretas, dos devaneios tolos de estudar música em Milão, de ter uma vida comum, de amar alguém por escolha e não por obrigação.

Após o jantar, subi para meu quarto, meus passos pesados sobre os degraus de mármore que eu escalava em segredo quando criança. Fechei a porta atrás de mim e encostei nela, como se pudesse barrar o futuro do outro lado. Meu quarto era meu único refúgio, cheio de livros e partituras, o último território onde Paula, apenas a Paula, ainda existia. E agora, até isso me era tirado.

Meus olhos pousaram na pequena caixa de joias no meu criado-mudo. Abri-a com dedos trêmulos. Lá, no fundo, envolto em veludo negro, estava o único pedaço tangível que me restava dela: um broche de prata com uma pérola solitária. Não era a joia mais valiosa que ela tinha, mas era a sua preferida. Ela era simples, elegante e não ostentava poder, apenas beleza.

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01 - O Peso de um Sobrenome
02 - A Resignação
03 - A União de Sangue
04 - A Noiva das Cinzas
05 - A Geada da Fúria
06 - Olhos de Âmbar e Cinzas
07 - Nicolo Moretti
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