Marina Salles, uma brasileira que viajou para Roma com um único objetivo: esquecer o ex e recomeçar. Com duas amigas e zero expectativas, ela queria apenas curtir a cidade eterna, afogar mágoas em vinho barato e fingir que seu coração não estava em frangalhos. E para isso ela tinha apenas dois meses, o tempo que ficariam curtindo a viagem antes de voltar para o Brasil. Mas tudo muda quando elas invadem uma festa luxuosa, onde ninguém além delas parece ser normal. É lá que Marina cruza o olhar com Dante Bianchi, um mafioso tão enigmático quanto perigoso, dono de um charme que parece carregado de segredos. E de sangue. Ele se interessa por ela no primeiro instante. Ela o repele no primeiro impulso. Mas o destino, teimoso e insano, insiste em cruzar seus caminhos pelas ruas de Roma. O que começa como uma atração mal explicada vira algo muito maior. E quando Marina percebe, já está envolvida demais com um mundo que ela nem sabia que existia. Um mundo onde confiança é luxo, amor é fraqueza, e uma decisão errada pode custar tudo. Ela foi a Roma para se reencontrar. Mas pode acabar se perdendo exatamente onde mais se sente viva
Ler maisMariana Salles
Normalmente, quando levam um pé na bunda, muitas mulheres se trancam no quarto, afogam-se em sorvete e lágrimas, e se afundam naquele looping de perguntas torturantes: O que eu fiz de errado? Será que não fui o suficiente? Onde foi que me perdi? Comigo? Bom... não foi bem assim. Alicia e Fernanda, minhas melhores amigas e parceiras de caos, não deixaram nem o luto amoroso bater direito na porta. Em menos de vinte e quatro horas, já tinham decidido meu destino — e comprado três passagens para Roma. Sim, Roma. Com R maiúsculo, sotaque carregado e uma promessa de vinho barato e vistas de tirar o fôlego. Dois dias após o fim do meu relacionamento com Felipe, lá estava eu: empurrada emocionalmente (e quase fisicamente) a arrumar minhas malas para embarcar rumo à Itália em poucas horas. Sempre sonhei em conhecer aquele país. Meus bisavós eram italianos, mas as raízes europeias foram se diluindo nas gerações seguintes — e isso, sinceramente, só tornou minha família mais incrível. Meu tio Henrique casou com Carol, uma mulher deslumbrante, de pele negra retinta e cachos volumosos de causar inveja até em propaganda de creme. Juntos, tiveram filhos lindos com traços misturados. Meu pai, por sua vez, se apaixonou por minha mãe — descendente de povos originários — e daí nasceram eu e meu irmão: um combo perfeito de pele morena, olhos escuros e identidade plural. Essa mistura sempre foi o que eu mais amei na nossa família. Brasileira raiz. Sem rótulo, sem molde. Só essência. — Mari, não esquece os biquínis! — a voz da Alicia pipocou no viva-voz, me arrancando dos devaneios familiares. Estávamos em uma chamada de vídeo tripla, cada uma empacotando roupas e emoções ao mesmo tempo. A bagunça era real, mas a empolgação começava a tomar conta. — Já estão aqui — respondi, apontando para a parte da mala que já abrigava biquínis e lingeries. — Tá tudo junto, organização nível Mari. Alicia fez sinal de positivo e voltou a dobrar alguma roupa fora de foco. Eu respirei fundo e voltei à missão: transformar o caos emocional em uma mala pronta para o verão europeu. Confesso que ainda não estou na minha melhor fase. Término recente, orgulho ferido, coração meio amassado... Mas viajar com as minhas melhores amigas parecia o antídoto perfeito. A duração? Ainda era um mistério. Elas garantiram que seria rápido — no máximo duas semanas, já que todas temos compromissos e boletos esperando no Brasil. Afinal, somos advogadas. Três mulheres que se conhecem desde a infância e que, por alguma conspiração do destino, decidiram seguir o mesmo caminho: cursar Direito. Cada uma com sua motivação. Alicia sempre sonhou em ser juíza, mas no momento trabalha com Direito Empresarial. Fernanda, com alma de defensora, escolheu a área trabalhista. E eu... fui direto para o lado sombrio: Penal. Talvez por gostar de entender o que leva alguém a cruzar a linha. Ou talvez porque, no fundo, sempre tive essa queda pelo que é intenso demais. Depois da formatura, unimos forças, abrimos nosso próprio escritório e desde então, sobrevivemos entre audiências, processos e cafés fortes demais. Mas agora, pela primeira vez em anos, o plano não incluía trabalho, clientes ou prazos. Incluía vinho, pizza... e a esperança silenciosa de que Roma soubesse, melhor do que eu, como curar um coração partido. (...) O saguão do aeroporto estava uma mistura de vozes apressadas, rodas de malas girando em falso e anúncios repetitivos que ninguém realmente ouvia. A tela de embarques piscava com nomes de cidades que pareciam prometer recomeços — e entre elas, lá estava o nosso destino: Roma – 22h45 – Embarque Imediato. — Ok, é oficial. A gente tá mesmo indo pra Itália — Fernanda disse com um sorriso nervoso, ajeitando os óculos escuros no topo da cabeça como se fosse disfarce. — E eu ainda tô esperando alguém acordar e dizer que é pegadinha — Alicia resmungou, empurrando a mala como se estivesse fugindo de algo. — Eu nunca fui tão impulsiva na minha vida, socorro. — Isso porque não foi você quem levou um fora do nada — falei, tentando sorrir, mas ainda com aquele gosto meio azedo de quem não teve tempo nem de processar o fim. Elas me olharam com aquela expressão de “a gente sabe”, mas nenhuma disse nada. Foi o melhor silêncio da noite. Passamos pela segurança trocando piadas nervosas e tentando parecer mais viajadas do que realmente éramos. Quando a aeronave apareceu pela janela de vidro, toda imponente sob as luzes da pista, senti o estômago revirar — e pela primeira vez desde que tudo desabou, tive a sensação de que algo novo estava prestes a começar. Nos acomodamos nos nossos assentos lado a lado, e assim que o avião começou a taxiá, Alicia já estava vasculhando o catálogo de filmes do sistema de bordo, Fernanda preparava um colchonete improvisado com o cachecol, e eu… eu só olhava pela janelinha. O reflexo do meu rosto meio apagado pelo vidro me fez encarar de frente o que eu mais evitava: eu estava triste. Cansada. Machucada. Mas também… pronta. Pronta pra deixar Felipe no retrovisor. Pronta pra permitir que Roma me bagunçasse, me surpreendesse — e quem sabe, no meio disso tudo, me reconstruísse. — Se eu pegar um italiano, vocês prometem que não vão me julgar? — Fernanda perguntou do nada, interrompendo meus pensamentos com o tom mais sério do mundo. — Só se ele for bonito, educado e trouxer vinho. — Alicia rebateu, já rindo. — Ou seja… impossível esse combo. — Eu murmurei, arrancando gargalhadas das duas. O avião decolou levando nossos corpos e, com sorte, deixando pra trás as mágoas. Naquela noite, a cidade eterna nos esperava. E a gente nem imaginava que a vida que estávamos fugindo ia nos encontrar justamente lá, entre ruínas antigas e corações perigosamente novos. Resolvi deixar os pensamentos de lado e me entreguei ao sono, me permitindo dormir pelo restante da viagem. Foi então, que senti alguém me cutucar, ao abrir lentamente os olhos, vi que Fernanda estava me chamando. — Chegamos!! O avião tocou o solo romano com um leve tranco e, no mesmo segundo, Alicia começou a bater palmas discretas, como se quisesse comemorar, mas também evitar o olhar de julgamento de um europeu aleatório. — Chegamos, caralhö! — ela sussurrou pra gente, empolgada, enquanto Fernanda já puxava o celular pra registrar tudo. O aeroporto de Fiumicino era movimentado, imenso, e o italiano ao nosso redor parecia uma trilha sonora de filme. Tudo era novo, tudo parecia bonito — até a placa da alfândega. — Tá tudo bem se eu me emocionar só de ver um carrinho de bagagem com a bandeira da Itália? — perguntei, rindo fraco enquanto empurrava minha mala. — Tá tudo bem se eu me emocionar só de não estar mais no Brasil? — Fernanda respondeu, bocejando alto. A imigração foi mais tranquila do que esperávamos. Quando o carimbo bateu no meu passaporte, eu juro que senti um clique interno, como se o universo dissesse “agora vai”. Na saída, o vento noturno de Roma nos recebeu com um abraço fresco e o aroma sutil de café vindo de algum lugar — ou talvez fosse só imaginação, porque estávamos todas sonhando acordadas. Pegamos um táxi e demos o endereço do nosso Airbnb, um apartamento charmoso perto de Trastevere. No caminho, passamos por ruas estreitas, janelas com varais cheios de roupas penduradas, scooters ziguezagueando como se o trânsito fosse um esporte radical, e igrejas antigas iluminadas como cartões-postais. — Isso aqui é um absurdo de lindo — Alicia murmurou, com a cara grudada no vidro. — A gente devia casar com a Itália — Fernanda completou. — Três brasileiras, um país... dá uma série. Chegamos ao apê já quase amanhecendo. Era pequeno, mas acolhedor, com uma varanda minúscula e uma vista ridícula de tão poética. Largamos as malas como se tivessem mil quilos e nos jogamos no sofá-cama, na cama do quarto, em almofadas espalhadas pelo chão. — Vamos dormir umas horinhas e depois sair? — perguntei, com a voz já sumindo. — Só se antes a gente brindar com esse vinho barato aqui — Alicia disse, tirando uma garrafa da mala como se fosse um tesouro contrabandeado. — A mulher trouxe vinho na mala! — Fernanda riu. — Você é minha heroína. Brindamos. Por nós. Pelo fim. Pelo recomeço.Marina SallesMais um dia de turismo começava a se desenrolar, e o destino da vez era Nemi, uma vila pequenina e encantadora, escondida nas colinas da região de Castelli Romani, a poucos quilômetros de Roma. Conhecida pelo seu lago de águas escuras e calmas, que refletiam o céu como um espelho mágico, e pelas paisagens quase cinematográficas, Nemi parecia ter saído diretamente de um conto de fadas italiano. Eu e as meninas estávamos empolgadas desde a noite anterior — talvez por querermos distrair a mente, ou talvez só porque já havíamos ouvido que a vila era charmosa e repleta de lojinhas, morangos doces e vistas de tirar o fôlego.O sol ainda estava subindo no céu quando deixamos o hotel. Eu, Fernanda e Alicia estávamos prontas, com roupas leves, óculos de sol, garrafinhas de água e aquele espírito de exploradoras de Instagram. Chegamos na calçada da entrada do hotel e não demorou muito para vermos o sorriso inconfundível de Naiara, nossa guia — uma brasileira cheia de energia, com
Marina SallesAssim que abri a porta do quarto do hotel, fui engolida por duas criaturas sedentas por fofoca. Alícia e Fernanda praticamente me atacaram com gritos e olhos brilhando como se tivessem visto um unicórnio.— Conta TUDO! — Alícia gritou, quase me sacudindo.— Queremos DETALHES ESCABROSOS! — Fernanda completou, pulando na cama como uma criança em véspera de Natal.Dei risada, jogando minha bolsa no canto e me jogando entre elas.— Calma, psicopatas, deixa eu respirar primeiro.— Você tá brilhando, Marina — Alícia disse, semicerrando os olhos, desconfiada. — Isso é brilho pós-sexø de qualidade, né? Confessa.— Eu tô vendo até uma aura diferente ao seu redor — Fernanda provocou, dramática. — Tipo... iluminação divina.— Idiotäs — falei, rindo, mas meu sorriso me entregava fácil.Me ajeitei na cama, respirando fundo como quem vai contar um segredo de Estado.— Fomos jantar, ele me levou num restaurante à beira do Tibre, bem reservado... mas a tensão entre a gente já tava explo
Dante Bianchi A porta do galpão rangeu como sempre, denunciando minha chegada antes mesmo dos meus passos ecoarem no concreto. A luz do lugar era baixa, proposital, e o cheiro de óleo, fumaça e pólvora pairava no ar como um lembrete constante de que ali, ninguém era santo. Vi Donatello e Enrico encostados na bancada de metal ao fundo, com cara de quem já estava de saco cheio de esperar. A lembrança da reunião agendada pra 10h bateu como um tapa seco na cara. Atrasado. Dez minutos. Quase um crime, vindo de mim. — Olha só... — Enrico foi o primeiro a disparar, com aquele sorrisinho escroto no rosto — Primeira vez que você se atrasa na vida, porrä. O que rolou? Morreu e voltou? Engoli a risada que ameaçou subir. O motivo do atraso estava marcado no meu corpo como arranhões na pele. Marina. Espalhada na minha cama, no meu lençol, no meu maldito pensamento. Mas isso não era algo que eu ia dizer. — Tô aqui agora. Vamos começar — respondi, sem dar margem. Donatello arqueou uma sobranc
Marina Salles A luz bateu direto na minha cara, invadindo meu sono sem a menor cerimônia. Pisquei algumas vezes, meio grogue, tentando entender onde diabos eu estava… até sentir o peso quente e confortável sobre minha barriga. O braço de Dante. A memória da noite passada veio como um flash: pele, suor, gemidös e ele. Só ele. Abri os olhos de vez, ajustando a visão à claridade que entrava pela fresta malfechada da cortina. O quarto ainda estava meio na penumbra, mas o raio de sol teimava em iluminar justo a cama — como se a porrä do universo quisesse deixar registrado o que aconteceu ali. Dante dormia ao meu lado, braço jogado em cima de mim, respiração lenta, expressão serena. Era quase irreal ver aquele homem — que normalmente parece pronto pra explodir o mundo — dormindo tão calmo, tão em paz. Aposto que era só dormindo mesmo que ele ficava assim, porque acordado… ele era uma bomba-relógio com pernas. Estiquei o braço até a cabeceira e peguei meu celular: 08:00 da manhã
Marina Salles Meu corpo implorava, implorava de um jeito humilhante, carente, desesperado. Eu queria Dante dentro de mim. Queria sentir cada maldito centímetro dele me possuindo, invadindo, quebrando qualquer resto de sanidade que ainda me restava. Mas o desgraçado parecia determinado a me deixar à beira do colapso. E não de qualquer jeito — ele queria me ver suplicando.A mão dele desceu de novo, dessa vez sem aviso, sem aviso nenhum. Dois dedos entraram de uma vez, fundo, e o gemidö que escapou da minha garganta foi puro instinto. Meus quadris se ergueram, minhas unhas agarraram o lençol como se eu estivesse tentando me ancorar, mas não havia chão ali. Só havia Dante.— Isso... — ele rosnou junto ao meu ouvido — Grita meu nome, Marina. Me mostra o quanto precisa de mim.— Dante... porrå... — minha voz saiu falha, embargada, tomada por um präzer que beirava o insuportável.Ele acelerou. Os dedos se moviam com uma precisão cruel, certeira, como se ele já conhecesse meu corpo há anos.
Dante Bianchi Quando o portão da minha casa se abriu, um arrepio subiu pela minha espinha. Aquela sensação de posse, de saber que logo teria Marina só pra mim... me consumia.Dirigi até a entrada e estacionei em frente à porta. Saí do carro com pressa, contido apenas pela fina linha da sanidade que ainda me restava. Abri a porta do lado dela. Ela ia descer com calma, mas eu já estava à beira do colapso. Quase virei aquela mulher de costas ali mesmo, contra a lataria, pra mostrar o quanto eu a queria. Mas me contive — por pouco.Deixei que passasse na minha frente. A visão das curvas dela sob aquele vestido me torturava. Ela sabia. Ela fazia de propósito.Destranquei a casa. Assim que entramos, ela começou a dizer algo — mas não deu tempo.Segurei firme sua cintura e a levantei no colo. Ela deu um gritinho surpreso, batendo levemente em meu peito.— Dante! Me coloca no chão!— Eu sei que você sabe andar — falei, subindo os degraus com ela nos braços — mas aproveita, porque daqui a pou
Último capítulo