Aurora nunca imaginou que sua vida desmoronaria tão rápido. Quando Enrico Mancini, um implacável magnata do mundo dos cassinos e aliado da máfia italiana, aparece em sua porta com uma proposta cruel, ela sabe que não tem saída. Seu pai, doente e endividado, pode acabar atrás das grades se ela não aceitar ser amante de um homem que exala poder e perigo. Determinada a não se submeter sem resistência, Aurora transforma cada momento ao lado dele em um jogo de constrangimento e desafio, forçando Enrico a provar o quanto realmente a quer ali. Mas o que ela não sabe é que ele nunca teve intenção de possuí-la, ela é apenas uma peça em seu plano de vingança contra o homem que, anos atrás, quase destruiu sua honra. O que começa como um embate de orgulho e ressentimento logo se torna um duelo perigoso entre desejo e ódio. Aurora descobre que por trás da frieza de Enrico há feridas profundas, enquanto ele percebe que sua suposta peça no jogo pode ser sua ruína. Quando a linha entre vingança e paixão se torna turva, quem sairá vencedor? E, no final, quem realmente será o prisioneiro dessa trama?
Leer másEnrico se recostou na cadeira de couro escuro do escritório, iluminado apenas pela luz suave que vinha da janela, criando um ambiente sombrio, refletindo o clima da conversa. Seu olhar estava fixo nos papéis que Lucius havia colocado sobre a mesa, como se já estivesse antevendo a vingança se concretizando diante de seus olhos. Ele esfregou as mãos, uma sensação de prazer quase palpável nas pontas dos dedos.
Lucius, por outro lado, parecia cada vez mais desconfortável, os óculos escorregando sobre o nariz enquanto ele tentava não demonstrar a crescente indignação. Sabia o quanto Enrico era capaz de fazer para atingir seus objetivos, mas aquilo ia além de qualquer coisa que ele já havia imaginado. O tom de voz de Enrico era calmo, mas havia um gelo nas palavras que deixava claro que a decisão estava tomada. No fundo, Lucius também sabia que seria tolo em tentar dissuadi-lo, mas o peso da ética ainda o incomodava.
— Eu entendo que você esteja arrasado por tudo o que aconteceu, Enrico. Mas há limites. De novo, você vai se rebaixar a isso? Usar a filha do Carcamano... Isso é demais, até para você.
Enrico o encarou com um sorriso cruel, seus olhos brilhando com uma mistura de fúria contida e prazer antecipado.
— Você não entende, Lucius. Eu não estou apenas vingando o meu nome ou o meu dinheiro. Estou vingando a honra da nossa família, da nossa organização. Carcamano foi um traidor. Ele destruiu anos de trabalho, e pior, ele nos fez parecer fracos na frente de todos os outros. Isso vai ser um exemplo para qualquer um que pense em cruzar nosso caminho.
Lucius respirou fundo, tentando manter a compostura. Ele sabia como Enrico era quando estava determinado a algo, mas a frieza e o desdém em sua voz agora o chocavam. Ele não era ingênuo, sabia que Enrico não se importava com moralidades, mas esse nível de crueldade era algo que ele não havia imaginado.
— Mas... a garota, Enrico... você realmente acha que ela merece isso? Ela... não tem nada a ver com o que aconteceu. Está apenas no meio de um jogo que ela nem sequer conhece.
Enrico deu uma risada baixa, quase desdenhosa, antes de se inclinar para frente, seus olhos fixando-se em Lucius com um brilho perturbador.
— Ela vai aprender do jeito mais difícil, Lucius. E ele também vai aprender. Quando eu terminar com ela, Carcamano vai se arrastar até o fim de seus dias, consumido pela vergonha e pela impotência. Ele vai saber o que é perder tudo que ele considera valioso.
Lucius balançou a cabeça, mais frustrado com a falta de arrependimento de Enrico do que com a ideia em si. Ele sabia que o cliente nunca iria recuar, mas, mesmo assim, não podia deixar de expressar sua preocupação.
— Eu não posso te ajudar com isso, Enrico. Meu papel é redigir contratos, não manipular vidas. Eu redigi o contrato que você pediu, mas, sinceramente, acho que você está indo longe demais. O que você está fazendo não é mais sobre justiça... é sobre destruir uma vida por um prazer pessoal.
Enrico levantou-se, seus olhos agora mais sombrios do que nunca, como se cada palavra de Lucius fosse uma provocação a mais que ele tinha que desmentir.
— Você pode me dar conselhos morais, Lucius, mas sabe o que é mais importante? O poder. O poder de controlar as pessoas, de fazer elas se submeterem às suas vontades. Você me ajudou até aqui, mas é hora de parar de questionar o que está em jogo. Você me conhece. Eu não sou de perder, e essa... essa é a chance que eu esperei por tanto tempo. Agora, me ajude a fechar esse maldito acordo. Ou eu te deixo de lado também.
O silêncio que se seguiu foi pesado. Lucius olhou para o contrato na mesa, uma sensação de desconforto invadindo-lhe as entranhas. Ele sabia que Enrico estava certo, no fundo: ele era um homem que nunca havia perdido, e quem ousasse desafiá-lo pagaria o preço. Mas, ainda assim, a ideia de usar aquela jovem mulher como peça de vingança o repelia. Ele não sabia mais como se sentia em relação à sua amizade com Enrico, mas uma coisa estava clara: estava sendo arrastado para um abismo moral do qual não conseguiria sair.
Finalmente, Lucius suspirou, recolhendo os papéis com uma resignação silenciosa. Ele sabia que, uma vez assinado o contrato, não haveria como voltar atrás. Ele passaria a ser cúmplice de algo que não conseguia compreender completamente, mas que sabia que o deixaria marcado para sempre.
— Você vai acabar se arrependendo disso, Enrico.
Enrico, já voltando a caminhar em direção à porta, olhou por cima do ombro, com aquele sorriso de quem já sabe que venceu.
— Arrependido? Não, Lucius. Vou dormir tranquilo, sabendo que fiz o que precisava fazer. O que realmente importa é que Carcamano vai morrer sabendo que ele perdeu tudo. E você... você vai fazer o que for preciso para que isso aconteça.
Lucius não respondeu, apenas observou Enrico sair pela porta, com a sensação de que estava perdendo algo mais do que sua moralidade naquele momento.
O sol se derramava preguiçoso pelas janelas amplas da mansão. Aquela casa que era antes fria, feita de pedra, silêncio e mágoas, agora transbordava vida. Risos infantis ecoavam pelos corredores. Pequenos passos descalços corriam apressados pelo chão de madeira, deixando um rastro de alegria que nem o tempo seria capaz de apagar.— Mamããããeee! Olha eu correndo rápido!Aurora mal teve tempo de responder. O garotinho de cabelos escuros e olhos idênticos aos do pai, passou por ela como um furacãozinho alegre, com as bochechas coradas e os pés ligeiros. Aurora sorriu e seu olhar desceu instintivamente para a barriga arredondada, que ela acariciava com carinho e paz. Outro milagre, outro pedacinho deles crescendo ali. Aurora não sabia exatamente quando aquilo tinha virado rotina, talvez um dia ou dois depois dela ter levado ele até o cemitério, ao túmulo de Teodoro. Talvez Enrico tivesse precisado de um tempo para assimilar tudo, ou apenas viver seu luto particular. Ele aparecia, simples assim. Sem avisar, sem pedir licença. Como se o direito de estar ali tivesse nascido com ele. Como se o passado, tão cruel, tão cheio de lacunas, lhe desse algum salvo-conduto para entrar na sua casa e bagunçar de novo o que ela tanto lutou para manter no lugar.Naquele fim de tarde, a chuva começava a engrossar no céu acinzentado, e ela suspirava frente ao fogão, terminando uma sopa qualquer. Simples e prática, do jeito que a solidão a ensinou a viver. O barulho do motor do carro dele já não a assustava mais, mas ainda a faziaCapítulo 101
Ele não planejou estar ali, não planejou nada, na verdade. Só dirigiu feito um condenado pelas ruas escuras, com o maxilar travado e o sangue fervendo, até parar em frente àquela casa simples que o atormentava mais do que qualquer lembrança perdida. O nome dela pesava no peito como uma maldição e um alívio ao mesmo tempo.Ainda estava envenenado pela cena do dia, ela sorrindo para outro homem. Pior: um homem que parecia conhecê-la de verdade. Que a tocava com intimidade, que fazia ela rir daquele jeito baixo, sincero, que ele mesmo já vira em outras vidas, ou pelo menos era o que o corpo dele gritava, mesmo que a mente negasse. Ele desceu do carro decidido a jogar mais veneno naquela guerra silenciosa. Mas o que encontrou o desmontou por dentro, a porta da frente estava apenas encostada. Luzes apagadas e silêncio.
O motor do carro ainda ronronava baixo, parado na esquina oposta ao pequeno mercadinho. Enrico nem percebia o tempo passar, estava ali de novo, pela terceira noite seguida observando ela.Ela saiu pela porta de vidro empurrando com o ombro, equilibrando uma sacola que parecia mais pesada do que o corpo dela suportava. Enrico cerrou os olhos, não era esse tipo de mulher que ele conhecia. Não era esse tipo de mulher que se aproximava dele. Cadê o salto caro? Cadê o perfume forte? Cadê o teatro de interesse que ele estava pronto para odiar? Nada.Aurora ajeitava o casaco puído sobre os ombros. Parava para cumprimentar o velho da banca de jornal. Parava para ajudar uma senhora que derrubava as moedas na calçada. Sorria com o canto da boca, sorria como se ninguém estivesse vendo.
Aurora jogou as chaves sobre o aparador e apoiou-se na parede da sala, soltando um suspiro longo. Ainda conseguia vê-lo.A figura dele saindo da loja do mesmo jeito que entrou: abrupto, intenso, como se o mundo lá fora não existisse. Ela fechou os olhos, passando as mãos pelo rosto. Por que ele tinha vindo? Por que agora?A casa pequena parecia ainda menor com as lembranças daquele dia latejando por todos os cantos. Cada detalhe daquele encontro inesperado ficava mais vivo dentro dela conforme o silêncio da noite caía. Aurora bufou, largando-se no sofá surrado da sala.Claro que a notícia não demorou a correr pela cidade, nem poderia. Minutos depois que Enrico saiu, a loja virou um desfile de vizinhos e curiosos, cada um com uma teoria mais absurda
Fazia um ano. Doze meses em que Enrico viveu como se caminhasse dentro de um deserto interminável, onde tudo era seco, árido, sem cor. Nada o preenchia. Nem o trabalho, nem os carros novos. Nem as mulheres que tentaram ocupar um espaço que ele sequer reconhecia como vago. Ele continuava sem se lembrar.As imagens de Aurora eram sombras em sua mente, flashes desconexos, fragmentos de perfume, sussurros no escuro dos sonhos que o faziam acordar suado, desorientado, o peito apertado de uma saudade que não sabia nomear. Mas a sensação era sempre a mesma: ele precisava dela. E era por isso que ele estava ali.Após meses de investigação discreta, porque admitir para si mesmo que precisava encontrá-la já era humilhante demais, finalmente soube onde ela estava. Uma pequena cidade do interior,
Último capítulo