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Capítulo 04 - Que sorte a dele.

Marina Salles

O som pulsava em meus ouvidos, vibrando por cada célula do meu corpo, e eu me deixava levar sem reservas. Meus quadris se moviam em sincronia com a batida, ora lentos, ora marcados, como se fossem parte da música em si. O calor da pista, o brilho das luzes cortando o espaço e as risadas das meninas me envolviam num transe quase hipnótico. Esquecida de qualquer preocupação, eu dançava como se o mundo tivesse encolhido até caber naquele momento.

Apesar de ter hesitado em vir, agora eu sabia que essa era a escolha certa. Estávamos em Roma, vivendo uma noite que prometia se gravar na memória para sempre.

Quando a batida de "Downtown", da Anitta, invadiu a boate, eu e as meninas trocamos um olhar cúmplice e explodimos em risadas. Ninguém ali parecia entender a energia que aquela música trazia pra nós. Era como se nossas raízes falassem mais alto. Como boas latinas, deixamos nossos corpos contarem a história.

Minhas mãos deslizaram pela lateral do meu corpo enquanto eu dançava, o vestido azul marinho ajustando-se como uma segunda pele. Meus quadris desenhavam movimentos precisos, lentos e provocantes, descendo e subindo com uma facilidade quase indecente. Era uma dança de provocação sutil, não feita para chocar, mas para hipnotizar — natural, intensa, livre. E eu sabia que chamávamos atenção. Os olhares pesavam sobre nós, mas eu já estava embriagada demais pela sensação de liberdade para me importar.

Foi então que senti — aquele tipo de olhar que queima. Não era como os outros, não era um olhar qualquer. Era pesado, quase palpável. Sem pressa, virei discretamente o rosto na direção de onde vinha aquela sensação.

E lá estava ele.

Encostado casualmente no bar, com um copo de uísque na mão, um homem me encarava. Não olhava como quem admira — olhava como quem escolhe. Seus olhos negros eram profundos, predadores, fixos em mim como se o resto do ambiente tivesse desaparecido.

Ele era moreno, de pele dourada como o verão mediterrâneo, os traços inconfundivelmente italianos: maxilar marcado, nariz reto, sobrancelhas densas que davam ainda mais intensidade ao olhar. Seu cabelo preto, perfeitamente penteado para trás, brilhava sob as luzes da boate, e a barba por fazer adicionava um toque de selvageria que me deixou sem ar. Usava uma camisa social preta aberta nos primeiros botões, revelando uma corrente prateada sobre a pele, e calças sociais do mesmo tom. Cada detalhe dele exalava poder bruto e algo mais — algo perigoso.

Quando nossos olhos se encontraram, ele levou o copo aos lábios, num gesto lento e calculado, como se me desafiasse a continuar olhando. Meu coração bateu forte no peito, mas, instintivamente, desviei o olhar, girando meu corpo de volta para as meninas.

Engoli em seco. Apesar de sua aparência impecável, havia nele um ar de ameaça silenciosa que minha intuição captava, mesmo que minha mente tentasse ignorar. Talvez fosse apenas meu medo inconsciente de me envolver novamente. Ou talvez... fosse mais.

Não comentei com as meninas. Continuei dançando, tentando sufocar a onda de adrenalina que percorria minha espinha.

— Eu preciso de mais um desses — Alicia gritou em meu ouvido, erguendo sua taça de pink martini vazia.

— Eu também! — Fernanda acrescentou, balançando sua taça igualmente seca.

Eu ainda tinha um pouco da minha bebida.

— Vão lá, eu espero aqui — falei, sorrindo, e elas assentiram antes de desaparecerem em meio à multidão.

Fiquei sozinha na pista, o corpo ainda pulsando com a música. Outra batida invadiu os alto-falantes — "Veneno", também da Anitta — e um sorriso involuntário curvou meus lábios. Puxei a xuxinha que prendia meu cabelo, soltando as ondas escuras que caíram livres sobre meus ombros, balançando conforme eu rebolava de novo, ainda mais entregue ao ritmo quente e acelerado.

Foi quando senti — não apenas um olhar agora, mas uma presença. Um calor que irradiava tão próximo que minha pele formigou. Um cheiro amadeirado, forte e sofisticado, invadiu meus sentidos segundos antes de uma mão firme e quente pousar na minha cintura.

Meu corpo congelou no mesmo instante, um arrepio percorrendo minha espinha como um choque elétrico.

Virei devagar, o coração batendo pesado no peito.

E me deparei com ele.

O mesmo homem. De perto, sua presença era ainda mais avassaladora. Mais intensa. Ele era uma força silenciosa envolta em poder e perigo. Seu olhar escuro me devorava, como se já tivesse decidido que eu era dele.

Eu devia ter dado um passo para trás. Devia ter me afastado.

Mas tudo que consegui fazer foi encará-lo de volta, como uma presa paralisada diante do lobo.

Sem dizer uma palavra, ele manteve a mão firme em minha cintura, segurando-me com uma autoridade tão natural que parecia que o mundo inteiro havia conspirado para nos colocar naquele momento.

Por um instante, o mundo ao meu redor pareceu emudecer. A mão dele na minha cintura era quente, segura, como se me reivindicasse sem pedir permissão. Seus olhos negros mergulharam nos meus, e, mesmo com toda a música explodindo na boate, a voz dele chegou até mim, grave, arrastada, carregada daquele sotaque italiano irresistível.

— Qual o seu nome, bela? — perguntou, a boca perigosamente próxima da minha orelha, fazendo meu corpo inteiro se arrepiar.

A maneira como ele falou bela fez meu estômago dar um nó. Como se uma parte primitiva de mim já soubesse que era uma péssima ideia deixar esse homem chegar tão perto.

Engoli seco, tentando controlar o coração batendo no ritmo de uma bateria de escola de samba. Se eu falasse meu nome... se eu desse qualquer abertura... eu sabia que me perderia.

Então, com um sorriso quase inocente, me inclinei na direção dele, como se fosse um segredo entre nós, e menti sem nem piscar:

— Sou comprometida.

Por um segundo que pareceu eterno, ele me encarou, analisando cada detalhe meu como se pudesse arrancar a verdade da minha pele. Depois, soltou um leve sorriso, sem sombra de constrangimento.

— Que sorte a dele — murmurou, com aquela voz rouca que parecia feita pra embebedar. A mão dele soltou minha cintura devagar, mas a ausência do toque foi quase tão avassaladora quanto a presença dele.

Sem dizer mais nada, ele se afastou, misturando-se novamente à multidão, mas ainda era como se o calor do toque dele tivesse ficado gravado na minha pele.

Permaneci ali, parada por alguns segundos, tentando normalizar minha respiração, sem sucesso. Era como se meu corpo inteiro ainda estivesse sintonizado com ele. Que droga de reação era aquela?

Antes que eu pudesse raciocinar direito, vi Alicia e Fernanda surgindo entre a multidão, cada uma com mais um drink na mão. Rapidamente me forcei a sorrir e balancei o quadril ao som da música, como se nada tivesse acontecido.

— Trouxemos mais uma rodada! — Alicia gritou, entregando um copo em minha mão.

— Você parece meio aérea — Fernanda comentou, rindo, dando um leve empurrão em meu ombro.

— Tô só curtindo a vibe — desconversei, dando um gole grande no drink gelado para ver se conseguia apagar o incêndio que aquele homem tinha causado dentro de mim.

Voltei a dançar com elas, me movendo com uma energia renovada. Fingir que nada tinha acontecido parecia a melhor saída. Talvez, se eu dançasse o suficiente, suasse o suficiente, bebesse o suficiente, eu conseguiria arrancá-lo da minha cabeça.

Mas era impossível ignorar.

De vez em quando, sentia aqueles olhos cravados em mim outra vez, como lâminas invisíveis deslizando pela minha pele. Disfarçadamente, arrisquei um olhar para cima — e lá estava ele, encostado na balaustrada da área VIP no andar de cima. Sério, elegante, com o copo de uísque na mão, observando.

Não só a pista, mas especificamente a mim.

Meus olhos cruzaram com os dele por um segundo, e eu virei rapidamente o rosto, como se isso pudesse me proteger. Meu coração disparou de novo, me traindo.

Ele ainda me queria. E isso era perigoso.

Foquei em dançar, em rir, em me perder na música com as meninas. Essa era a minha noite. Minha liberdade. Eu não ia deixar que um homem — por mais absurdamente bonito e poderoso que fosse — estragasse isso.

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