Dante Bianchi
O vapor ainda escapava do banheiro quando saí, passando a toalha pelo cabelo molhado. A noite prometia, e eu não pretendia fazer feio. Principalmente hoje. A inauguração da Lustro era um evento importante — não só para Enrico, meu amigo de longa data, mas também para mim. Em lugares como esse, alianças eram forjadas, negócios eram sussurrados, e oportunidades surgiam para quem sabia jogar. Caminhei até o closet, os passos ecoando no piso de madeira, e deixei os olhos percorrerem as opções meticulosamente organizadas. Escolhi uma camisa social preta, tecido leve e corte impecável, que vestia meu corpo como se tivesse sido feita sob medida. Deixei dois botões superiores abertos, expondo parte do peitoral e a corrente de prata que pendia casualmente, brilhando sob a luz indireta. Combinei com uma calça social igualmente preta, ajustada na medida certa, e finalizei com um cinto de couro trabalhado, os detalhes prateados alinhando com o metal da corrente. No pulso, prendi meu Rolex — presente de um negócio bem-sucedido anos atrás — e uma pulseira de prata robusta, da mesma linha da corrente. Gostava de manter o visual elegante, mas havia algo na sutileza do luxo que falava mais alto do que ostentação barata. Poder de verdade não precisava ser gritado. Fui até a penteadeira, penteando o cabelo para trás com calma, aplicando um pouco de gel para garantir que o visual se mantivesse impecável durante toda a noite. O toque final veio com duas borrifadas do meu perfume favorito — uma fragrância amadeirada intensa, discreta, mas inconfundível. Quem se aproximasse, ia saber que estava lidando com alguém que devia ser levado a sério. Satisfeito com o que vi no espelho, desci as escadas da casa. Meus passos eram firmes, medidos — velhos hábitos que nunca abandonei. Peguei as chaves da Maserati MC20 na bancada de mármore da garagem e admirei por um breve segundo o carro negro como a noite, com os detalhes cromados refletindo as luzes da casa. Entrei no veículo, sentindo o motor ronronar sob minhas mãos, e saí da propriedade, deixando para trás os portões de ferro que se fecharam automaticamente no meu retrovisor. A cidade já pulsava de vida, mas esta noite... esta noite, Roma teria um novo epicentro. E eu estaria bem no centro dele. As luzes de Roma piscavam no retrovisor enquanto a Maserati deslizava pelas ruas estreitas. O rugido do motor preenchia a noite, mas, dentro de mim, havia apenas o silêncio calculado de sempre — aquela calma que só vinha antes de algo importante. Estacionei em uma área reservada próxima à Lustro e entreguei a chave a um dos manobristas sem dizer uma palavra. Ele reconheceu o emblema no carro e abaixou a cabeça, respeitoso. Passei pela entrada principal, desviando dos olhares curiosos sem me importar. O segurança da porta me reconheceu de imediato e abriu passagem. Em poucos minutos, eu já atravessava a multidão que preenchia a boate recém-inaugurada. A Lustro era uma obra-prima. O ambiente mesclava luxo moderno com detalhes clássicos, as luzes projetadas em tons de dourado e âmbar, criando um clima de pecado sofisticado. O som grave da música eletrônica vibrava no peito, e os rostos — alguns conhecidos, outros não — se misturavam entre empresários, figuras políticas, turistas deslumbrados e cidadãos comuns que não faziam ideia dos tipos de monstros que se escondiam nas sombras dali. Não perdi tempo na pista. Segui direto para a área VIP, contornada por grades de vidro e com vista privilegiada para todo o salão principal. Enrico estava lá, cercado de rostos familiares. Donatello, com seu eterno sorriso debochado, já segurava um copo de uísque, enquanto outros amigos conversavam em pequenos grupos, todos vestidos de forma impecável. — Finalmente, pørra — Enrico me puxou para um abraço rápido e forte. — Pensei que ia me deixar na mão logo hoje. Sorri de lado, aceitando o copo que ele me ofereceu. — Eu disse que estaria aqui. E você se superou, irmão. — Olhei ao redor, apreciando os detalhes: o atendimento perfeito, a qualidade do som, a arquitetura. Tudo exalava poder e exclusividade. — Isso aqui está espetacular. — Tinha que ser, né? — Ele riu, erguendo seu copo. — À Lustro! — À Lustro — repetimos em uníssono, brindando com o tilintar dos vidros. O uísque desceu queimando na medida certa. Forte. Sem frescura. Fiquei ali, por alguns minutos, bebendo e observando, enquanto conversávamos sobre negócios e tirávamos sarro uns dos outros como se fôssemos apenas velhos amigos comuns — mesmo sabendo que ninguém ali era realmente "comum". Depois de algum tempo, Enrico sugeriu que déssemos uma volta para ver como o público estava aproveitando o espaço. — Quero mostrar a você como ficou o andar de baixo — ele disse, já puxando Donatello e mais dois para nos acompanharem. Saímos da área VIP e começamos a atravessar a multidão. O cheiro de perfume caro e bebida misturava-se com o calor humano que subia da pista de dança. E foi ali, no meio daquele mar de corpos e luzes estroboscópicas, que eu a vi. Primeiro foi o movimento que me chamou atenção — um ritmo fluido, sensual, diferente da dança rígida e afetada que eu via nos europeus à minha volta. Era como se ela dançasse não para ser vista, mas porque a música atravessava a pele dela, dominava seus ossos, fazia parte dela. O vestido azul marinho moldava seu corpo de uma maneira quase insultuosa, realçando curvas que pareciam ter sido esculpidas para a perdição. As pernas ágeis se moviam com naturalidade, o quadril e bundä rebolando em ondas lentas e perfeitas, como se cada batida da música fosse um comando direto ao corpo dela. O salto alto azul marinho, de solado vermelho, batia no chão no ritmo da batida grave, hipnotizando. O cabelo balançava com seus movimentos, algumas mechas grudando levemente à pele dourada pelo suor. Cada gesto, cada sorriso trocado entre ela e as duas amigas ao lado era carregado de uma energia crua e vibrante, como se ela estivesse viva de um jeito que ninguém mais naquela boate estava. Meus olhos se estreitaram, e por um momento, a música, as luzes e as pessoas ao redor desapareceram. Era só ela. Dominando a pista como se o mundo inteiro tivesse sido construído para aquela dança. — Porrä... — ouvi Donatello murmurar ao meu lado. — Olha aquilo. Enrico soltou uma risada seca. — Latinas, certeza — comentou, cruzando os braços enquanto observava. — Já conheci algumas quando fui para Cancún. Elas têm essa coisa... essa maneira de se mover que hipnotiza qualquer um. Você nem percebe, e já tá no chão, implorando por mais. Assenti, sem conseguir desviar o olhar. Elas deviam ser turistas, provavelmente aproveitando Roma da maneira mais intensa possível. Mas a que dançava no centro do trio... ela era diferente. Ela parecia feita para o pecado. Senti o sangue correr mais rápido nas veias. Não era desejo fácil, barato — era algo mais primitivo, mais perigoso. Algo que me dizia que, se eu não tomasse cuidado, acabaria perdido nela antes mesmo de saber o nome dela. E eu não sabia. Ainda.