Pedro sempre soube o que queria da vida. Inteligente e determinado, aos dezoito anos já havia traçado o mapa para o futuro — e nele não havia espaço para casamento. Muito menos com Isabela Santos, a jovem frágil e sonhadora que sempre o olhava como se fosse sua única esperança. Mas uma noite de apostas, álcool e descuido mudou tudo. O que para Pedro foi apenas um borrão esquecido pela ressaca, para Isabela foi a realização de um amor guardado em silêncio desde a adolescência. Dois meses depois, a notícia de uma gravidez inesperada destruiu os planos dele e transformou os sonhos dela em uma prisão. Diante da pressão das famílias e do olhar implacável da matriarca Aurora, Pedro e Isabela são empurrados para um casamento arranjado. Ele, ressentido, preso a uma vida que não escolheu. Ela, dividida entre o amor incondicional e as cicatrizes de um passado de abandono e dor. Agora, em meio a segredos, ciúmes e desejos não confessados, Pedro terá que confrontar não apenas a mulher que nunca amou, mas também a si mesmo — descobrindo que entre o dever e o desejo, não existe caminho sem consequências.
Leer másSeu soubesse o que viria talvez eu nunca tivesse agindo como agir a anos atrás, talves eu devesse ter dado a oportunidade que ela me pedia em silencio todas as vezes que me olhava ou que a tocava.
Ela foi rocha e fez muito mais por nosso casamento que nenhuma outra mulher faria, ela estava lá! E eu a ignorei por completo por anos demais. Mas eu vou recuperar essa mulher... Isabela Santos vai voltar a ser minha esposa. Ela vai relembrar de como me amava e desta vez euvou retribuir ao seu amor da maneira que ela merece ser amada.
Eu estou arrependido e vou recuperar o amor de Isabela, ou nao sou Pedro Santos!
Anos antes...
Eu nunca imaginei que aos vinte e três anos, com tantos planos desenhados em detalhes na minha mente, eu estaria prestes a cometer o maior desvio da minha vida. Meus olhos estavam voltados para uma carreira sólida, para um futuro que eu mesmo escolheria, e jamais para um casamento improvisado, fruto de uma noite em que o álcool tomou de mim o que sempre considerei meu bem mais precioso: o controle.
Isabela. O nome dela sempre esteve por perto, costurado à minha família de um jeito que eu não conseguia evitar. Minha avó, dona Aurora, a matriarca dos Santos, a adorava como se fosse neta de sangue. Não escondia sua preferência, e isso sempre me causou um incômodo velado. Não porque Isabela não fosse merecedora de afeto, mas porque eu, neto de Aurora, sentia-me por vezes invisível diante daquela devoção.
Isabela não teve uma vida fácil. Seu pai, David, abandonara o lar cedo demais, deixando um rastro de mágoas. A mãe, consumida pela dor desse abandono, sucumbiu lentamente a uma doença que a levou ao limite da sanidade. O resultado foi um surto psicológico, tão intenso que até hoje, mesmo anos depois, ainda ecoava em suas fragilidades.
Talvez fosse por isso que minha avó a protegia tanto. Talvez fosse por isso que eu, mesmo sem amá-la, nutria por ela um tipo de empatia que me impedia de ser cruel. Mas não confundamos: empatia não é amor.
Amor… esse sentimento Isabela parecia carregar por mim desde cedo. Eu nunca precisei ouvir de sua boca; seus olhos falavam mais do que qualquer confissão. Desde os treze anos, ela me observava de um jeito que mesclava inocência e adoração. Eu fingia não ver, ou talvez me recusasse a acreditar.
Até que veio aquela noite.
Uma aposta idiota entre amigos, uma sequência de copos que me fez perder a lucidez, e então, o que para Isabela foi a realização de um sonho, para mim não passou de um borrão apagado pela ressaca. Ela se entregou a mim naquela madrugada, oferecendo algo que nunca havia dado a ninguém: sua virgindade. Eu, porém, não me lembrava de nada na manhã seguinte. Nada além de uma dor de cabeça latejante e a estranha sensação de que havia cruzado uma linha invisível.
Dois meses depois, a realidade me atingiu como um soco.
Isabela estava grávida.
O carro seguia pela estrada arborizada que levava ao hotel onde seria realizada a festa de aniversário de dona Aurora. No banco de trás, Ana observava a paisagem com os olhos curiosos, enquanto Isabela, ao volante, mantinha um sorriso sereno. A manhã havia sido cheia de emoções, e o almoço na mansão dos Gomes deixara todos com o coração aquecido.Aurora estava radiante. Recebera os presentes com lágrimas nos olhos, especialmente o conjunto de pintura que Isabela havia encontrado na feira de antiguidades. Ela tocou os pincéis com reverência, como quem reencontra uma parte esquecida de si.— Esse presente é mais que um objeto — dissera Aurora, emocionada. — É uma lembrança viva do que eu fui, do que ainda sou. Obrigada, minha querida.Isabela havia se emocionado com a reação da avó, mas também sentira um aperto discreto ao ver os presentes deixados por Pedro e Teresa. Os itens de porcelana e o bordado estavam embalados com cuidado, acompanhados de cartões simples. Aurora agradeceu com c
Na manhã seguinte, como prometido, Pedro enviou os convites do leilão beneficente a Isabela. O evento reuniria empresários, colecionadores e figuras da alta sociedade em prol de uma causa nobre — e, como sempre, seria também um desfile de aparências e intenções.Isabela recebeu o envelope com elegância, mas sem entusiasmo. Sabia que aquele tipo de evento não lhe agradava, mas havia um motivo especial para ir: entre os itens leiloados, havia uma peça rara de porcelana francesa que sua avó Aurora adorava. Seria o presente perfeito para o aniversário de setenta anos que se aproximava.Decidiu convidar Dolores para acompanhá-la. Amiga de infância, confidente de juventude, Dolores era o tipo de presença que tornava qualquer ambiente mais leve. Ao receber o convite, aceitou de imediato.— Claro que vou com você, Bella. E se Pedro estiver lá com aquela... Sofia, prometo não causar escândalo. Só um olhar atravessado.Isabela riu, ajeitando os brincos diante do espelho.— Vamos manter a classe
A tarde estava quente, com o sol filtrando pelas cortinas da mansão dos Santos. Isabela estacionou o carro com calma, observando a fachada imponente que, por anos, foi sua casa. Não sentia mais dor ao entrar ali — apenas uma nostalgia silenciosa, como quem visita um lugar onde deixou parte de si.Na bolsa, carregava os convites do aniversário de dona Aurora. Havia passado a manhã revisando detalhes da festa, escolhendo flores, ajustando a lista de convidados. Aurora merecia tudo. Setenta anos de vida, de histórias, de força. E Isabela queria que cada detalhe refletisse isso.A governanta a recebeu com um sorriso gentil.— Boa tarde, senhora Isabela. — Vim apenas buscar algumas coisas minhas e já estou de saída.— Fique a vontade sra. a casa sempre pertencerá a você. — Disse a emprega.Isabela assentiu, agradecendo. Subiu as escadas com passos leves, sentindo o aroma familiar da casa — lavanda, madeira polida, e algo que sempre lembrava domingos em família.Ao abrir a porta da suíte
A semana corria com a suavidade de quem não sabia o que se aproximava. Dona Teresa, sempre atenta aos movimentos da família, decidiu que era hora de reunir todos em um final de semana tranquilo no resort Hot Sprint. Queria ver os netos sorrindo, Ana correndo entre os jardins, e, acima de tudo, desejava que Isabela estivesse presente.— Ela faz parte da nossa família — disse com firmeza ao telefone, enquanto falava com Pedro. — E não aceito que fique de fora. Quero todos juntos. Como antes.Pedro sorriu ao ouvir aquilo. A ideia de passar mais tempo com Isabela reacendeu algo dentro dele. Talvez, naquele ambiente leve, longe das tensões do cotidiano, ele pudesse mostrar — sem forçar — que estava mudando. Que ainda havia amor. Que ainda havia tempo.— Claro, vó. Vou falar com ela. Tenho certeza de que Ana vai adorar.Mas Pedro não sabia que, à distância, Sofia observava cada movimento com olhos calculistas. Ela havia se tornado uma presença constante, sempre gentil, sempre disponível, s
O fim do período de reflexão se aproximava como uma sentença silenciosa. Pedro sentia cada dia como um fio se rompendo — um elo a menos entre ele e Isabela. Ela parecia tranquila, resolvida. E isso o dilacerava.Naquela manhã, Pedro acordou com uma decisão tomada. Iria até o apartamento de Isabela. Iria dizer tudo o que nunca teve coragem de dizer. Iria pedir que ela não desse continuidade ao divórcio. Não por medo, não por orgulho, mas porque finalmente entendia que o amor não sobrevive no silêncio.Passou o dia inquieto, ensaiando palavras, revivendo memórias. Lembrou-se da primeira vez que a viu sorrir, do dia em que Ana nasceu, das noites em que ela esperava por ele com olhos cansados e esperança intacta. Lembrou-se, sobretudo, do que nunca disse.“Isabela, eu sempre te amei. Mas não soube como.”Era isso. Era simples. Era verdadeiro.Na manhã seguinte pegou o carro e dirigiu até o apartamento dela. O coração batia como se quisesse fugir do peito. Ao chegar, estacionou na rua e q
Uma semana havia se passado desde aquela noite na mansão de dona Teresa. Desde o abraço silencioso entre Pedro, Isabela. Desde o perfume doce que ainda parecia pairar no ar, mesmo depois que Isabela se foi. A rotina havia retomado seu curso, mas algo dentro de Pedro permanecia suspenso — como se o tempo estivesse correndo para todos, menos para ele.Isabela, por sua vez, parecia ter encontrado paz. No trabalho, era eficiente, respeitada, até admirada. No convívio com Ana, mantinha a leveza de sempre mesmo vendo sua filho com menos frequencia, Isabela sabia que como Pedro teria a Guarda de Ana elaprecisava se acosturmar com a nova rotina entre as duas de veresse ocasionalmente . E nas poucas vezes em que cruzava com Pedro, mantinha a cordialidade, sem rancor, sem saudade. Era como se ela tivesse finalmente entendido que o amor não precisava ser mendigado. Que o silêncio dele, por tantos anos, já havia dito tudo.O período de reflexão do divórcio estava prestes a terminar. Faltavam pouc
Último capítulo