A verdade é que, por mais racional que eu fosse, meu corpo tinha limites. Eu podia ignorar lágrimas, desprezar sussurros e até fugir de olhares, mas não podia silenciar as necessidades que queimavam em mim como brasas escondidas. Por mais que me orgulhasse da minha disciplina, da minha capacidade de manter tudo sob controle, havia uma parte de mim que começava a se rebelar contra essa rigidez. Um instinto primitivo, silencioso, mas persistente, que se manifestava nas madrugadas em que o sono não vinha e o vazio parecia se alastrar por cada canto da casa.

Comecei a perceber o peso das noites solitárias. O silêncio da casa, quebrado apenas pela respiração de Isabela ao meu lado, tornava-se cada vez mais ensurdecedor. Eu era um homem jovem, no auge da vitalidade, e a cada dia o autocontrole parecia mais um fardo. A cama, espaçosa demais, tornava-se um campo de batalha entre o desejo reprimido e a indiferença cultivada. E mesmo que eu tentasse me convencer de que tudo estava sob controle, havia algo em mim que começava a ruir.

Foi então que encarei a única alternativa possível. Trair Isabela nunca seria uma opção, não por fidelidade, mas por orgulho. Desapontar minha avó Aurora — essa sim seria uma derrota que eu não suportaria. A imagem que ela tinha de mim, o neto perfeito, o herdeiro brilhante, não poderia ser manchada por escândalos banais. Eu podia suportar o desprezo de Isabela, a distância emocional, até mesmo a ausência de afeto, mas não suportaria ver o olhar decepcionado de Aurora, aquela mulher que me ensinou a andar com a cabeça erguida e a nunca deixar que os outros percebessem minhas fraquezas.

Se eu precisava de companhia feminina, a solução estava ao meu alcance.

Isabela.

Não porque eu a desejasse, não porque seu corpo fosse o fogo que incendiava meus pensamentos, mas porque ela era a mulher disponível, a esposa com quem eu dividia o teto. Um dever social transformado em válvula de escape. Nada além disso. Era uma escolha prática, quase mecânica, como quem resolve um problema logístico. Não havia romance, nem sedução. Apenas a constatação de que, entre todas as opções que o mundo me oferecia, ela era a menos comprometedora.

Passei a observá-la de um jeito diferente, ainda que relutante. Os movimentos lentos quando penteava o cabelo diante do espelho, o jeito distraído com que acariciava a barriga já crescida, a suavidade das mãos sempre ocupadas com livros ou anotações do projeto com Luiz. Não havia paixão em meus olhos, apenas a constatação de que aquela mulher, por mais distante que me fosse, ainda era de carne e osso. E essa carne, por mais indiferente que eu tentasse ser, começava a se tornar uma lembrança constante.

Naquela noite em especial, algo mudou. Eu me virei para ela, cansado de lutar contra meus próprios instintos. O som abafado de seus soluços havia se tornado tão familiar que quase fazia parte da rotina, mas, em vez de me irritar, dessa vez apenas me despertou. Era como se, naquele choro contido, houvesse uma brecha, uma abertura para algo que eu não sabia nomear, mas que me chamava.

— Isabela — chamei, seco, quase como quem dá uma ordem.

Ela se virou devagar, os olhos marejados refletindo um misto de surpresa e receio. Não havia expectativa em seu olhar, apenas uma entrega silenciosa, como quem já não espera nada, mas aceita tudo.

Não houve palavras de carinho, nem promessas. Apenas um gesto firme, um corpo que buscava outro corpo. Eu a procurei não como homem que ama, mas como alguém que precisava aliviar a tensão que o corroía por dentro. Um impulso, uma necessidade, uma tentativa de preencher o vazio que se tornara insuportável.

E ela se entregou. Sem resistência, sem perguntas. Como quem entende, mesmo sem compreender.