Isabela não hesitou nem por um segundo. Talvez porque, desde sempre, tivesse me amado em silêncio, guardando esse sentimento como um segredo precioso, escondido nas entrelinhas dos nossos olhares e nas pausas das nossas conversas. Ou talvez porque sua carência emocional fosse mais intensa, mais profunda e mais urgente do que qualquer raciocínio lógico que pudesse freá-la. Seus lábios, trêmulos e inseguros, se uniram aos meus com uma entrega quase desesperada, e naquele instante específico, percebi algo desconfortável, algo que me fez estremecer por dentro: para ela, aquilo não era apenas físico. Era muito mais. Era sentimento. Era desejo misturado com afeto. Era amor.
Eu podia sentir a diferença gritante entre nós. Enquanto meus movimentos eram secos, mecânicos, friamente calculados, guiados apenas por impulsos fisiológicos e pela necessidade de preencher um vazio que eu não sabia nomear, ela se derretia sob meu toque como quem finalmente alcançava o paraíso que sempre sonhou, como quem tocava o inalcançável. E isso, paradoxalmente, me irritava. Me incomodava profundamente.
A cada suspiro que escapava de seus lábios, a cada gemido contido que ela tentava sufocar, eu me lembrava da farsa cruel em que estávamos presos. Para Isabela, aquele contato íntimo era uma expressão de amor verdadeiro; para mim, era apenas corpo, apenas pele. Dois mundos completamente opostos se encontrando na mesma cama, sob os mesmos lençóis, mas com intenções e expectativas absolutamente diferentes.
— Não confunda as coisas — murmurei contra seu ouvido, numa pausa breve, quase cruel, como se quisesse arrancá-la de sua ilusão. — Isso não significa nada. Absolutamente nada.
Ela fechou os olhos com força, como se minhas palavras fossem um golpe certeiro, uma facada no peito. Mas, ainda assim, não recuou. Pelo contrário, me puxou para mais perto, como quem prefere se iludir a encarar a frieza brutal da realidade. Como quem escolhe o sonho, mesmo sabendo que ele vai acabar.
E eu deixei.
Naquela noite, meu orgulho venceu minha razão. Usei-a para preencher o abismo que se abria dentro de mim, consciente de que estava quebrando a barreira emocional que sempre havia imposto entre nós. Mas fiz questão de repetir para mim mesmo, como um mantra: não era amor. Jamais seria. Nunca poderia ser.
Quando tudo terminou, deitei-me de costas, olhando fixamente para o teto como se nada tivesse acontecido, como se aquele momento não tivesse qualquer peso. Ela, encolhida ao meu lado, parecia carregar no corpo uma mistura complexa de dor e êxtase. Eu sabia, com absoluta certeza, que para ela aquela entrega tinha sido muito mais do que prazer físico — era esperança. Era a crença de que algo poderia mudar entre nós.
E talvez por isso, no fundo, a sensação que ficou em mim não foi de alívio, como eu esperava, mas de incômodo. Um incômodo silencioso, persistente.
Eu havia cedido. Eu, que sempre me orgulhei de ser guiado apenas pela lógica, pela razão, havia permitido que minhas necessidades me arrastassem para um terreno emocionalmente perigoso, instável.
Na penumbra do quarto, com o silêncio nos envolvendo como um véu, percebi o quanto essa nova dinâmica poderia mudar tudo entre nós.
Isabela agora acreditaria que havia espaço para conquistar meu coração.
E eu, mesmo negando com todas as forças, sabia que sua presença já começava a corroer lentamente as paredes da fortaleza que construí em torno de mim, pedra por pedra.Mas eu resistiria.
Eu sempre resistia. Era a única coisa que eu sabia fazer bem.