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Capítulo 4 – O Primeiro Grito de Ana


Lá, o tempo pareceu parar. Os corredores do hospital, iluminados por luzes brancas e impessoais, pareciam se estender infinitamente, como se o mundo tivesse desacelerado apenas para nos observar. Isabela foi levada às pressas para a sala de parto, e eu fiquei sozinho, sentado em uma poltrona desconfortável, encarando o chão como se ele pudesse me dar respostas.

A espera foi longa. Longa o suficiente para que pensamentos indesejados começassem a se infiltrar. Pela primeira vez, me vi refletindo sobre o que estava prestes a acontecer. Uma filha. Um ser humano que carregaria parte de mim, parte dela. Alguém que, inevitavelmente, me ligaria a Isabela de forma definitiva. Não havia mais como fugir.

Quando finalmente me chamaram, entrei na sala com passos hesitantes. Isabela estava pálida, suada, mas seus olhos brilhavam com uma força que eu nunca tinha visto antes. Ela segurava Ana nos braços, envolta em mantas cor-de-rosa, e naquele instante, algo dentro de mim se rompeu. Não foi amor. Não foi redenção. Mas foi um reconhecimento silencioso de que minha vida jamais seria a mesma.

Isabela me olhou com ternura, como se aquele momento apagasse todas as dores anteriores. Como se, ao me ver ali, ela finalmente tivesse certeza de que eu ficaria. Mas eu não disse nada. Apenas me aproximei, olhei para Ana e senti um peso novo se instalar em meu peito. Um peso que não vinha da obrigação, mas da consciência de que, gostando ou não, eu era pai.

Nos dias que se seguiram, a casa ganhou novos sons. Choros, risos tímidos, passos cuidadosos. Isabela se transformou. A maternidade lhe deu uma força que eu não imaginava. Ela já não me esperava todas as noites com olhos suplicantes. Estava ocupada demais sendo mãe. E, curiosamente, isso me incomodava. Não por ciúmes, mas porque, pela primeira vez, ela parecia não precisar de mim.

Eu observava de longe. Ana crescia rápido, e com ela, crescia também uma distância silenciosa entre mim e Isabela. Ela já não me procurava na penumbra. Já não se oferecia como refúgio. E eu, que sempre fui o dono da indiferença, comecei a sentir falta daquilo que nunca valorizei.

Certa noite, ao passar pelo quarto de Ana, parei na porta e fiquei observando. Isabela cantava baixinho, embalando nossa filha com uma delicadeza que me desarmou. A cena era simples, mas carregada de uma beleza que me atingiu como um soco. Pela primeira vez, senti inveja. Não da criança, mas da conexão que elas compartilhavam. Algo que eu, com toda minha racionalidade, jamais conseguiria construir.

Voltei para meu quarto em silêncio. Deitei-me sem sono, encarando o teto como tantas outras vezes. Mas agora, o vazio parecia maior. Mais profundo. Isabela havia mudado. E eu, mesmo sem querer, começava a mudar também.

A presença de Ana era como uma rachadura na armadura que eu construí ao longo dos anos. E, por mais que eu tentasse ignorar, algo dentro de mim começava a ceder.

Talvez fosse o início de algo que eu ainda não sabia nomear.

Talvez fosse apenas o começo do fim da minha resistência.


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