Ele passou a vida planejando destruir Don Salvatore. Mas nunca imaginou que carregava o sangue do próprio inimigo. Durante anos, Alessandro Tomazzine se preparou para sua Vendetta. Ele estudou cada movimento do chefe da Cosa Nostra, esperou o momento certo para atacar e então encontrou Fiorella Salvatore, a filha do homem que destruiu sua família. Ela era seu alvo. Ela era sua arma. Mas nunca deveria ter sido seu desejo. Agora, ele está pronto para puxar o gatilho… até que a verdade o atinge como uma bala certeira. Fiorella é sua meia-irmã. Preso entre a sede de vingança, um legado que nunca quis e uma paixão proibida que pode ser sua ruína, Alessandro precisa escolher: Matar Don Salvatore… ou assumir o trono da máfia siciliana ao lado da mulher que deveria destruir.
Ler maisItália | Cattedrale di Palermo
Alessandro - 13 anos O bebê que sobreviveu. Era como o padre Giancarlo costumava dizer sobre mim. Eu era um segredo, daqueles bem guardados. Daqueles que nem Deus faria o padre Giancarlo revelar, porque havia algo que Giancarlo temia mais do que Deus: a máfia siciliana, a Cosa Nostra. Como todo garoto cheio de curiosidade, eu escapei diversas vezes de Giancarlo, apenas para perambular pelas ruas da Itália. Isso era o ápice da liberdade que eu podia desfrutar na época. Cresci escondido, em um quarto apertado no subterrâneo da catedral. Giancarlo me ensinou o básico do que se deve aprender na escola, e, por ter muito tempo livre, comecei a estudar sozinho e desenvolvi diversas habilidades que deixavam Giancarlo bastante orgulhoso. Quando não estava com o peito estufado de orgulho, Giancarlo estava ralhando comigo por ficar assistindo escondido às reuniões e acertos de conta da Cosa Nostra. A violência me incomodava no começo, mas depois de um tempo já não era relevante; era, no mínimo, previsível. Por outro lado, as frases sussurradas quando se acreditava que a única testemunha estava morta me prendiam a atenção. Eu tinha entre nove e dez anos quando comecei a registrar tudo o que acontecia, tanto nas reuniões do andar de cima da catedral quanto nas intermináveis sessões de tortura no subterrâneo. A Cosa Nostra era intrigante, um emaranhado de segredos que poderia destruir algumas famílias poderosas da máfia. Mas, assim como no xadrez, era um jogo de estratégia, e revelar os segredos alheios poderia custar caro. Nessa noite, a máfia siciliana estava em polvorosa. E foi então que Giancarlo recebeu a ilustre visita de Don Salvatore. O capo de tutti i capi. Algo importante havia acontecido e, pelo olhar que Giancarlo me lançou antes de receber o homem, ou ele queria me fuzilar para que eu virasse cinza e desaparecesse, ou então, o mais óbvio, era um recado claro de que essa era uma conversa proibida para as minhas orelhas rebeldes. — Padre, dê-me sua bênção! — A voz de Don Salvatore, apesar de mansa, evocava uma ordem explícita. — O que faz aqui? — Giancarlo queria demonstrar firmeza, mas sua voz tremia em um desconforto crescente. — Poderia ter mandado Eduardo em seu lugar. Don Salvatore pareceu realmente ofendido, o que fez um calafrio percorrer minha espinha e um ma.l-estar tomar conta do meu corpo, como se a simples presença de Don Salvatore fosse um m.au agouro. Apesar das tentativas do padre Giancarlo de me convencer a não ser enganado por superstições diabólicas, eu sempre falava em sorte quando ele me contava a forma como milagrosamente sobrevivi quando bebê. E sempre citava o quão azarado eu era por ser obrigado a viver escondido como um rato. Como hoje. Eu sabia que algo estava terrivelmente errado, e tive certeza pouco tempo depois. — Eu vim me confessar! — Don Salvatore falou antes de entregar uma maleta para Giancarlo, que a segurou como se fosse uma bomba prestes a explodir. Don Salvatore deve ter percebido, pois fez questão de abrir a maleta para mostrar o dinheiro. — Eu conheço os seus pecados. — Giancarlo respondeu, enquanto buscava um lugar para colocar a mala cheia de dinheiro. — Não! Você não conhece... — Don Salvatore rebateu. O homem de meia-idade tinha a aparência conservada e uma postura firme. Lembrava os guerreiros dos filmes que eu assistia. Don Salvatore não era um homem que devia ser desafiado, apesar do seu semblante oscilar levemente entre tristeza e raiva. — Salvatore, diga de uma vez. O que te traz aqui? — Giancarlo continuava tentando controlar a situação inutilmente. — Já disse! Eu vim me confessar... Don Salvatore se ajoelhou, retirou duas armas da cinta e depositou no chão ao seu lado. — O que tem lhe tirado a paz, filho? — O padre Giancarlo assumiu o tom complacente comumente usada com seus fiéis pecadores. — Eu mandei matar Angelina Tomazzine e as crianças! — Eu senti o choque atingir meu peito impiedosamente, e talvez o padre tivesse feito uma reza muito forte para que eu não saísse do meu esconderijo. Eu estava paralisado diante da revelação, Angelina Tomazzine era a minha mãe, essa era uma das poucas informações que eu tinha sobre ela, e as palavras do padre, era como um golpe seco de chibata no meu corpo "Eu conheço os seus pecados...". Ele sempre soube. Não me lembro se Giancarlo mandou que ele rezasse dez ave Maria, ou se o valor na maleta já era suficiente para pagar pelos seus pecados, mas lembro de pular em cima do padre assim que Don Salvatore deixou a igreja. O meu ataque era um conjunto de xingamentos, com lágrimas e questionamentos desconexos, até só sobrarem as lágrimas e as mãos trêmulas do padre me abraçando. — Você sempre soube... — minha voz soou embargada, presa pelo nó angustiante que se formava na minha garganta. — Sim. — Ele tem que morrer! Eu vou matar Don Salvatore! ELE TEM QUE MORRER — Eu gritei, e foi nesse momento que Giancarlo me pegou pela camiseta e me colocou de frente o espelho. — Olha pra você, garoto. Um pirralho. Não sabe nada sabre o homem que controla com mãos de ferro tudo lá fora. Se Salvatore descobrir que você está vivo, ele te esmaga como um piolho. Como um verme. Olhe para mim, Alessandro! Olhe pra mim! Giancarlo estava furioso, não por eu ter ouvido a conversa, ou por ter lhe atacado, ele estava furioso com a impotência que sentia diante do meu sofrimento. — Você precisa sair da Itália! — ele continuou. — Você é um garoto inteligente, vai pra longe de tudo isso, vai estudar e nunca mais vai retornar para a Itália. Quando eu puder, irei te visitar. E quando você crescer o suficiente, vai ter sua própria família e a vida não vai ser mais tão solitária. — Eu vou ficar — Respondi com raiva e com a confiança que todo adolescente tem — A Cosa Nostra me tirou tudo, não vão me tirar você! — Você precisa ir embora, Alessandro. A Itália não é um lugar seguro pra você. E eu sou velho de mais pra lutar — Giancarlo riu, como se não tivesse me dando uma sentença horrível, a solidão. Dois dias depois desse acontecido, ele pegou um pouco do dinheiro da maleta e me entregou, antes de me deixar no aeroporto com destino a Nova York. — Esse dinheiro te pertence, usarei o restante pra pagar os seus estudos. Você vai ter uma vida muito boa em Nova York, um amigo irá te receber. Só me prometa que não vai voltar! — Não posso prometer isso, padre. Não quando há tantas perguntas sem respostas... — Apontei para o caderno pequeno em minhas mãos. — Esqueça isso, Alessandro. Não há nada de bom em reviver o passado. — Giancarlo me encarava com seriedade — E esses meus amigos de Nova York não podem saber dessa sua raiva contra Don Salvatore, na verdade ninguém pode saber. — Por que? — Perguntei, mesmo temendo a resposta. — Ninguém daria asilo a um traidor da Cosa Nostra. — Eu não sou um... minha mãe não... — Eu não conseguia pronunciar a palavra "traidor". E as minhas certezas eram tão frágeis, quanto a minha esperança de vingança. — Se for pra lutar uma guerra, Alessandro, não lute com a certeza da derrota. Pois, não há honra e nem glória em ser um perdedor. Eu fui embora da Itália com duas certezas, a primeira é que eu retornaria pra vingar a morte da minha mãe e do meu irmão. E a segunda, era que o padre Giancarlo, que foi como um pai pra mim todo esse tempo, esperava o meu retorno e esperava que eu lutasse. Não como o garoto que o enfrentou na igreja, com mãos trêmulas, e lágrimas nos olhos, mas como um homem, com dedos hábeis, para puxar o gatilho.Alessandro— Lorenzo, o que temos? — perguntei, assim que ele atendeu a ligação.— Trouxe o motorista para o Bella Donna, e ele não tá afim de cooperar, Timothy moeeu ele na porrada e nada. O que fez com a garota?— Depois falamos sobre isso... — desconversei.— Porraa, Alessandro. Que merdaa você fez? — Lorenzo retrucou e eu já podia imaginar ele passando a mão pelo cabelo comprido, do quão tanto se orgulhava.— Não matei a menina, se é nisso que está pensando? — Liguei o motor, enquanto ajeitava o fone de ouvido para continuar a desagradável conversa com Lorenzo.— Você está enganado, não é isso o que eu penso. Eu vi vocês. Vi os dois.— E o que você quer dizer com isso, fale de uma vez porraa! — a minha paciência estava no limite, e a adrenalina das últimas horas ainda ditavam o rumo dos meus pensamentos.— Eu vi vocês juntos... — ele falou em um tom desanimado, e finalmente eu entendi onde ele queria chegar.— Não se engane, Lorenzo. A minha vendetta será concluída, eu não seria v
Nova York Fiorella - 17 anos Desde que ouvi a minha própria mãe planejar a minha morte, qualquer passeio com ela se tornou uma tortura ainda pior.Na época, Dominic interviu e criou uma armadilha para o segurança que estava ajudando a mamãe, ele acabou sendo executado por traição e minha mãe ficou bastante assustada. Dominic havia deixado claro que estava de olho nela.Apesar de meu irmão ter me tranquilizado quando contei sobre o que ouvi da varanda, em nenhum momento ele duvidou de mim, muito pelo contrário, ele fez o que precisava ser feito. E também me ajudou com as minhas crises de agorafobia, ele conseguiu pílulas fortes que faziam com que eu me sentisse anestesiada. Então, quando pousamos em Nova York e fomos conduzidos para um setor privado, eu ainda estava sob o efeito da pílula, sempre que sentia que o efeito estava indo embora, eu tomava outra. Havia uma equipe de segurança pronta para nos escoltar até a casa da minha tia Elena, esse era o peso de carregar o sobrenome S
Nova YorkAlessandro - 27 anosEra tarde da noite quando a campainha do apartamento tocou repetidas vezes.— Lorenzo, aconteceu alguma coisa? — Adivinha quem acabou de desembarcar em Nova York? — Não faço ideia. Álcool?Ele assentiu com a cabeça e continuou:— A coelhinha, acompanhada pela mãe e, obviamente, muitos seguranças.— Isso é interessante! — Dei um gole na minha bebida.— Nem pense nisso, combinamos que você ficaria de fora até o último momento. Don Salvatore não pode sequer desconfiar que nós estamos chegando!— Descubra o que vieram fazer aqui. Quero os nossos homens na cola delas!Comecei a andar de um lado para o outro como se o apartamento fosse pequeno demais, a espera estava me matando, eu me sentia como um leão enjaulado, aguardando ansiosamente para atacar a presa.— Eles estão acompanhando tudo, você precisa relaxar um pouco, cara. Estamos perto, fizemos tudo certo até agora.— Mais um ano. Só mais um ano e arrancaremos Don Salvatore do trono da Cosa Nostra. — Fa
Itália | SicíliaFiorella Salvatore - 15 anosA ideia de me sentir vigiada nunca foi tão intensa como naquela manhã, e eu me pegava olhando por sobre os ombros repetidas vezes, um movimento quase involuntário.— Fiorella, comporte-se! Está agindo como uma menininha assustada — minha mãe me repreendeu mais uma vez.Com a nuvem de desconfiança que pairava sobre a famiglia, não era de se estranhar que eu temesse pela minha vida. Há poucas semanas, meu pai recebeu várias coroas de flores, cada uma com o nome de um mem.bro da família. Havia uma coroa com o meu nome e uma com o nome do meu irmão gêmeo, Dominic Salvatore.Não acharam o responsável.Mas eu me lembro que, há dez anos atrás, na mesma data, meu pai recebeu um pacote em uma embalagem luxuosa e, dentro, havia uma cabeça de boi sem os olhos — uma imagem horrorosa. E aquela noite foi a pior noite da minha vida.Eu tinha cinco anos e não consegui escapar. Vi minha mãe fugindo com uma arma na mão e Dominic no colo, enquanto eu fui dei
Nova YorkAlessandro – 25 anosFaz doze anos que cheguei em Nova York, e muita coisa mudou desde então.Fui acolhido por uma família de italianos, fiz amizade com o único filho do casal, Lorenzo. Ele era alguns anos mais velho do que eu, e certa noite me viu treinando escondido. Foi quando contei que um dia teria que voltar para a Itália, porque precisava me vingar do homem que matou minha família e tentou me matar.Não precisei explicar muito. Como qualquer irmão mais velho faria, Lorenzo tirou o óculos e começou a treinar junto comigo.No início, éramos apenas dois garotos treinando pesado e batendo nos valentões da escola, o que nos rendeu algumas expulsões dos colégios caros que o pai de Lorenzo pagava. Mas então aprendemos a não ser pegos, e finalmente conseguimos nos formar sem complicações.Agora, eu não era mais apenas um garoto imprudente desafiando o homem mais poderoso da Sicília. Eu me tornei um homem forjado pelo tempo e pela dor, dedicando cada instante da minha existênc
Itália | Cattedrale di PalermoAlessandro - 13 anos O bebê que sobreviveu. Era como o padre Giancarlo costumava dizer sobre mim. Eu era um segredo, daqueles bem guardados. Daqueles que nem Deus faria o padre Giancarlo revelar, porque havia algo que Giancarlo temia mais do que Deus: a máfia siciliana, a Cosa Nostra.Como todo garoto cheio de curiosidade, eu escapei diversas vezes de Giancarlo, apenas para perambular pelas ruas da Itália. Isso era o ápice da liberdade que eu podia desfrutar na época.Cresci escondido, em um quarto apertado no subterrâneo da catedral. Giancarlo me ensinou o básico do que se deve aprender na escola, e, por ter muito tempo livre, comecei a estudar sozinho e desenvolvi diversas habilidades que deixavam Giancarlo bastante orgulhoso.Quando não estava com o peito estufado de orgulho, Giancarlo estava ralhando comigo por ficar assistindo escondido às reuniões e acertos de conta da Cosa Nostra.A violência me incomodava no começo, mas depois de um tempo já não
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