Mundo de ficçãoIniciar sessãoHá dores que não cabem em palavras. Há traições que arrancam a pele, que transformam até o ar em inimigo. Cecília Duarte aprendeu cedo que amor pode ser moeda rara e, quando existe, vem sempre acompanhado de condições. Implorar foi seu verbo mais constante. Perdoar, sua forma de sobreviver. E quando a vida se encarrega de arrancar tudo de uma vez o noivo, a família, a ilusão de pertencimento sobra apenas o ferro em brasa dentro do peito. Em Veridiana, cidade de contrastes, onde arranha-céus se completam com as nuvens e segredos escorrem pelas vielas, um nome ecoa acima de todos: Dante Bellucci. O magnata que ergueu um império com disciplina implacável. O homem que não tolera escândalos, mas que guarda em si uma solidão tão profunda quanto a dela. A Ferro e Fogo é a história de dois mundos que colidem: a menina marcada pela rejeição e o homem marcado pelo poder. Ela, que jura nunca mais implorar por amor. Ele, que jura nunca mais perder o controle. Quando seus caminhos se cruzarem, Veridiana descobrirá que não existe poder maior que o de sentir ainda que isso custe cicatrizes em carne viva.
Ler mais(Lívia)O briefing da Torre tinha terminado no fim da tarde, mas eu ainda sentia a tensão grudada nos ombros. Dante era um homem que não deixava margem para erro, e ver a Ceci naquela sala me deixou orgulhosa e preocupada ao mesmo tempo.Quando saí do prédio, minha cabeça estava acelerada. Não queria ir direto para casa. Precisava desligar. Uma colega me chamou para um bar no centro, e aceitei. O lugar tinha música alta, luz baixa, mesas lotadas de gente que queria esquecer o expediente. Pedi um gin logo na chegada.Desci pra pista, o DJ trocou o set, o grave subiu, o lugar inteiro tomou fôlego junto. Deixei a luz deslizar no meu rosto, deixei o corpo seguir a batida. Ombros, cintura, quadris calibrados no ritmo. Um cara tentou se aproximar, eu neguei com o olhar. Outro encostou demais, virei de costas sem culpa. Eu não queria companhia. Eu queria a sensação de não dever nada a ninguém. Às onze da noite, eu já tinha perdido a noção de quantos copos. Estava rindo alto, cabelo solto, bl
(Ceci)Cheguei à Torre às 8h05, na segunda-feira, com meu novo crachá temporário de acesso executivo, que Sarah havia solicitado na sexta-feira.Entrei com ela, ela estava elegante com sempre, com um cabelo em um coque perfeitamente alinhado, entramos no elevador ela apertou o bodão até o 39º andar, o breve trajeto foi silencioso, ocupado por poucas pessoas.— Hoje você vai se concentrar nas minutas — Sarah disse enquanto caminhávamos pelo corredor. — Duas reuniões seguidas: às 8h30 e às 10h. Cada uma com pauta clara, você vai registrar a decisão, o prazo, o responsável e o risco. O resto é detalhe.Assenti.Entramos na sala de reuniões. A mesa já estava preparada, documentos alinhados, telão ligado. Eu me posicionei discretamente, atrás de sara, caderno na mão para anotações rápidas.Primeira reunião: 8h30Assunto: contratos internacionais.Dante já estava na cabeceira.— Status das assinaturas? — perguntou.— Dois contratos prontos, faltando validação do compliance — disse o diretor
(Ceci)Cheguei à Torre Arcturus às 8h20. Usei o crachá provisório, conferi meu nome na recepção e segui para o elevador do 39º andar. Sarah havia sido objetiva no dia anterior: “Você vai para ouvir, anotar e aprender. Só isso.”O andar executivo é silencioso. Piso em mármore cinza, paredes claras, circulação limpa. As pessoas passam com foco. Nada de conversa desnecessária.Sarah me aguardava na antessala, com o tablet na mão.— Pontual — disse. — Traga seu caderno. Você fica atrás de mim.Entramos. Sala grande, mesa de madeira escura para vinte pessoas, parede de vidro com vista para a cidade. Diretores já sentados, materiais organizados. Sentei atrás de Sarah, à esquerda da cabeceira.Às 8h30, Dante entrou. Terno preto, gravata estreita. Sentou-se à cabeceira, colocou o celular na mesa e falou:— Vamos começar.O diretor de Operações projetou o primeiro slide. A pauta estava na ordem: contratos externos, câmbio, logística, auditorias, comunicação executiva, jurídico. Sem rodeios. Eu
Ceci O bilhete ficou onde eu o encontrei: no centro da minha mesa, letra sem floreio, seco como recado de síndico. “Cuidado com quem sorri.”Eu o fotografei, dei zoom, nada de pista. Guardei no envelope de “ocorrências” que comecei a montar por sugestão da Lívia. Virei a página do caderno e deixei o papel lá dentro. Eu não ia carregar nenhum recado anônimo no bolso como se fosse ameaça ativa. Eu iria trabalhar, porque precisava daquele estágio.Abri o e-mail e encontrei a agenda do dia: às 9h15, alinhamento de vocabulário com Sarah; às 11h, revisão de cronograma com o time técnico do hospital; às 14h, comitê de acompanhamento (o famoso C.A.), reunião onde eu, como estagiária, era figurante — mas Sarah pedira que eu operasse os slides. No rodapé da mensagem dela, um “Obrigada pela precisão ontem. S.”A palavra “precisão” me acalmou. Comecei pelo boletim. Ajustei a chamada “Quarto 12, Um Começo” para algo mais enxuto na manchete e mantive a história no primeiro parágrafo: nome trocado,
(Ceci)A sala 12 era um aquário de vidro. A mesa oval brilhava sob a luz branca, rodeada por cadeiras estofadas em cinza claro. O ar tinha aquele cheiro de lavanda suave. O telão já exibia o cabeçalho do boletim interno: Expansão da UTI Neonatal — Instituto Bellucci.Respirei fundo antes de me sentar. Sarah já estava lá, postura ereta, caneta tinteiro entre os dedos, o olhar clínico que parecia atravessar as pessoas. Dois coordenadores ajeitavam pilhas de relatórios; Bianca, claro, estava à esquerda, como se a cadeira tivesse sido reservada para ela por decreto.Quando entrei, ela lançou um sorriso enviesado, daqueles sorrisos que não chegam aos olhos. O tipo de sorriso que diz: veremos quanto tempo você dura aqui.Sarah bateu levemente a caneta na mesa, chamando a atenção. — Vamos começar. — Sua voz era firme, mas sem pressa. — Temos prazos curtos e um público sensível. Quero precisão, clareza e humanidade em cada linha, estamos tratando de vidas.Apresentei meus pontos com a pasta a
O cheiro de café fresco enchia o apartamento quando abri os olhos. A claridade filtrava pela cortina fina, suave demais para o peso que eu carregava no corpo. Por um instante, pensei que havia sonhado tudo Dante surgindo das sombras e o soco certeiro que interrompeu uma noite que poderia ter terminado em tragédia.Mas o som na cozinha me trouxe de volta. Panelas batendo, uma risada abafada, o chiado da frigideira. Lív.Levantei devagar. O corpo ainda doía da tensão da noite passada. No espelho do corredor, meu reflexo denunciava olheiras profundas, eu preciso de um spar urgente. Puxei o cabelo em um coque frouxo, vesti um moletom leve por cima da regata e segui até a cozinha.Encontrei Lívia de costas, mexendo ovos mexidos com a naturalidade de quem transformava qualquer espaço em lar. O vestido preto glamouroso da noite anterior agora estava jogado no encosto da cadeira, trocado por uma camiseta velha dos Backstreet Boys e um short de algodão.— Bom dia, Bela Adormecida. — ela disse
Último capítulo