Alessandro
— Lorenzo, o que temos? — perguntei, assim que ele atendeu a ligação. — Trouxe o motorista para o Bella Donna, e ele não tá afim de cooperar, Timothy moeeu ele na porrada e nada. O que fez com a garota? — Depois falamos sobre isso... — desconversei. — Porraa, Alessandro. Que merdaa você fez? — Lorenzo retrucou e eu já podia imaginar ele passando a mão pelo cabelo comprido, do quão tanto se orgulhava. — Não matei a menina, se é nisso que está pensando? — Liguei o motor, enquanto ajeitava o fone de ouvido para continuar a desagradável conversa com Lorenzo. — Você está enganado, não é isso o que eu penso. Eu vi vocês. Vi os dois. — E o que você quer dizer com isso, fale de uma vez porraa! — a minha paciência estava no limite, e a adrenalina das últimas horas ainda ditavam o rumo dos meus pensamentos. — Eu vi vocês juntos... — ele falou em um tom desanimado, e finalmente eu entendi onde ele queria chegar. — Não se engane, Lorenzo. A minha vendetta será concluída, eu não seria violento com uma criança apavorada, então a deixei em segurança na casa da tia — me expliquei. — Alessandro, dezessete anos já não é uma criança, a garota é bonita e você ficou bolado! — Para de falar merdaa, cara. Eu estou indo aí, se socos e pontapés não resolveram, talvez devemos arrancar alguns dedos do motorista! — É o que mafiosos fazem — Lorenzo, tinha um tom de descrença na voz, talvez ele não fizesse idéia de até onde eu iria para realizar a minha vendetta. — Esse cara é um deles, deve ser tratado como tal! Estou a caminho, e vou descobrir quem deseja matar Fiorella Salvatore antes de mim. — Aproveite que a balada está cheia, ninguém vai ouvi-lo gritar. Olhei no GPS e avisei: — Chego em vinte minutos. Desci da moto como um furacão e atravessei a entrada da boate Bella Donna sem sequer olhar para os lados. A música alta vibrava nas paredes, luzes estroboscópicas pintavam o salão, mas nada disso me interessava. Meus passos eram pesados, decididos, e os seguranças abriram caminho sem pestanejar. Lorenzo me esperava à porta do escritório, com a expressão fechada. Trocamos um olhar rápido, ele sabia que era melhor não falar nada. Empurrei a porta com força. O escritório era luxuoso, mas no canto, atrás de uma estante falsa, havia o que realmente importava, o bunker. Um pequeno cômodo revestido de aço, sem janelas, isolado do som da boate. Ali, o motorista estava amarrado numa cadeira de metal, ensanguentado e arquejando. Timothy, um dos nossos homens de confiança contratado por Lorenzo, se afastou dando espaço para mim. O motorista ergueu a cabeça ao ouvir meus passos, o olhar misturava medo e desafio. — Vamos acabar com isso — rosnei, tirando a jaqueta e arregaçando as mangas. A primeira coisa que fiz foi quebrar o dedo mindinho da mão esquerda dele com um estalo seco. O grito ficou preso em sua garganta, abafado pela mordaça, mas seus olhos se arregalaram de dor. — Quem mandou você matar Fiorella Salvatore? — perguntei, a voz baixa, porém cortante como uma lâmina. Ele apenas me encarou, tentando se manter firme. Arranquei a mordaça de sua boca com violência. — Perguntei quem foi! — gritei, e cravei o punho fechado no lado de suas costelas. O motorista tossiu sangue, quase desfalecendo, mas a necessidade de respirar o manteve acordado. Dei tempo para que ele se recuperasse só o suficiente para poder falar. — Se... se eu falar... tô morto... — ele gaguejou, cuspindo no chão. — Você já está morto, só não percebeu ainda. — Ameaça real, fria como gelo. — Me dê um nome ou eu mesmo vou garantir que você sofra cada minuto até seu último suspiro. Ele tremia agora, as forças abandonando seu corpo. Timothy se aproximou, pronto para ajudar, mas ergui a mão, sinalizando que eu mesmo terminaria. Puxei uma faca da minha cintura e deixei que a lâmina gelada tocasse levemente a pele do motorista. Foi o suficiente. — Porraa... foi ela... — ele arfou, lágrimas escorrendo pelos olhos — Se tivesse dado certo, eu também não estaria aqui pra falar... Ela mandou... — Quem, caralhoo?! — rugi, a poucos centímetros do seu rosto. O motorista fechou os olhos e murmurou: — Eleonora... Eleonora Salvatore... Minhas mãos congelaram, o sangue correu frio em minhas veias. — A mãe dela? — Lorenzo perguntou às minhas costas, incrédulo. O motorista apenas assentiu, antes de desmaiar por completo. Toda a raiva que eu sentia foi substituída por algo muito pior, uma certeza amarga de que a vendetta que eu havia jurado cumprir seria muito mais suja do que eu imaginava. Respirei fundo, embainhando a faca, e disse em voz baixa: — Preparem tudo. Amanhã vamos caçar a porca que ousou trair o próprio sangue. — Alessandro, está ficando louco? Se matar a mulher de Don Salvatore, estaremos acabados. Você não está pensando direito. E esse cara pode estar mentindo, precisamos de provas. — Se a própria mãe está tentando matar a filha, algo precisa ser feito. A COELHINHA É MINHA! — gritei. — Tudo bem — Lorenzo, ergueu as duas mãos. — Mas não somos assim, ou somos? Não vamos agir por impulso. Nós somos inteligentes. Eu vou estar do seu lado, seja lá qual for o seu plano maluco, você é meu irmão. Mas por favor, tome a porraaa de um drinque e dê um jeito dessa adrenalina assassina que está correndo em suas veias, se acalmar. Mesmo contrariado desci até o bar, pedi um uísque duplo sem gelo e bebi calmamente, a imagem de um par de olhos azuis confusos e ao mesmo tempo intensos, dominou meus pensamentos, os cabelos em caracóis vermelhos, era um convite a perdição. Fiorella... até o seu nome, soava doce em meus lábios. Tão frágil, tão pequena e tão linda. "Eu vi vocês juntos" Lorenzo me alertou, ele me conhecia, e com certeza nunca me viu encantado por mulher alguma. Mas aquela jovem que deveria morrer em um ano pelas minhas próprias mãos, fez o meu coração acelerar. Saí do Bella Donna sem me despedir, eu tinha um plano, se Eleonora Salvatore, a mãe de Fiorella, planejou a morte da própria filha, sem dúvida, poderá tentar novamente. E eu não posso correr o risco de deixar Fiorella a mercê daquela víbora. Ainda essa noite, eu sequestraria Fiorella Salvatore, a filha de Don Salvatore, o capo da Cosa Nostra. E ninguém, nem mesmo o diabo, me impediria.