Alessandro
O plano mudou. Eu não vou mais sequestrar Fiorella Salvatore. Para explicar o novo plano, preciso voltar há alguns anos, quando tive uma ideia insana. Bom, na época pareceu bastante insana até mesmo para mim. Por isso, deixei Lorenzo de fora. Criei uma máfia fantasma. No começo, era essa a ideia, mas logo me vi envolvido em algumas negociações bem reais. E então, a coisa ficou séria. Drogas, armas, mortes... e foi assim que “Os Gringos” surgiu. Quando “Os Gringos” tornou-se forte o suficiente para ser notado, entrei em contato com Don Salvatore. — Alessandro Castelli, quer fazer negócios com a Cosa Nostra. — Mudei apenas o sobrenome em minha apresentação. Don Salvatore pareceu impressionado pela ousadia do meu telefonema, murmurou algumas palavras ameaçadoras e finalizou com um vago: — Aguarde meu contato. Anos se passaram, até que a linha exclusiva tocou. — Tenho um trabalho para você! Traga a minha família em segurança para casa e então faremos negócios. Uma hora depois... — Código preto! Eleonora Salvatore está morta! A linha ficou muda do outro lado, seguida pelo som estrondoso de algo se quebrando. — Traga a minha filha para casa e depois descubra quem foi o maledetto que matou a minha esposa. — Sim, senhor. Com muito prazer eu iria descobrir — e matar lentamente — o responsável por me negar o direito de fazer sangrar o coração de Don Salvatore. Neste momento ele estava sofrendo, mas só de saber que não era por causa de mim, o meu coração ardia em fúria. — Alessandro, temos que sair daqui. A polícia está a caminho... Clark era o meu braço direito e cuidava de “Os Gringos”, enquanto eu estava ocupado com a empresa de tecnologia. E, para ser honesto, foi graças a um erro grotesco dele que a máfia fantasma precisou se tornar algo real e letal. — Preparem o jato, voaremos para a Itália! — avisei. Mantive-me afastado de Fiorella tanto quanto possível. Ela chorava muito por causa da morte da mãe. Estava assustada, com medo. Não me faria bem algum ter compaixão pela jovem. Aliás, eu também passei noites em claro ao descobrir o assassinato da minha mãe. Não me importo que ela sofra. Na verdade, uma parte cruel de mim se deliciava com o som de suas lágrimas. Farei da sua dor a minha melhor vendetta, Fiorella Salvatore. Clark arrastou Fiorella à força para o carro. Jogou-a no banco traseiro do sedan, travou a porta e deu a volta para entrar no lado do motorista. Entreguei a chave da moto para um dos meus homens. Estava na hora de escoltar a coelhinha de volta para a Itália. Não podia deixar o meu prêmio longe dos meus olhos — o meu afastamento já havia me custado uma Salvatore. Fui em direção ao sedan, mas, antes de entrar, o ronco de uma moto soou alto. Imediatamente, corri a mão para o coldre preso na minha cintura. A moto desacelerou o suficiente para ser possível identificar. Como se passasse em câmera lenta diante dos meus olhos, vi a cabeça balançar de um lado para o outro. Ele não precisou tirar o capacete para que eu visse a decepção em seus olhos. Era o Lorenzo. E ele acabou de descobrir a minha ligação com “Os Gringos”. Esperei que ele sumisse do meu campo de visão e entrei no carro. — Olá, princesa. O seu voo para a Itália vai atrasar... Clark, dirija para o galpão quatro! — V-você? — ela me olhou incrédula. — Foi você! Você matou a minha mãe! Fiorella se atirou em cima de mim, com os punhos cerrados. Agarrei os braços dela com firmeza e deixei uma risada rouca escapar da minha garganta. — Você é adorável — sussurrei com a voz grave, e a soltei. Vi quando, em um movimento rápido, uma lâmina brilhou entre seus dedos. Ela não recuou, iria até o fim. Mas, antes que pudesse fincar a faca em mim, tomei o objeto de sua mão com uma mão e, com a outra, saquei a minha arma. — Tive um dia terrível hoje, Fiorella. Então, o que você acha de começar a colaborar comigo? — Apontei a arma diretamente para o rosto dela, e ela emudeceu instantaneamente. Os lábios dela se moveram em um pedido silencioso. — Por favor, não me mate. A frase reverberou na minha mente. Eu não a mataria. Não ali. Não naquele carro. Mas, em algum momento, eu puxaria o gatilho — e teria que estar pronto para olhar para o seu rosto quando fizesse isso. Guardei a arma no coldre e fiquei feliz por Fiorella não tentar mais nenhuma estupidez. Mesmo assim, arranquei o cinto sem hesitar. O couro deslizou rápido pelas presilhas da calça, produzindo um som áspero que denunciava a minha urgência. Enfiei a fivela pela argola, puxando até formar um laço firme. Em minhas mãos, o objeto se transformava em uma algema improvisada, resistente o bastante para conter qualquer movimento. Segurei-o com força, sentindo o couro estalar entre meus dedos, pronto para fechar aquele laço ao redor dos pulsos dela. — Estenda os braços! — dei a ordem. Fiorella estendeu os pulsos para mim. Eu os envolvi com a tira e puxei o fecho com força suficiente para que ela ficasse bem presa. — Ai... — ela gemeu com o meu aperto. Ou foi o roçar dos meus dedos em sua pele que desencadeou uma eletricidade desconfortável? Afastei-me de Fiorella e me forcei a prestar atenção na paisagem do lado de fora. Mandei uma mensagem para Lorenzo me encontrar no galpão quatro. Não podia deixar o país sem consertar as coisas com ele antes. O carro parou na entrada lateral do galpão. Olhei para Fiorella, pensativo sobre o que fazer com ela e nenhum pensamento decente passou pela minha mente. Ela ficava absolutamente sexy contida pelo meu cinto e, de repente, a minha mente já estava vagando para as muitas posições nas quais ela ficaria deliciosa. — Você já me conhecia... — ela falou tão baixo que, se eu não estivesse em um estado de contemplação silenciosa, não teria escutado. — O quê? — Você disse o meu nome quando me resgatou na estrada. Você falou o meu nome. Você já me conhecia. Sabia quem eu era quando me salvou. Eu não disse o meu nome, mas você já sabia. Afinal, quem é você? — Comecei a noite como o homem que te salvou, como herói. Facilmente me tornei um bandido... mas Fiorella não se engane. Não sou nem um, nem outro. Sou o seu diavolo.