Eu Olho Você

Nova York

Alessandro – 25 anos

Faz doze anos que cheguei em Nova York, e muita coisa mudou desde então.

Fui acolhido por uma família de italianos, fiz amizade com o único filho do casal, Lorenzo. Ele era alguns anos mais velho do que eu, e certa noite me viu treinando escondido. Foi quando contei que um dia teria que voltar para a Itália, porque precisava me vingar do homem que matou minha família e tentou me matar.

Não precisei explicar muito. Como qualquer irmão mais velho faria, Lorenzo tirou o óculos e começou a treinar junto comigo.

No início, éramos apenas dois garotos treinando pesado e batendo nos valentões da escola, o que nos rendeu algumas expulsões dos colégios caros que o pai de Lorenzo pagava. Mas então aprendemos a não ser pegos, e finalmente conseguimos nos formar sem complicações.

Agora, eu não era mais apenas um garoto imprudente desafiando o homem mais poderoso da Sicília. Eu me tornei um homem forjado pelo tempo e pela dor, dedicando cada instante da minha existência a aprender tudo o que fosse necessário para destruir Don Salvatore, o implacável chefe da Cosa Nostra.

— Alessandro, eu consegui! Te disse que o meu contato era bom.

Lorenzo estava coletando informações de Salvatore há um bom tempo, e eu cruzava com as minhas anotações infantis, que fiz quando sequer sabia o que estava fazendo.

— Informação é poder, Lorenzo!

Peguei o envelope pardo e abri. Dentro, havia algumas fotos de Don Salvatore com sua família perfeita. Eles estavam no velório de um figurão da alta sociedade — na verdade, o morto era um dos capos, chefe de uma das famílias que integrava a Cosa Nostra.

Uma das fotos caiu no meu colo. Fiorella Salvatore.

A imagem capturava com perfeição a beleza da garota. Os cabelos acobreados em formato de caracóis dançavam contra o vento, o sol fazia sua pele brilhar em um tom dourado perfeito e os olhos eram tão azuis quanto o céu.

Junto com as fotos, havia muitas outras informações sobre as propriedades da família, a rotina de cada integrante, e um relatório detalhado sobre Eduardo Pestana, o Consigliere de Don Salvatore, um mem.bro antigo da Cosa Nostra e pai de Eleonora.

— O que você vai fazer? Vai voltar? — Lorenzo perguntou.

Respirei fundo, analisando cada detalhe dos documentos à minha frente.

— A vingança é cega e irracional. É apenas fazer o inimigo sofrer. Vendetta é diferente, é dar a ele apenas o castigo que lhe é devido, nem mais, nem menos.

Lorenzo me observou com um olhar atento antes de soltar um riso contido.

— Você está falando como um mafioso...

Fechei o envelope e encarei Lorenzo.

— Ele matou minha mãe. Matou meu irmão. E quase me matou também. Ele deve pagar com a vida. Mas quem mais deve pagar com ele? Seus filhos? Sua esposa? Quem faz o coração de Don Salvatore bater mais forte?

Peguei novamente a foto da garota de cabelos acobreados e a coloquei sobre a mesa.

— Alessandro, não somos como ele. Não matamos crianças. Essa garota tem apenas quinze anos.

— Eu sou paciente. — Sorri, deslizando os dedos sobre a imagem. — Aguardaremos até que ela tenha dezoito anos e então voltaremos para a Itália. Lorenzo, coloque o seu homem na cola da nossa coelhinha.

— Pode deixar.

— Quando voltar para a Itália, quero saber tudo sobre Fiorella Salvatore. — Meu olhar se fixou na foto por mais alguns instantes. — Começaremos por ela. Vamos ver se o coração daquele vecchio maledetto ainda b**e.

Lorenzo sorriu e bateu no meu ombro.

— Eu olho você, irmão.

Essa era a nossa forma de dizer que sempre cuidaríamos um do outro. Eu disse essas mesmas palavras quando os pais de Lorenzo morreram há dois anos, quando a casa deles pegou fogo.

Depois de muita resistência, aceitei o dinheiro que o padre Giancarlo recebia da Cosa Nostra. Demorei para entender que ele não tinha a opção de recusar, e achei de certa forma poético usar o dinheiro de Don Salvatore para destruí-lo.

O padre Giancarlo acumulou uma pequena fortuna com o dinheiro recebido ao longo dos anos. Usei essa quantia para montar uma pequena empresa de segurança e, em pouco tempo, a empresa se destacou. Mudamos para um prédio grande e consolidamos nossa presença no mercado.

Eu me tornei um empresário de sucesso.

Lorenzo, um dos advogados mais bem pagos de Nova York.

— Agora vai lá, bonitão. Se arruma, põe um terno caro, que hoje é dia de festa.

— O que nós vamos comemorar?

Lorenzo riu de lado.

— Una bella donna!

— Você tá de saca.nagem? Arrumou uma mulher, é sério?

— Põe o melhor terno, irmãozinho! — Ele saiu do escritório com um sorriso enigmático no rosto.

Quando cheguei ao endereço que ele me enviou, confirmei duas vezes se estava lendo certo.

Ele só pode estar brincando!

O letreiro neon brilhava na minha frente, confirmando.

"Bella Donna Club."

Era uma balada.

— Alessandro, o que você achou? Vem, eu vou te mostrar tudo…

— Você comprou esse lugar??? Porraa, quem está agindo como um mafioso agora?

— Você não viu nada ainda.

O interior da balada estava lotado, a música alta embalava o público com uma batida dançante, havia camarotes reservados e um andar superior com escritórios privados. O ambiente era moderno, luxuoso e estrategicamente planejado.

Lorenzo fechou a porta do escritório e abriu uma porta lateral que nem parecia existir.

— Agora sim. Esse será o lugar de onde vamos planejar sua vendetta!

A sala, completamente lacrada, era perfeita para reuniões sigilosas.

— Você é o cara da tecnologia, então sabe como funciona. Aqui dentro, qualquer aparelho conectado com o mundo lá fora vai aparecer nessa tela.

— Você comprou isso da minha empresa! Mas não está sendo comercializado ainda… — Franzi a testa. — Olívia, é claro.

— Na verdade, eu peguei emprestado. O projeto… e a Olívia também. — Ele riu. — Ela é ótima. Que morena linda!

Balancei a cabeça.

— Você é inacreditável!

A sala estava equipada com diversos equipamentos tecnológicos e, não menos importante, um pequeno arsenal de armas e munições.

Lorenzo pegou uma pistola e sorriu.

— Se tudo der errado, a gente mete bala.

Peguei outra arma, avaliando o peso.

— O plano é bom. Vamos precisar de homens e de armas. Não podemos chegar na Itália sem apoio.

Lorenzo apontou para a tela de monitoramento do salão.

— Olha isso. Tá rolando confusão lá embaixo!

Tirei o terno e afrouxei a gravata.

— Eu vou com você.

— Não precisa…

— Faço questão, irmão.

Lorenzo riu e pegou outra arma antes de sair.

— Você é um fodido, Alessandro.

Sigue leyendo este libro gratis
Escanea el código para descargar la APP
Explora y lee buenas novelas sin costo
Miles de novelas gratis en BueNovela. ¡Descarga y lee en cualquier momento!
Lee libros gratis en la app
Escanea el código para leer en la APP