Mundo de ficçãoIniciar sessãoHanna acreditava ter encontrado o tipo de amor que só existe em filmes românticos: um casamento estável, uma vida organizada e um futuro promissor ao lado de Porter, o homem que jurou amá-la para sempre. Mas a perfeição ruiu quando ela descobriu que os sussurros ao telefone, as viagens repentinas e os atrasos constantes escondiam um segredo cruel: Porter mantinha um caso com sua própria assistente. Quebrada, mas não disposta a se entregar, Hanna decide recomeçar. Muda de emprego, busca independência financeira e acaba contratada por uma empresa estrangeira onde sua vida muda completamente. Entre novos desafios, novos olhares e novos riscos, ela precisa enfrentar seus fantasmas e descobrir quem realmente é — e o que merece.
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Eu sempre chego cedo ao trabalho. É quase um ritual: café forte, silêncio no escritório ainda vazio e a sensação de controle sobre a própria vida. Quase quatro anos no comercial me ensinaram a ser firme, objetiva, resiliente. Mas naquela segunda-feira… algo em mim já acordara deslocado. O celular vibrava dentro da minha bolsa, insistente. Ignorei. O cansaço dos últimos meses pesava demais — não só o profissional, mas aquele silêncio estranho entre mim e Porter. Ele dizia que era “fase”, que a pressão de comandar a empresa de engenharia estava consumindo quase tudo. Eu acreditava. Sempre acreditei. Só que o toque não era meu. Era o dele. Porter havia esquecido o celular no meu carro — o que nunca acontecia — e esse simples detalhe fez um desconforto gelado se instalar na minha boca do estômago. Entrei na minha sala, deixei a bolsa na mesa e tentei fingir normalidade. Mais um dia, mais um início de semana, mais um conjunto de metas. Ou pelo menos era para ser. O aparelho vibrou de novo. “Alicia – 3 novas mensagens.” A assistente nova dele. Jovem, eficiente, recém-formada. Um nome mencionado com naturalidade nas últimas semanas. Por que ela mandaria mensagens tão cedo? O celular vibrou outra vez, insistente, quase provocando minha coragem. Eu sabia que não deveria. Mas abri. Desbloqueei com o código que sempre usamos. E o mundo encolheu na minha frente. “Não consegui dormir pensando em ontem.” “Acha que sua esposa percebeu algo?” “Ainda sinto você. Me liga quando puder.” A xícara escorregou da minha mão. O café formou uma mancha marrom e caótica sobre a mesa — perfeita representação de tudo que desmoronava dentro de mim. Meu casamento. Minha vida construída ao lado do meu primeiro amor. Todas as noites que dormi sozinha acreditando nas desculpas. Tudo. Tudo era mentira. Respirei fundo — ou tentei. E mesmo assim, continuei trabalhando. Era o que eu sabia fazer quando o mundo ameaçava cair: cumprir obrigações. Enfiei meu coração estilhaçado embaixo da mesa e respondi e-mails, revisei contratos, negociei com clientes. Automática. Anestesiada. Mas o relógio não ajudava. Só duas horas tinham passado. Quando meu celular vibrou, meu corpo inteiro gelou. “Amor, você vai almoçar em casa hoje?” “Outra coisa, vê pra mim se meu celular ficou no carro.” Ele escrevia como se nada tivesse acontecido. Como se eu não tivesse visto. Como se minha vida ainda fosse a mesma. “Vou ver.” Foi tudo o que consegui responder. Guardei o aparelho, mas o peso continuou dentro de mim, duro e frio. O estrondo na porta me arrancou dos pensamentos. — Hanna! — Mara entrou como um furacão tropeçando no próprio pé, quase derrubando a bolsa. — Sobrevivi ao caminho até aqui, pode aplaudir. Eu forcei um sorriso. Mara era impossível de ignorar — e talvez fosse bom assim. — Café? — ela perguntou já pegando minha caneca sem permissão. — Me conta tudo. Tudo! — disse, agitando as mãos. — Teve romance no fim de semana? Drama? Fogos de artifício? Se eu abrisse a boca para dizer a verdade, eu desmoronaria ali mesmo. — Nada demais — murmurrei. Ela revirou os olhos dramaticamente. — Ah, que tédio. A gente precisa te arrastar para alguma aventura urgente… antes que vire uma planilha humana. Eu ri. Rir parecia proibido naquele dia, e ainda assim ela conseguia arrancar isso de mim. Deixou uma caneta cair, tropeçou no tapete, derrubou a própria xícara — tudo num intervalo de dez segundos. — Você é impossível — eu disse, balançando a cabeça. — Eu sei, meu bem. Mas alguém precisa ser o raio de sol desse escritório, e hoje você tá precisando mais que todo mundo. — Ela colocou a mão quente sobre meu braço. — Tô aqui, tá? Pra qualquer coisa. Quando ela saiu, a sala mergulhou de novo no silêncio. Mas agora o silêncio não me engolia. Ele apenas… existia. Meu celular vibrou outra vez. Respirei. Não pulei. Não tremi. Apenas olhei. E pela primeira vez naquele dia, uma centelha de algo diferente surgiu dentro de mim — não força, não coragem ainda — mas um começo. A certeza de que nada seria igual. E de que eu precisaria encontrar um caminho só meu — mesmo que isso significasse começar do zero. Mesmo que doesse. Mesmo que eu ainda não soubesse como.Hanna Os dias estão passando rápido demais. Já é quinta-feira… e sábado Ethan volta para o Brasil. Cada vez que penso nisso, sinto o estômago apertar. Tento trabalhar, me concentrar, agir normalmente — mas meu corpo inteiro sabe que estou contando as horas para perder ele de vista. E, como se o destino quisesse testar minha sanidade, Clara resolve aparecer mais do que nunca. Ela se aproxima da mesa de Ethan, sorrindo como se já tivesse vencido alguma competição invisível. — Ethan, você vem no happy hour hoje, né? Quinta é tradição — diz, apoiando-se na mesa dele. Eu continuo digitando, mas escuto cada palavra. — Ainda não sei — ele responde, profissional. — Ah, tem que ir. É sua última quinta aqui — ela insiste, inclinando-se mais. Ethan desvia o olhar dela e encontra o meu por um instante. Rápido. Intenso. Clara interpreta errado — como sempre. — Te vejo lá — afirma, confiante, antes de sair. Meu celular vibra: “Ignora ela. Eu só quero você.” Meu coração d
Porter Eu li a mensagem dela pela décima vez. “O divórcio será finalizado nos termos que meu advogado enviou. Por favor, respeite.” Respeite. Como se falar comigo desse jeito fosse aceitável. Como se ela tivesse o direito de simplesmente… me deixar. Passei a mão pelo cabelo, andando pelo escritório como um predador preso. Meus funcionários cochichavam lá fora, mas ninguém ousava entrar. Talvez fosse melhor assim. Não havia nada em mim hoje que lembrasse o “bom moço” que todos estavam acostumados a ver. Hanna pediu o divórcio. E pior: pediu como quem já decidiu tudo. Eu ainda não entendia como ela tinha descoberto. Como? Eu sempre fui cuidadoso. Sempre soube esconder o suficiente para manter as aparências. E Alícia… Bem. Ela sempre soube seu lugar. Mas Hanna sabia. Sabia que eu traí. Sabia o suficiente para jogar tudo fora. A mandíbula travou. Se ela tivesse me confrontado naquela noite, eu teria explicado, teria acalmado, teria ajeitado as coisas. Era só o que ela p
Hanna A tarde passou rápido demais no escritório, mas não rápido o suficiente para eu esquecer os olhares de Ethan durante as reuniões — atentos, intensos, sempre encontrando os meus por mais que eu desviasse. E também não rápidos o bastante para ignorar o jeito que Aiden continuava rondando minha mesa, oferecendo ajuda que eu não pedi e sorrisos que eu não pretendia aceitar. Quando o fim do expediente chegou, eu só queria paz. Ou… talvez não exatamente paz. Talvez eu quisesse exatamente o caos que vinha quando ficava sozinha com Ethan. Ele se aproximou devagar enquanto eu pegava minha bolsa, a voz baixa, roupa impecável, perfume presente de um jeito que fazia minha respiração falhar. — Vamos jantar juntos? — perguntou, oferecendo o braço discretamente. Seu olhar era uma promessa quente. Eu segurei o braço dele. Era impossível não segurar. — Claro. Mas antes mesmo de darmos cinco passos, meu celular vibrou. Depois vibrou de novo. E de novo. Porter. Mensagens. Ligações.
Ethan O som da voz de Hanna pelo telefone com a irmã ainda ecoava em meus ouvidos. Ela estava rindo, feliz, contando que estava namorando. Meu peito se aqueceu de um jeito que não conseguia controlar. Era como se, naquele instante, tudo fizesse sentido. Eu não precisava dizer nada — só de ouvir a alegria na voz dela, senti que havia feito a escolha certa, mesmo com toda a distância que ainda nos separaria. Quando ela desligou, ficamos por um instante em silêncio. Ela olhou para mim com aquele sorriso tímido e confiante ao mesmo tempo, e eu senti uma necessidade irresistível de simplesmente envolvê-la nos meus braços. E assim fizemos. A noite passou tranquila. Nos acomodamos no sofá, próximos, quase grudados, assistindo a algum filme qualquer que não lembramos mais qual era. Mas não importava: cada toque, cada mão entrelaçada, cada sussurro era mais importante que qualquer cena na tela. Eu sentia o cheiro dela, o calor dela, a suavidade de sua pele encostando na minha, e cada g
Hanna A porta do meu apartamento mal se fecha atrás de Ethan, e já sinto a atmosfera mudar. O ar parece carregado de eletricidade, cada centímetro do espaço compartilhado pulsando com a presença dele. Ele não se aproxima imediatamente. Fica parado ali, olhando para mim, olhos verdes intensos, como se estivesse medindo cada reação minha. Eu sinto a própria respiração acelerar, consciente de cada gesto dele. — Você está bem? — ele pergunta, mas não é só preocupação; há algo mais, algo contido, quase… possessivo. — Estou — respondo, tentando soar calma. Mas sei que não consigo disfarçar o quanto meu corpo reage à presença dele. Ele dá um passo à frente, e o cheiro dele invade meus sentidos. O perfume, o toque do colarinho da camisa, o calor próximo… Tudo me lembra do que aconteceu no carro, das mensagens que trocamos, do beijo que ainda não saiu da minha mente. — Hanna… — a voz dele baixa, rouca. — Eu não consigo parar de pensar em você. Meu coração dispara, e sinto a
Hanna O carro mal arranca do meio-fio e já sinto a tensão preenchendo cada centímetro do interior. Ethan não fala. O motorista parece notar e permanece em silêncio absoluto. E eu… continuo tentando pensar claramente, mas as mãos de Aiden na minha cintura ainda estão vívidas demais na minha memória. E o olhar de Ethan ao ver aquilo também. Ele mantém os olhos fixos na janela, o maxilar rígido, a respiração pesada demais para estar calma. — Ethan… — começo, com a voz baixa. — Eu vi — ele corta, sem tirar o olhar da rua. O coração aperta. — Ele só me puxou para não me atropelarem. — Ele estava esperando você na porta — Ethan rebate. — E quando te viu distraída, se aproveitou. Ele vive orbitando em torno de você. Está sempre ali. Sempre pronto. — Ele só é gentil. — Gentil? — Ele finalmente vira para mim. O olhar verde queimando, intenso, inacreditavelmente possessivo. — O jeito como ele te segurou não tinha nada de “gentil”, Hanna. Respiro fundo. — Ethan, isso





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