Mundo ficciónIniciar sesiónEthan
Eu nunca gostei de coincidências. Coincidências, para mim, sempre foram a forma mais preguiçosa de explicar aquilo que não compreendemos. Mas naquela manhã, quando a porta da sala de reunião se abriu e ela entrou… por um instante, eu não consegui dar outro nome para aquilo. Hanna. A mulher do bar. A mulher que eu passei a semana inteira tentando esquecer — e falhando miseravelmente. Eu lembrava dela apoiada no balcão, a amiga animada ao lado, e ela… ela silenciosa, mas intensa de um jeito que só os observadores percebem. Os olhos inquietos. O sorriso educado, mas triste. O tipo de mulher que não chama atenção pelo óbvio, e sim pelo que esconde. Eu a tinha encarado por alguns segundos a mais do que deveria naquela noite. E ela percebeu. Só não imaginei que voltaria a vê-la. Muito menos ali, na minha sala de entrevista, com uma pasta nas mãos e aquela expressão educada que não combinava com a turbulência que eu ainda lembrava nos olhos dela. Quando ela sentou diante de mim, eu senti uma pressão estranha no peito. Um reconhecimento. Um impacto. Quase um choque. Fui profissional, claro. Sempre fui. Mas a verdade é que desde o instante em que ela disse bom dia, algo dentro de mim se alinhou de um jeito que eu não esperava — e não sabia se queria. Hanna era diferente. O tipo de diferente que não deveria me afetar. Eu nunca misturei trabalho com nada pessoal. Nunca me envolvi com funcionárias. Nunca me permiti ser vulnerável o suficiente para sentir… nada. Mas havia algo nela. Algo que me prendia. Algo que me fez prestar atenção demais. E o pior: ela parecia quebrada por dentro. Não de um jeito óbvio. De um jeito silencioso. De um jeito que só quem também conhece tempestades sabe identificar. Eu terminei a entrevista com todas as respostas que eu precisava. Mas saí dela com uma pergunta que não deveria existir: Quem é você, Hanna? E por que eu não consigo parar de pensar em você? Passei o resto do dia com a mente inquieta. O rosto dela surgia no meio de relatórios, planilhas e reuniões. A voz dela ecoava nos intervalos entre um e-mail e outro. Eu tentava ignorar. Mas quanto mais eu tentava… mais ela voltava. E então, no fim da tarde, algo em mim se rendeu. Eu inventei uma desculpa. Simples. Segura. Profissional. Uma “inconsistência no sistema”. Um detalhe do treinamento. Algo que qualquer chefe poderia perguntar. Mas que, na prática, era absolutamente irrelevante. Eu só queria ouvir a voz dela de novo. Eu só queria confirmar aquela sensação absurda de que algo tinha acontecido ali — e que não era só da minha parte. Quando enviei a mensagem, esperei que ela respondesse horas depois. Ou no dia seguinte. Ou talvez nunca. Mas quando a resposta chegou quase imediatamente, meu peito apertou. “Claro. Pode ligar.” E foi aí que eu percebi o problema: Eu estava sorrindo. Eu — o homem que raramente reage a qualquer coisa — sorri para a tela do celular como se tivesse 17 anos. Ridículo. Mas inevitável. Respirei fundo e liguei. A voz dela veio macia, baixa… e exatamente como eu lembrava. E naquele instante, enquanto eu tentava manter a formalidade, eu entendi com clareza: Eu estava muito mais interessado nela do que deveria. Eu percebi o cansaço na respiração dela. A tensão escondida nas pausas. A exaustão emocional que ela tentava mascarar. E eu quase perguntei o que tinha acontecido. Quase. Mas me contive. Eu não era ninguém para invadir a dor de uma mulher que mal conheço. Quando finalizei os detalhes, algo em mim se recusou a desligar. As palavras saíram antes que eu pudesse evitar: – Hanna… pode me chamar de Ethan. Ela hesitou por um segundo — eu senti. E quando ela disse meu nome… “Ethan”. Era como se eu tivesse esperado aquilo sem saber. A ligação terminou. Mas o efeito não. Porque, pela primeira vez em muitos anos… eu me vi envolvido por alguém. Alguém que não estava tentando me impressionar. Alguém que sequer sabia o impacto que causava. E enquanto eu guardava os documentos naquela noite, me peguei olhando para a cadeira onde ela sentou. E pensando, sem conseguir controlar: O que aconteceu hoje… não foi coincidência. Foi o início de alguma coisa. E eu não fazia ideia do que isso significava. Mas queria descobrir.






