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CAPÍTULO 3 – O PRIMEIRO IMPACTO

Hanna

Voltei ao escritório depois do maldito almoço com Porter sentindo como se estivesse costurando meus próprios pedaços com linha fraca. O trabalho sempre foi meu abrigo: números, contratos, metas, tudo organizado, previsível, seguro.

Pessoas, por outro lado… eram a parte descontrolada da equação.

Liguei o computador, respirei fundo e tentei me afundar nos e-mails.

Foi então que vi.

Um e-mail diferente.

Assunto: Convite para Entrevista – Processo Seletivo Avançado.

Meu coração bateu mais rápido.

Li uma vez. Depois outra.

E a terceira só para ter certeza de que não estava imaginando.

Uma multinacional de tecnologia super conhecida queria me entrevistar.

Eu.

Logo eu.

Bem no dia em que minha vida pessoal rachou no meio.

Pela primeira vez naquele dia, senti esperança se infiltrando por entre as rachaduras.

Não consegui conter — liguei para Sabrina.

— SABRINA! — quase gritei quando ela atendeu.

— Meu Deus, que susto! — ela riu. — O que aconteceu?

— Recebi um convite para a entrevista. Aquela entrevista.

— NÃO! — ela berrou, já rindo. — Hanna, pelo amor de Deus, é HOJE?

— Daqui dois dias… mas eu tô tremendo.

— A gente vai comemorar. Hoje. Sem discussão.

E claro, eu aceitei.

O bar estava movimentado, mas aconchegante. Uma luz quente, música ambiente, pessoas conversando animadas. Sabrina já estava lá, lindíssima como sempre. Abracei-a com força.

— À minha irmã foda — ela disse, levantando a taça.

— E ao meu futuro emprego — respondi, rindo.

Brindamos.

Eu contei da vaga, da empresa, da posição. Sabrina me olhava como se eu fosse uma estrela prestes a nascer no céu.

Foi no meio da explicação que senti.

Aquela presença.

Eu não ouvi, não percebi pela visão periférica — eu senti.

O ar pareceu mudar de temperatura. Um arrepio subiu pela minha nuca.

Olhei por reflexo na direção da porta.

Dois homens acabavam de entrar.

E não eram só bonitos.

Eles tinham presença.

Daquelas que preenchem o ambiente inteiro sem pedir licença.

O primeiro — moreno, olhos verdes intensos, rosto sério, impecavelmente vestido — era quase impossível de ignorar. Não era só atraente: era magnético. O tipo que a gente sente antes de ver.

O segundo — loiro, sorriso largo, olhar brincalhão — carregava uma autoconfiança leve, quase sedutora. Carisma puro.

Os dois pareciam energia e opostos perfeitos caminhando lado a lado.

Sabrina me cutucou.

— Hanna… por favor… olha aquele moreno. Eu nem acredito.

— Eu tô tentando não olhar.

— Não tá funcionando.

Tentei voltar para a conversa, mas quando ergui a taça novamente, algo aconteceu.

Eles passaram pela nossa mesa.

Devagar. Como se estivessem avaliando o ambiente.

O moreno — o dos olhos verdes — olhou diretamente para mim.

Foi um segundo.

Um único segundo.

Mas meu coração tropeçou dentro do peito.

Não foi um olhar curioso.

Não foi um olhar casual.

Foi um olhar… atento.

Como se quisesse me decifrar.

A falta de ar veio de leve.

O loiro percebeu, claro, porque sorriu para Sabrina. Um sorriso que ela devolveu na hora, riscando sem vergonha nenhuma.

Eles pararam alguns metros além, conversaram entre si, e seguiram para o bar.

Eu tentei disfarçar, mexendo no cabelo.

— Hanna… — Sabrina riu. — Você tá vermelha.

— Eu só… me assustei.

— Aham, claro. Com a beleza dele. Sendo sincera? Até eu fiquei sem ar.

Revirei os olhos. Mas por dentro… eu também estava tentando entender o que tinha acontecido.

Minutos depois, quando achava que o universo já tinha brincado o suficiente comigo, uma voz masculina surgiu ao lado da nossa mesa.

— Desculpem interromper… — disse o loiro, com um sorriso que parecia ter sido projetado para causar impacto. — Mas minha amiga aqui — apontou para mim — deixou cair isso.

Olhei para baixo.

Meu crachá do trabalho estava no chão.

Quando me abaixei para pegar, outra mão pegou ao mesmo tempo.

A dele.

E o toque — simples, acidental — me deu um arrepio quente.

Nossos olhos se cruzaram de perto.

Era ele.

O moreno.

Os olhos verdes estavam ainda mais intensos de perto.

Profundos.

Observadores.

Perigosamente atentos.

Ele entregou meu crachá sem sorrir. Mas seu olhar falava mais do que qualquer gesto.

— Obrigada — murmurei, um pouco sem voz.

— De nada — respondeu, firme. A voz grave, calma, segura.

O loiro sorriu e se apresentou primeiro.

— Eu sou Enrico. E esse aqui é o Ethan. — Bateu de leve no ombro firme do amigo. — E você é…?

— Hanna — respondi.

— Sabrina — completou minha irmã, sorrindo mais do que o necessário para Enrico.

Eles se sentaram?

Não.

Eles pairaram.

Ethan permaneceu olhando para mim por alguns segundos, como se analisasse cada microexpressão. Havia algo enigmático nele, um misto de intensidade e controle. Um tipo de homem que, sem dizer uma palavra, já transmite alerta ao corpo inteiro.

E ele notou meu nervosismo. Tenho certeza.

Porque ergueu a sobrancelha de forma quase imperceptível.

Uma pergunta silenciosa.

Enrico, por outro lado, se inclinou empolgado.

— Estão comemorando algo?

— Uma entrevista — respondeu Sabrina antes de mim. — Minha irmã foi chamada para uma empresa enorme.

— Impressionante — ele disse, genuinamente animado. — Deve ser pra alguém muito competente.

Senti minhas bochechas esquentarem.

Mas enquanto Enrico falava, eu sentia o peso do olhar de Ethan. Não era invasivo. Não era grosseiro.

Era… curioso.

Como se tentasse entender por que meus olhos fugiam do dele.

E justamente por fugir… ele continuava olhando.

Por fim, Ethan tocou o braço de Enrico, chamando-o com um breve aceno.

— Vamos? — disse ele, num tom que parecia firme demais para ser apenas uma sugestão.

— Claro, claro. — Enrico piscou para Sabrina. — A gente se vê por aí.

Eles se afastaram.

Mas antes de entrar no fluxo de pessoas, Ethan virou o rosto para trás.

E olhou para mim uma última vez.

Um olhar que percorreu minha pele como um rastro elétrico.

Um olhar que dizia:

vi você.

e não vou esquecer.

Respirei fundo, tentando recuperar a compostura.

Sabrina deu um tapa leve no meu braço.

— Hanna.

— O quê?

— Se esse homem olhar pra você assim mais uma vez, você vai engravidar pelo olhar.

Revirei os olhos, mas ri.

E ali, entre vinho, barulho e o coração descompassado, percebi:

Talvez…

só talvez…

a vida estivesse prestes a me levar para um lugar completamente diferente.

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