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Entre o Chefe e o Passado
Entre o Chefe e o Passado
Por: Isa S
CAPITULO 1 - O DIA EM QUE A MINHA VIDA RACHOU

Hanna

Eu sempre chego cedo ao trabalho. É quase um ritual: café forte, silêncio no escritório ainda vazio e a sensação de controle sobre a própria vida. Quase quatro anos no comercial me ensinaram a ser firme, objetiva, resiliente.

Mas naquela segunda-feira… algo em mim já acordara deslocado.

O celular vibrava dentro da minha bolsa, insistente. Ignorei. O cansaço dos últimos meses pesava demais — não só o profissional, mas aquele silêncio estranho entre mim e Porter. Ele dizia que era “fase”, que a pressão de comandar a empresa de engenharia estava consumindo quase tudo. Eu acreditava. Sempre acreditei.

Só que o toque não era meu.

Era o dele.

Porter havia esquecido o celular no meu carro — o que nunca acontecia — e esse simples detalhe fez um desconforto gelado se instalar na minha boca do estômago.

Entrei na minha sala, deixei a bolsa na mesa e tentei fingir normalidade. Mais um dia, mais um início de semana, mais um conjunto de metas. Ou pelo menos era para ser.

O aparelho vibrou de novo.

“Alicia – 3 novas mensagens.”

A assistente nova dele. Jovem, eficiente, recém-formada. Um nome mencionado com naturalidade nas últimas semanas.

Por que ela mandaria mensagens tão cedo?

O celular vibrou outra vez, insistente, quase provocando minha coragem.

Eu sabia que não deveria.

Mas abri.

Desbloqueei com o código que sempre usamos.

E o mundo encolheu na minha frente.

“Não consegui dormir pensando em ontem.”

“Acha que sua esposa percebeu algo?”

“Ainda sinto você. Me liga quando puder.”

A xícara escorregou da minha mão. O café formou uma mancha marrom e caótica sobre a mesa — perfeita representação de tudo que desmoronava dentro de mim.

Meu casamento.

Minha vida construída ao lado do meu primeiro amor.

Todas as noites que dormi sozinha acreditando nas desculpas.

Tudo.

Tudo era mentira.

Respirei fundo — ou tentei. E mesmo assim, continuei trabalhando. Era o que eu sabia fazer quando o mundo ameaçava cair: cumprir obrigações. Enfiei meu coração estilhaçado embaixo da mesa e respondi e-mails, revisei contratos, negociei com clientes. Automática. Anestesiada.

Mas o relógio não ajudava. Só duas horas tinham passado.

Quando meu celular vibrou, meu corpo inteiro gelou.

“Amor, você vai almoçar em casa hoje?”

“Outra coisa, vê pra mim se meu celular ficou no carro.”

Ele escrevia como se nada tivesse acontecido. Como se eu não tivesse visto. Como se minha vida ainda fosse a mesma.

“Vou ver.”

Foi tudo o que consegui responder.

Guardei o aparelho, mas o peso continuou dentro de mim, duro e frio.

O estrondo na porta me arrancou dos pensamentos.

— Hanna! — Mara entrou como um furacão tropeçando no próprio pé, quase derrubando a bolsa. — Sobrevivi ao caminho até aqui, pode aplaudir.

Eu forcei um sorriso.

Mara era impossível de ignorar — e talvez fosse bom assim.

— Café? — ela perguntou já pegando minha caneca sem permissão. — Me conta tudo. Tudo! — disse, agitando as mãos. — Teve romance no fim de semana? Drama? Fogos de artifício?

Se eu abrisse a boca para dizer a verdade, eu desmoronaria ali mesmo.

— Nada demais — murmurrei.

Ela revirou os olhos dramaticamente. — Ah, que tédio. A gente precisa te arrastar para alguma aventura urgente… antes que vire uma planilha humana.

Eu ri. Rir parecia proibido naquele dia, e ainda assim ela conseguia arrancar isso de mim. Deixou uma caneta cair, tropeçou no tapete, derrubou a própria xícara — tudo num intervalo de dez segundos.

— Você é impossível — eu disse, balançando a cabeça.

— Eu sei, meu bem. Mas alguém precisa ser o raio de sol desse escritório, e hoje você tá precisando mais que todo mundo. — Ela colocou a mão quente sobre meu braço. — Tô aqui, tá? Pra qualquer coisa.

Quando ela saiu, a sala mergulhou de novo no silêncio.

Mas agora o silêncio não me engolia.

Ele apenas… existia.

Meu celular vibrou outra vez.

Respirei. Não pulei. Não tremi. Apenas olhei.

E pela primeira vez naquele dia, uma centelha de algo diferente surgiu dentro de mim — não força, não coragem ainda — mas um começo.

A certeza de que nada seria igual.

E de que eu precisaria encontrar um caminho só meu — mesmo que isso significasse começar do zero.

Mesmo que doesse.

Mesmo que eu ainda não soubesse como.

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