Laura e Apollo sempre foram inseparáveis. Desde os dias de infância até as noites em que dividiam segredos sob o céu estrelado, eles acreditavam que nada poderia abalar a amizade pura e intensa que os unia. Mas o tempo, com sua forma silenciosa de transformar sentimentos, começou a mudar o que antes era simples. Quando um acontecimento inesperado ameaça afastá-los, ambos são forçados a confrontar o que há muito tempo evitavam: o amor escondido por trás de cada olhar, cada toque, cada sorriso. Entre escolhas difíceis, palavras não ditas e corações acelerados, Laura e Apollo precisarão decidir se vale a pena arriscar a amizade mais preciosa por um amor que pode ser eterno — ou acabar antes mesmo de começar.
Ler maisO telefone de Apollo mal parava de vibrar desde que fora confirmado como protagonista do filme. Mensagens da equipe, cronogramas de gravação, solicitações de figurino e, principalmente, recados de Bianca. Tudo era novo e empolgante, mas também começava a mudar o ritmo dos dias dele — e, inevitavelmente, da relação com Laura. ** No café, Laura tentava manter a mente ocupada, mas seu coração denunciava o incômodo que crescia a cada hora. Não era apenas sobre Apollo entrar no mundo do cinema, mas sobre a presença constante de Bianca. Sempre elegante, sorridente e “atenta demais” ao que não precisava de tanta atenção. Até que Laura decidiu que não ficaria mais nos bastidores. Na tarde seguinte, durante uma pausa nas gravações, ela foi até o local onde estavam filmando a primeira cena com Apollo. Vestia uma roupa simples, mas elegante, com um batom leve e os cabelos soltos. Quando chegou, viu Apollo ao lo
Era uma manhã comum no café de Laura e Apollo. A brisa suave atravessava a porta semiaberta, carregando o cheiro doce de pão fresco e café moído. Laura estava atrás do balcão, anotando algumas ideias para novos quitutes. Apollo, por sua vez, organizava as mesinhas do lado de fora, já pronto para mais um dia de sorrisos e rotina tranquila.Pelo menos, era o que eles imaginavam.**A movimentação diferente na rua chamou a atenção de todos. Vans, câmeras, pessoas com pranchetas, luzes refletoras. Um pequeno grupo se instalava no outro lado da praça com uma energia vibrante e intensa.— O que está acontecendo? — perguntou Laura, ajeitando o avental ao lado de Apollo.— Parece uma equipe de filmagem — respondeu ele, curioso.Pouco tempo depois, a notícia se espalhou: uma empresa de cinema independente havia escolhido aquela cidade charmosa como cenário para um novo projeto de filme. O roteiro? Um romance contemporâneo ambientado em cidades pequenas e cheias de personalidade. E para manter
O sol da manhã atravessava as cortinas brancas do quarto, trazendo um calor suave que tocava a pele de Laura como um carinho silencioso. Ela estava deitada ao lado de Apollo, os olhos fixos no teto, ouvindo o som do coração dele batendo calmo sob o toque de seus dedos.Haviam se passado quatro dias desde o sequestro. Quatro dias desde que ela gritou por socorro, desde que achou que não voltaria a ver o mundo do lado de fora. Desde que sentiu o gosto do medo, do pavor mais real — e também a força do amor que a salvou.Mas, mesmo em casa, mesmo segura, algo dentro dela ainda tremia.**Apollo acordou devagar e, ao ver Laura acordada, sorriu com ternura.— Bom dia, Laurinha...— Não consegui dormir. Fico lembrando de tudo… como se minha mente não desligasse.— É normal, amor. Vai levar tempo. Mas eu tô aqui. Com você, pra tudo.Ela se aproximou, se aconchegando mais.— Você salvou minha vida.Ele acariciou seus cabelos.— Você salvou a minha bem antes disso.**A terapeuta que a polícia
O dia amanheceu envolto em um céu cinzento, como se a cidade estivesse refletindo a ansiedade que pesava no ar. Laura sentia um nó no estômago desde o momento em que acordou. Apollo, mesmo tentando manter a calma, estava mais protetor do que nunca — cada passo de Laura era acompanhado por seu olhar atento.O Café Aurora abriu mais tarde naquele dia. A polícia havia reforçado a ronda pela região, e um dos agentes, Lucas, foi designado para ficar por perto, disfarçado de cliente. Ainda assim, Laura não conseguia relaxar.Apollo a abraçou por trás enquanto ela organizava as canecas.— Vai passar, Laurinha. Ele não vai chegar perto de você.— Eu só queria minha paz de volta, Apollo. E queria que você estivesse seguro também.Ele virou seu rosto para encará-la.— Eu fico seguro quando você está segura.**Por volta do meio-dia, Laura foi até o depósito buscar mais pacotes de açúcar. O lugar ficava nos fundos do café, uma sala pequena, sem janelas, usada como estoque. Ela deixou a porta ent
As manhãs ao lado de Apollo tornaram-se um refúgio para Laura. Desde o confronto no mirante, ela tentava manter a rotina, proteger o café, e, acima de tudo, proteger o que sentia. A tensão ainda rondava, como uma brisa gélida soprando pelas rachaduras das paredes. Mas, com Apollo por perto, tudo parecia suportável.Ou quase tudo.**Naquela segunda-feira, Laura acordou com uma sensação estranha. Como se estivesse sendo observada. Olhou ao redor do quarto e respirou fundo. Era só o silêncio. O mesmo silêncio que já havia sido companheiro por tanto tempo, mas que agora parecia carregar algo mais… algo escuro.Ela se levantou devagar, foi até a varanda do apartamento. Lá embaixo, tudo parecia normal. Mas algo em seu coração insistia em alertá-la. Apollo ainda dormia, os cabelos bagunçados, o peito subindo e descendo em um ritmo calmo. Laura não quis acordá-lo. Preferiu guardar o desconforto para si.**Enquanto isso, a poucos quarteirões dali, Davi observava a tela do computador com olho
A rotina no Café Aurora se estabelecia com graça. O aroma de café fresco preenchia o ambiente todas as manhãs, e risadas suaves se misturavam às páginas viradas dos livros. Laura agora despertava com leveza no peito, como se, enfim, pudesse respirar com plenitude. O amor com Apollo crescia em gestos simples — bilhetes deixados no balcão, olhares cúmplices no meio da multidão, abraços inesperados no fim do dia.Mas nem todo amor floresce sem que sombras tentem sufocar suas raízes.**Naquela terça-feira nublada, Laura organizava a nova estante de livros quando notou algo estranho. Um envelope pardo, sem remetente, repousava sobre o balcão, entre duas xícaras de porcelana.— Apollo, você deixou isso aqui? — perguntou, levantando o envelope.— Não... o que é?Laura abriu o envelope devagar. Dentro havia uma única folha de papel, com letras recortadas de revistas:“Nem tudo que parece perfeito dura pra sempre.”Um arrepio percorreu sua espinha. Apollo pegou o bilhete e analisou com cuidad
Os dias finalmente pareciam sorrir para Laura. A cada manhã, o sol entrava pelas janelas de forma diferente, como se iluminasse partes dela que estiveram apagadas por tempo demais. O trauma não havia desaparecido por completo — ainda havia momentos de silêncio profundo, de suspiros longos e olhos marejados sem aviso —, mas agora havia algo mais forte ali: vontade de recomeçar.Laura estava sentada à mesa da cozinha, com uma xícara de café nas mãos, observando um caderno antigo. Nele, havia rascunhos de ideias, esboços de projetos, listas de desejos. Era seu diário de planos. E ela finalmente estava pronta para abrir aquelas páginas de novo.Apollo surgiu na cozinha, ainda sonolento, com os cabelos bagunçados e um sorriso preguiçoso.— Bom dia, minha escritora favorita — disse ele, beijando o topo da cabeça dela.Laura riu, encostando o rosto em seu peito quando ele a abraçou por trás.— Não sou escritora, só tenho ideias aleatórias.— Errado. Você tem ideias incríveis e está apenas es
A manhã seguinte parecia carregar o peso de uma tempestade que acabara de passar. O céu estava coberto por nuvens densas, mas não chovia. Era como se o mundo respeitasse o silêncio de Laura.Ela estava deitada no sofá da casa de Apollo, com uma manta até os ombros e os olhos fixos no nada. As palavras ainda não vinham. Desde que acordara, havia dito apenas o necessário. “Sim.” “Não.” “Obrigada.” Tudo o que vinha depois disso morria em sua garganta.Apollo, por sua vez, sentia um aperto constante no peito. Ele a observava com olhos cheios de culpa, tentando encontrar uma forma de ajudar, de aliviar a dor que agora transbordava nos silêncios de Laura.— Trouxe chá — disse ele, se aproximando com uma caneca quente nas mãos. — Camomila. Lembra que você disse que sempre te acalmava?Laura desviou o olhar da janela e finalmente encarou Apollo. Havia um brilho opaco nos olhos dela, como se algo dentro estivesse se escondendo atrás de uma névoa.— Obrigada — disse, pegando a xícara.Apollo se
A escuridão já tomava conta da cidade quando Laura saiu do curso de fotografia. As luzes dos postes tremeluziam sobre o asfalto molhado pela garoa fina que insistia em cair. Apollo havia prometido buscá-la, mas um imprevisto no trabalho o prendeu por mais tempo. Ela decidiu esperar em frente ao prédio, distraída no celular enquanto enviava uma mensagem para ele.> Tô aqui fora, amor. Me avisa quando estiver perto.Minutos se passaram. O frio aumentou, e ela encolheu os ombros, buscando calor no próprio casaco. Um carro preto estacionou devagar na esquina. Ela não deu atenção. Até que a buzina soou duas vezes.— Laura? — chamou uma voz familiar.Ela olhou e reconheceu o rosto de Davi à janela do carro. Ele sorria, como se nada tivesse acontecido entre eles.— O que você tá fazendo aqui? — perguntou, mantendo distância.— Vi que você tava sozinha e pensei em te dar uma carona até o Apollo chegar. Sei que tá frio e... — Ele ergueu as mãos. — Paz. Só quero ajudar.— Não precisa. Ele já tá