Laura e Apollo sempre foram inseparáveis. Desde os dias de infância até as noites em que dividiam segredos sob o céu estrelado, eles acreditavam que nada poderia abalar a amizade pura e intensa que os unia. Mas o tempo, com sua forma silenciosa de transformar sentimentos, começou a mudar o que antes era simples. Quando um acontecimento inesperado ameaça afastá-los, ambos são forçados a confrontar o que há muito tempo evitavam: o amor escondido por trás de cada olhar, cada toque, cada sorriso. Entre escolhas difíceis, palavras não ditas e corações acelerados, Laura e Apollo precisarão decidir se vale a pena arriscar a amizade mais preciosa por um amor que pode ser eterno — ou acabar antes mesmo de começar.
Ler maisA brisa da tarde acariciava os cabelos de Laura enquanto ela observava o sol começar a se esconder atrás dos prédios da cidade. Ela estava sentada no telhado do prédio onde morava desde a adolescência — o mesmo onde Apollo costumava aparecer com uma Coca-Cola gelada em uma mão e piadas prontas na outra. Era o lugar deles. E era ali que ele apareceu, como sempre, pontualmente às 18h, com o mesmo sorriso torto que conseguia arrancar dela o riso mais sincero.
— Trouxe chocolate. — Apollo balançou a barra na frente dela, se sentando ao seu lado. — Não é um pedido de desculpas, só um suborno mesmo. Laura riu, pegando o chocolate e mordendo um pedaço antes de falar. — Não precisa subornar. Mas… o que você quer? Ele fingiu estar ofendido, colocando a mão no peito como se ela o tivesse ferido. — Talvez eu só tenha sentido sua falta, sabia? Ela desviou o olhar, tentando não deixar o sorriso crescer demais. Essa era a rotina dos dois: brincadeiras, provocações, carinho disfarçado de amizade. Era confortável. Era familiar. Mas, ultimamente, também era estranho. Laura não sabia quando começou a reparar demais no jeito que Apollo a olhava quando achava que ela não estava vendo. Ou no quanto o coração dela acelerava quando ele se aproximava um pouco mais do que o necessário. — Te conheço, Apollo. Quando você começa com esse tom meloso, é porque alguma coisa está entalada aí — ela apontou para o peito dele — e você não quer dizer. Ele ficou em silêncio por um instante, olhando o céu ganhar tons alaranjados. Então, finalmente, falou: — Você já pensou no que seria da gente… se não fôssemos só amigos? A pergunta caiu como uma pedra na calma do fim de tarde. Laura piscou algumas vezes, tentando absorver o que acabara de ouvir. A vontade era de rir, de dizer que era só mais uma das provocações bobas de Apollo. Mas havia algo diferente no tom dele. Havia uma seriedade que ela raramente via. — Por que está me perguntando isso agora? — Porque às vezes eu fico imaginando como seria… te beijar. Acordar com você. Ficar perto, sem precisar fingir que não sinto o que sinto. Laura sentiu o coração bater forte. Por um segundo, pensou se estava sonhando. Apollo sempre foi intenso, mas nunca romântico. Nunca… vulnerável assim. — Apollo… a gente é melhor amigo há quase dez anos. Você tem noção do que está dizendo? — Tenho. E é exatamente por isso que estou dizendo. Eu passei tempo demais com medo de estragar tudo, mas hoje eu só consigo pensar em como seria se desse certo. Ela ficou em silêncio. A verdade é que Laura também já tinha se feito essa pergunta mais vezes do que gostaria de admitir. Mas entre o medo de perder a amizade mais preciosa da sua vida e a dúvida se aquilo tudo não passava de confusão, ela sempre optou por calar. Até agora. — E se não der certo? — ela perguntou, a voz mais baixa do que queria. — A gente vai continuar sendo a dupla mais teimosa do universo. E eu vou te reconquistar, do jeito que for preciso. — Ele sorriu, um sorriso pequeno, cheio de esperança e medo ao mesmo tempo. Laura olhou para ele, sentindo o peso do momento. Algo dentro dela gritava por um passo adiante. Por finalmente deixar os sentimentos falarem mais alto. Mas também havia o receio. A dor antecipada de perder o que tinham, caso o amor não fosse suficiente. Ela se aproximou, encostando a cabeça no ombro dele. — Eu não sei o que vai acontecer, Apollo. Mas… eu quero descobrir. E ali, sob o céu alaranjado e entre silêncios carregados de significado, dois melhores amigos deram o primeiro passo rumo a algo que poderia mudar tudo. Para sempre.Era madrugada. A cidade dormia sob um céu opaco, encoberto por nuvens pesadas e silêncio. Laura acordou com uma dor que rasgava diferente. Não era como as contrações de treinamento. Era fundo, pulsante, um chamado.Sentou-se na cama, respirando devagar. Olhou o relógio: 03:12 da manhã. Sentiu outra contração — mais intensa, mais certeira.— Apollo... — chamou, com a voz trêmula.Ele acordou num pulo.— Tá tudo bem? Laura?— Acho que... chegou a hora.A frase soou como um trovão silencioso. Ele vestiu a primeira camisa que viu, tropeçou em um chinelo, correu até a porta e depois voltou pra ampará-la com cuidado.— Respira comigo, amor. Devagar... isso, assim...Entre respirações e instruções da obstetra pelo telefone, colocaram a bolsa da maternidade no carro e partiram. O mundo parecia suspenso, as luzes dos postes passavam como vultos dourados, e dentro do carro só se ouvia o som ritmado da respiração de Laura
Aurora.Esse foi o nome que escolheram.Laura o disse em voz alta pela primeira vez enquanto acariciava a barriga, sentada na poltrona branca do quarto que estavam montando. Apollo ouviu e parou o que estava fazendo — tentava montar o berço sem olhar o manual.— Aurora? — ele repetiu.— A luz depois da escuridão. O recomeço. O nascer de um novo dia... — Ela virou o rosto para ele. — Acho que é o nome dela.Apollo deixou a chave de fenda cair devagar no chão e foi até Laura. Ajoelhou-se, pousou a cabeça sobre a barriga já um pouco saliente e sussurrou:— Oi, Aurora. Eu sou o seu pai. E vou te amar pra sempre.---Os preparativos começaram como um redemoinho de emoções. O quarto foi ganhando vida aos poucos: tons de lilás e creme, bichinhos de pelúcia, quadros com frases inspiradoras, e o móbile que Apollo montou sozinho e pendurou com orgulho sobre o berço.Laura, porém, começou a sentir as mudanças emocionai
Laura passava os dedos lentamente sobre a barriga ainda discreta, como se pudesse tocar o pequeno universo que crescia ali dentro. Cada dia parecia mais real, mais vibrante, mais vivo. O coração batia em ritmo acelerado só de pensar: “Hoje, a gente vai descobrir quem é você.”Apollo estava eufórico desde que acordara. Correu pela casa colocando balões, fitas, organizando a playlist e checando se tudo estava perfeito. Era a primeira grande comemoração deles como uma família em formação — e ele queria que fosse inesquecível.— Você acha que é menino ou menina? — ele perguntou pela terceira vez naquela manhã, colocando o último balão na parede da varanda.Laura sorriu, observando-o com ternura.— Eu sonho com uma menininha. Mas também sonho com um menininho. Então... acho que sonho com você em versão miniatura.— Uma versão de nós dois. Isso já é surreal o suficiente.— Não importa o que venha... já é tudo o que eu sempre quis.---O chá revelação seria simples e acolhedor, como tudo que
O teste já estava guardado em uma caixinha branca, trancada na gaveta da escrivaninha, mas parecia vibrar em silêncio cada vez que Laura passava por perto. Fazia duas semanas desde que ela e Apollo descobriram que seriam pais. Eles prometeram guardar a notícia apenas entre os dois por um tempo, e até ali tinham conseguido. Quase.— Eu vou explodir se não contar isso pra alguém — Apollo disse num domingo qualquer, enquanto eles arrumavam a sala para receber os pais de Laura para um almoço.— Eu também — Laura riu, ajeitando as almofadas do sofá. — Mas vamos fazer isso direito. Hoje, contamos pra minha família. Depois, a sua. E então… pro mundo.Apollo passou o braço pela cintura dela e beijou sua testa.— Vamos fazer isso do nosso jeito. Do jeitinho certo.---Os pais de Laura chegaram pontualmente às 13h. Dona Vera, com sua energia vibrante, trouxe flores e um bolo caseiro. O pai, Seu Marcos, entrou sorrindo, com aquele olha
Os dias corriam mais suaves. Desde que Laura e Apollo fizeram aquela promessa no jantar, a rotina continuava sendo intensa, mas agora havia uma intenção mais clara: não se perderem no meio dela. Era sábado de manhã, e o sol iluminava o apartamento com um brilho dourado. Laura acordou antes de Apollo, algo raro. Ela sentia o corpo estranho, mais sensível, como se houvesse um turbilhão silencioso rodando por dentro. Levantou devagar, foi até a cozinha e preparou um café. O cheiro do grão fresco começou a se espalhar pelo ambiente enquanto ela mexia a colher com lentidão. Estava inquieta há dias, mas naquela manhã a inquietação tinha nome. Atraso. Pegou o celular, abriu o aplicativo de ciclo menstrual e confirmou: cinco dias de atraso. Respirou fundo, tentando não se apressar em conclusões. A mente tentava justificar: estresse, mudança de rotina, noites mal dormidas. Tudo poderia interferir. Mas mesmo assim, seu coração batia
O som dos carros, o barulho apressado das ruas e a claridade filtrada pelas janelas do apartamento eram um contraste gritante com a paz silenciosa do chalé onde haviam passado os últimos dias. O relógio marcava sete da manhã, e o despertador tocou com um som agudo demais para um casal que havia se acostumado ao canto dos pássaros e ao farfalhar das folhas.Laura abriu os olhos devagar, franzindo o nariz. Apollo, ainda enroscado nela, murmurou:— Esse alarme parece um castigo divino.— Bem-vindo à realidade. — Ela riu, escondendo o rosto no peito dele. — Casados e com contas pra pagar.— É... a lua de mel acabou.— Mas o amor não. — ela sussurrou.Ele a beijou no topo da cabeça antes de se levantar com dificuldade.— Tá legal... onde é que fica o botão do modo “vida adulta”?---O primeiro dia de volta foi um emaranhado de compromissos. Laura retomou os atendimentos no estúdio de design onde trabalh
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