Era quase noite quando Laura decidiu ir até o apartamento de Apollo.
Ela já havia ensaiado o que diria dezenas de vezes: que sentia falta dele, que não entendia seu silêncio, que só queria ouvir a verdade — mesmo que doesse. Mas nada a preparou para o que realmente encontrou. Apollo abriu a porta com o rosto sério, os olhos cansados. O mesmo homem que, dias atrás, havia confessado querer beijá-la, agora parecia distante, fechado, como se vestisse uma armadura. — Oi — ela disse, nervosa. — A gente precisa conversar. — Acho que não tem mais o que conversar, Laura. Ela travou. — Como assim? Ele desviou o olhar, cruzando os braços como se aquilo fosse protegê-lo da dor que estava prestes a causar — ou, talvez, para esconder a verdade que ardia dentro dele. — Eu pensei melhor sobre tudo. Sobre nós. E percebi que… foi um erro. Aquela conversa no telhado, o jantar… não era real. Eu confundi as coisas. A gente é amigo, só isso. Laura ficou em silêncio por alguns segundos, tentando entender se aquilo era um pesadelo. — Está dizendo que… tudo foi uma mentira? — Foi. — Ele respondeu seco, rápido demais. Rápido o suficiente para parecer uma fuga. — Então, quando me olhou daquele jeito? Quando disse que queria me beijar? — A voz dela falhava. — Isso também era mentira? Apollo hesitou. Só por um segundo. Mas foi o suficiente para ela perceber a verdade por trás da mentira. — Sim. — Ele mentiu de novo. Cruelmente. Laura sentiu algo se partir dentro do peito. Como se anos de laços, memórias e afeto tivessem sido rasgados em segundos. — Entendi… — ela murmurou, os olhos marejados. — Você sabe, se fosse só medo, eu entenderia. Mas mentira, Apollo? Isso… isso destrói tudo. Ela virou as costas antes que ele pudesse ver as lágrimas caírem. E Apollo? Ficou parado na porta, estático, sufocando a vontade desesperada de correr atrás dela e dizer que estava mentindo. Que a amava. Que estava morrendo de medo de perdê-la… e agora talvez tivesse conseguido exatamente isso. --- Laura andou sem rumo por algumas quadras, engolindo o choro. Seu corpo tremia, e a dor parecia crescer a cada passo. Até que, sem pensar, puxou o celular e ligou para o único número que lhe veio à cabeça. — Alô? — Davi… você pode me encontrar? A voz dela quebrou, e ele entendeu imediatamente. — Claro. Me diz onde você tá. --- Sentados no banco de uma praça, Davi a ouviu em silêncio. Laura falava pouco, mas o suficiente para ele entender que alguém havia pisado fundo em seu coração. — Ele mentiu pra mim, Davi. Disse que tudo o que aconteceu… era confusão. Que não sentia nada. Davi passou o braço ao redor dos ombros dela, a puxando para perto com cuidado. — Então ele é um idiota. Porque eu teria dado tudo pra ser o homem que você amasse desse jeito. Laura suspirou, cansada. Ela não queria beijos. Nem promessas. Ela só queria paz. E, naquele momento, no meio do caos, Davi oferecia exatamente isso: presença. Mas mesmo ali, com o abraço quente e o apoio sincero, o nome que ainda doía era o mesmo. Apollo.