A brisa da tarde acariciava os cabelos de Laura enquanto ela observava o sol começar a se esconder atrás dos prédios da cidade. Ela estava sentada no telhado do prédio onde morava desde a adolescência — o mesmo onde Apollo costumava aparecer com uma Coca-Cola gelada em uma mão e piadas prontas na outra. Era o lugar deles. E era ali que ele apareceu, como sempre, pontualmente às 18h, com o mesmo sorriso torto que conseguia arrancar dela o riso mais sincero.
— Trouxe chocolate. — Apollo balançou a barra na frente dela, se sentando ao seu lado. — Não é um pedido de desculpas, só um suborno mesmo. Laura riu, pegando o chocolate e mordendo um pedaço antes de falar. — Não precisa subornar. Mas… o que você quer? Ele fingiu estar ofendido, colocando a mão no peito como se ela o tivesse ferido. — Talvez eu só tenha sentido sua falta, sabia? Ela desviou o olhar, tentando não deixar o sorriso crescer demais. Essa era a rotina dos dois: brincadeiras, provocações, carinho disfarçado de amizade. Era confortável. Era familiar. Mas, ultimamente, também era estranho. Laura não sabia quando começou a reparar demais no jeito que Apollo a olhava quando achava que ela não estava vendo. Ou no quanto o coração dela acelerava quando ele se aproximava um pouco mais do que o necessário. — Te conheço, Apollo. Quando você começa com esse tom meloso, é porque alguma coisa está entalada aí — ela apontou para o peito dele — e você não quer dizer. Ele ficou em silêncio por um instante, olhando o céu ganhar tons alaranjados. Então, finalmente, falou: — Você já pensou no que seria da gente… se não fôssemos só amigos? A pergunta caiu como uma pedra na calma do fim de tarde. Laura piscou algumas vezes, tentando absorver o que acabara de ouvir. A vontade era de rir, de dizer que era só mais uma das provocações bobas de Apollo. Mas havia algo diferente no tom dele. Havia uma seriedade que ela raramente via. — Por que está me perguntando isso agora? — Porque às vezes eu fico imaginando como seria… te beijar. Acordar com você. Ficar perto, sem precisar fingir que não sinto o que sinto. Laura sentiu o coração bater forte. Por um segundo, pensou se estava sonhando. Apollo sempre foi intenso, mas nunca romântico. Nunca… vulnerável assim. — Apollo… a gente é melhor amigo há quase dez anos. Você tem noção do que está dizendo? — Tenho. E é exatamente por isso que estou dizendo. Eu passei tempo demais com medo de estragar tudo, mas hoje eu só consigo pensar em como seria se desse certo. Ela ficou em silêncio. A verdade é que Laura também já tinha se feito essa pergunta mais vezes do que gostaria de admitir. Mas entre o medo de perder a amizade mais preciosa da sua vida e a dúvida se aquilo tudo não passava de confusão, ela sempre optou por calar. Até agora. — E se não der certo? — ela perguntou, a voz mais baixa do que queria. — A gente vai continuar sendo a dupla mais teimosa do universo. E eu vou te reconquistar, do jeito que for preciso. — Ele sorriu, um sorriso pequeno, cheio de esperança e medo ao mesmo tempo. Laura olhou para ele, sentindo o peso do momento. Algo dentro dela gritava por um passo adiante. Por finalmente deixar os sentimentos falarem mais alto. Mas também havia o receio. A dor antecipada de perder o que tinham, caso o amor não fosse suficiente. Ela se aproximou, encostando a cabeça no ombro dele. — Eu não sei o que vai acontecer, Apollo. Mas… eu quero descobrir. E ali, sob o céu alaranjado e entre silêncios carregados de significado, dois melhores amigos deram o primeiro passo rumo a algo que poderia mudar tudo. Para sempre.