Era madrugada. A cidade dormia sob um céu opaco, encoberto por nuvens pesadas e silêncio. Laura acordou com uma dor que rasgava diferente. Não era como as contrações de treinamento. Era fundo, pulsante, um chamado.
Sentou-se na cama, respirando devagar. Olhou o relógio: 03:12 da manhã. Sentiu outra contração — mais intensa, mais certeira.— Apollo... — chamou, com a voz trêmula.Ele acordou num pulo.— Tá tudo bem? Laura?— Acho que... chegou a hora.A frase soou como um trovão silencioso. Ele vestiu a primeira camisa que viu, tropeçou em um chinelo, correu até a porta e depois voltou pra ampará-la com cuidado.— Respira comigo, amor. Devagar... isso, assim...Entre respirações e instruções da obstetra pelo telefone, colocaram a bolsa da maternidade no carro e partiram. O mundo parecia suspenso, as luzes dos postes passavam como vultos dourados, e dentro do carro só se ouvia o som ritmado da respiração de Laura