Quanto custa a sua dignidade? Para a talentosa escultora Helena, o preço foi sua própria liberdade. Em uma noite desesperada para salvar o legado de sua família, ela entra em um leilão clandestino para os ultra-ricos, um lugar onde tudo tem um preço. Por um fim de semana, ela é arrematada e se torna propriedade de um desconhecido misterioso e dominante, um homem cujo toque incendeia seu corpo e cuja identidade é um segredo. A paixão avassaladora rapidamente se transforma em um pesadelo quando o véu cai: seu amante enigmático é ninguém menos que Dante Alencar, o CEO impiedoso que ela considera seu inimigo mortal. Agora, presa a ele por um contrato de noivado que ela não pode quebrar, Helena é forçada a navegar em um jogo perigoso de sedução e poder. Cada olhar é uma batalha, cada beijo uma rendição, e cada momento juntos a empurra para mais perto de perder não apenas sua independência, mas seu coração. Em um mundo onde tudo é comprado e vendido, pode um amor nascido de uma transação ser real? Ou ela será apenas mais um luxo na coleção do bilionário?
Leer másA poeira de mármore pairava no ar da oficina, uma névoa cintilante sob a luz dourada do fim de tarde que entrava pelas janelas altas. Para Helena, aquele pó era sagrado. Tinha o cheiro de seu pai, da sua infância, do trabalho honesto que transformava pedra bruta em alma. Hoje, no entanto, o cheiro parecia o de cinzas. Suas mãos, normalmente firmes e hábeis, tremiam ao segurar o papel que manchava a santidade de sua mesa de trabalho.
Não era a primeira notificação, mas era, inequivocamente, a última.
AVISO FINAL DE EXECUÇÃO.
As palavras eram frias, impessoais, impressas em um preto agressivo que parecia zombar da arte e da vida que a cercavam. A caligrafia de seu pai na placa de madeira pendurada na porta – "Ateliê Santos: Onde a Pedra Ganha Vida" – parecia uma relíquia de um mundo que não existia mais. Um mundo onde as dívidas não eram agiotas com nomes de corporações e onde o trabalho duro era o suficiente.
A dívida não era dela, não originalmente. Fora o erro de seu irmão mais novo, Ricardo, e seu sonho estúpido de expandir o negócio com o dinheiro errado. Um empréstimo rápido, ele dissera. Uma "ponte" até fecharem um contrato grande. A ponte desabou, o contrato evaporou, e o que restou foi um predador financeiro que agora ameaçava tomar tudo. A oficina em Candeias, a casa da família, o último vestígio tangível de seus pais.
Helena amassou o papel, o som do ato um ruído violento no silêncio da oficina. Ela olhou para a escultura inacabada à sua frente: uma figura feminina emergindo da pedra, o rosto contorcido em uma expressão de luta e anseio. Era um autorretrato, ela sabia, embora nunca fosse admitir. A mulher na pedra estava presa, exatamente como ela.
O toque do celular a sobressaltou. O nome "Carla" brilhou na tela. Helena hesitou. Carla era sua amiga de infância, mas a vida a levara para os cantos mais... pragmáticos de Salvador. Ela trabalhava como hostess em eventos de luxo, um pé no mundo que Helena só via em revistas. Um mundo que a repulsava e, naquele momento, a aterrorizava. Ela atendeu.
— Você viu minhas mensagens? — a voz de Carla era rápida, sem rodeios.
— Eu estive ocupada, Carla.
— Ocupada ignorando o fim do mundo? Ricardo me ligou, chorando. Eu sei do aviso final, Lena.
Helena fechou os olhos, a ponte de seu nariz latejando. — Não há nada a fazer.
— Isso não é verdade — a voz de Carla baixou, adquirindo um tom conspiratório. — Existe uma coisa. Uma chance. Mas não é... convencional.
— O que você quer dizer?
— Estou trabalhando em um evento hoje à noite. Em um hotel de luxo na Vitória, em Salvador. Não é um evento qualquer. É... discreto. Privado. — Carla fez uma pausa, escolhendo as palavras com um cuidado que só aumentava a ansiedade de Helena. — É uma espécie de leilão de caridade. A 'elite da elite' vem. Eles doam quantias absurdas para causas nobres.
— E o que eu tenho a ver com isso? Vender minhas esculturas lá? Eles não comprariam minha arte, Carla, não é o estilo deles.
Um suspiro do outro lado da linha. — Eles não leiloam arte, Lena. Pelo menos, não o tipo que você faz.
O silêncio que se seguiu foi pesado. A poeira de mármore pareceu assentar, tornando o ar denso, difícil de respirar. O som distante das ondas quebrando na praia de Candeias, normalmente um consolo, soava agora como uma contagem regressiva.
— Diga de uma vez — a voz de Helena saiu rouca.
— Eles leiloam... experiências. Jantares, viagens. Companhia. Uma das garotas que seria acompanhante em um pacote de fim de semana... desistiu. Aconteceu um imprevisto. Eles precisam de uma substituta. Alguém elegante, bonita, que saiba conversar e que, acima de tudo, precise muito de dinheiro e saiba ficar de boca fechada.
Helena sentiu o estômago revirar. A náusea subiu por sua garganta, amarga como bílis. — Você está me sugerindo... me vender?
— Não seja dramática! Não é isso. Você seria uma acompanhante. Uma presença. Uma bela mulher ao lado de um homem rico por um fim de semana em um resort de luxo. É isso. O lance mínimo para esse pacote é mais do que o suficiente para pagar o agiota três vezes. Você salva tudo, Helena. E ninguém nunca precisa saber. É o preço do silêncio.
— Não — a palavra saiu de seus lábios com uma força que ela não sentia. Era um reflexo, a reação de sua dignidade ferida. — Eu não vou fazer isso. Jamais.
— Ok — disse Carla, surpreendentemente calma. — Então aproveite suas últimas horas na oficina de seu pai. Abrace bem o Ricardo quando os homens do oficial de justiça colocarem as coisas de vocês na rua amanhã. Espero que seu orgulho mantenha vocês aquecidos à noite.
O clique da chamada encerrada foi mais alto que o barulho de um martelo.
Helena ficou paralisada, o telefone ainda pressionado contra a orelha. Orgulho. Era isso que a definia? Ela olhou ao redor. Para o cinzel de seu pai, gasto pelo uso. Para a primeira peça que ela esculpiu, um pequeno pássaro imperfeito que ele guardara como um tesouro. Para a cadeira de balanço no canto, onde sua mãe se sentava e lia para ela.
Aquilo não era orgulho. Era sua alma. E estavam prestes a arrancá-la dela.
A proposta de Carla era um veneno, uma abominação. Mas a alternativa... a alternativa era a aniquilação. Perder aquele lugar não era apenas perder um prédio; era perder o último elo com quem ela era, com sua história. Era deixar seu irmão à mercê de pessoas perigosas.
Uma hora se passou. O sol se pôs, e a oficina foi engolida pelas sombras. A mulher na pedra parecia observá-la, seu rosto de mármore um espelho do tormento de Helena. Com os dedos trêmulos, ela discou o número de Carla.
— Eu sabia que você ligaria — disse Carla, sem um pingo de surpresa.
— Quais são as regras? — a voz de Helena era um sussurro morto.
A viagem de Candeias para Salvador pareceu um borrão. Carla a guiou por telefone, dando instruções precisas. Um vestido preto, simples, que Carla havia deixado para ela com um motoboy. Sapatos de salto. Cabelo solto. Maquiagem mínima. — Você não precisa parecer uma profissional — Carla dissera. — Precisa parecer real. É isso que eles querem comprar. Um vislumbre de algo autêntico.
A ironia quase a fez rir.
Ela se viu na entrada do hotel mais luxuoso de Salvador, um arranha-céu de vidro e aço que perfurava o céu noturno como uma agulha de diamante. O ar condicionado do lobby era um choque contra sua pele quente e úmida do calor da Bahia. Mármore polido, lustres de cristal, pessoas deslizando pelo ambiente com uma elegância que parecia inata. Ela se sentiu como uma fraude, uma escultura mal-acabada em uma galeria de obras-primas.
Carla a encontrou perto dos elevadores, impecável em seu uniforme de hostess. Ela entregou a Helena um cartão magnético.
— Suíte presidencial. Andar 32. O evento é lá. Não fale com ninguém até eu chegar. Respire fundo, Lena. Lembre-se do porquê está aqui.
O elevador subia em um silêncio veloz e pressurizado. A cada andar, Helena sentia uma parte de si mesma sendo deixada para trás. A escultora. A filha. A mulher orgulhosa. Quando as portas se abriram no andar 32, o corredor era silencioso, forrado com um tapete tão grosso que seus passos não faziam barulho.
Ela parou diante da porta dupla de madeira escura da suíte presidencial. O som abafado de conversas e música clássica vazava por baixo dela. Era a porta de entrada para um inferno particular, um que ela estava escolhendo entrar. Pela sua família. Pelo seu passado.
Ela ergueu a mão, o coração batendo descompassado contra as costelas. Era um ponto sem retorno. O momento em que a pedra de sua vida seria irrevogavelmente partida. Com um último suspiro trêmulo, um adeus silencioso à mulher que ela fora até aquela manhã, Helena empurrou a porta.
A pergunta dele pairou no ar quente da enseada, simples na forma, mas carregada com o peso de tudo o que não fora dito. Quer nadar? Não era um convite, era um desafio. Um teste. Ele estava empurrando-a para a beira de um precipício para ver se ela recuaria ou saltaria. Recuar significaria ceder o pouco terreno que ela pensava ter conquistado, admitir que tinha medo dele, de si mesma. Saltar... saltar era impensável.Helena olhou para a água cristalina, depois para os olhos escuros e expectantes dele. Ela viu o predador ali, esperando pacientemente por sua presa. Mas viu outra coisa também: uma curiosidade genuína. Ele queria ver do que ela era feita. A escultora, a mulher que lutava contra a pedra, lutaria contra ele?Um novo tipo de fúria, diferente da raiva fria que a sustentara até então, começou a queimar em seu peito. Era uma fúria desafiadora. Ele achava que a tinha encurralado? Que ela era uma boneca assustada que ele podia manipular com suas palavras e seu dinheiro? Ele a via
Helena desceu os degraus de madeira que levavam à praia, sentindo-se absurdamente exposta. Ela não tinha trajes de banho, nem roupas de veraneio. Vestia a mesma roupa do dia anterior, o simples vestido preto que Carla lhe dera, agora amassado e inadequado sob o sol tropical. Era mais um lembrete de sua condição: ela não era uma convidada, era um item de bagagem, trazida para um propósito específico.A areia era branca e fina como açúcar, e seus pés afundaram nela. O sol da Bahia, já forte, aquecia seus ombros, e o oceano se estendia à sua frente, um tapete infinito de azul-turquesa e espuma branca. A praia era completamente deserta, uma faixa particular de paraíso reservada para eles. A beleza do lugar era tão avassaladora que chegava a ser cruel.Dante, ou "Leo", caminhava ao seu lado, mantendo uma distância respeitosa, mas Helena sentia sua presença como uma perturbação no ar. Ele havia trocado a camiseta por uma camisa de linho de mangas curtas, desabotoada no colarinho, revelando
O sono não foi um refúgio, mas uma série de vinhetas tensas e desconfortáveis. Helena despertou no sofá de veludo com o corpo dolorido e a mente em alerta máximo. A primeira luz do dia pintava o céu de tons suaves de rosa e laranja, uma beleza etérea que entrava pelas paredes de vidro do bangalô. O som do oceano era uma presença constante, um ritmo primordial que parecia indiferente ao seu tormento. Por um momento, deitada ali, ela se permitiu esquecer. Imaginou que era uma hóspede de verdade, uma artista que viera a Itacaré em busca de inspiração.A ilusão se desfez no instante em que ela se sentou. Cada músculo protestou contra a noite mal dormida, e a visão da porta fechada do quarto principal foi um lembrete brutal de sua realidade. Ele estava ali, a poucos metros, o homem que a comprara, o arquiteto de sua humilhação.Movida por uma necessidade de ar puro, de espaço, ela se levantou e deslizou a porta de vidro, saindo para o deck de madeira. O ar da manhã era uma carícia, carrega
A voz dele era como veludo escuro, um som que parecia envolver e sufocar ao mesmo tempo. Por um instante, o corpo de Helena reagiu antes de sua mente, um arrepio involuntário percorrendo sua pele, uma resposta primitiva àquele predador que a reclamava como sua. Mas então a fúria, pura e gélida, tomou o lugar do choque. Ela ergueu o rosto, forçando-se a encontrar aqueles olhos que as sombras não conseguiam mais esconder. Eram de um castanho profundo, quase negros, e brilhavam com uma inteligência e uma arrogância que a fizeram recuar um passo.— Eu não sou sua — a voz dela saiu mais firme do que esperava, cada sílaba cravada em desprezo. — Eu não sou de ninguém. Houve uma transação, um acordo de negócios. Você comprou o meu tempo, não a minha pessoa.Um canto de seus lábios se ergueu, um sorriso lento e perigoso que não alcançou seus olhos. Ele parecia mais divertido do que ofendido.— Uma distinção interessante. E eloquente. — Ele estendeu a mão, não para tocá-la, mas em um gesto que
A porta se abriu para um mundo de luz baixa e sussurros caros. O ar que atingiu Helena não era o da sua oficina em Candeias, pesado com o pó de pedra e o sal do mar, mas uma mistura artificialmente gelada de perfume importado, couro e uísque single malt. A suíte presidencial não parecia um quarto de hotel, mas o covil de uma sociedade secreta. Sofás de veludo escuro estavam dispostos em ilhas de conversação, e homens em ternos que custavam mais que o carro de Helena seguravam copos de cristal, suas vozes um murmúrio grave e confiante.Nenhuma mulher, além das que serviam discretamente as bebidas, estava em pé. Elas se sentavam ao lado dos homens, sorrindo com um brilho polido e vazio nos olhos. Helena sentiu um calafrio percorrer sua espinha. Ela não era como elas. Ela era uma impostora, uma peça de cerâmica crua em meio a diamantes lapidados, e todos pareciam saber disso. Cada olhar que cruzava o seu parecia desnudá-la, avaliá-la, precificá-la. Para sobreviver, ela fez o que sempre f
A poeira de mármore pairava no ar da oficina, uma névoa cintilante sob a luz dourada do fim de tarde que entrava pelas janelas altas. Para Helena, aquele pó era sagrado. Tinha o cheiro de seu pai, da sua infância, do trabalho honesto que transformava pedra bruta em alma. Hoje, no entanto, o cheiro parecia o de cinzas. Suas mãos, normalmente firmes e hábeis, tremiam ao segurar o papel que manchava a santidade de sua mesa de trabalho.Não era a primeira notificação, mas era, inequivocamente, a última.AVISO FINAL DE EXECUÇÃO.As palavras eram frias, impessoais, impressas em um preto agressivo que parecia zombar da arte e da vida que a cercavam. A caligrafia de seu pai na placa de madeira pendurada na porta – "Ateliê Santos: Onde a Pedra Ganha Vida" – parecia uma relíquia de um mundo que não existia mais. Um mundo onde as dívidas não eram agiotas com nomes de corporações e onde o trabalho duro era o suficiente.A dívida não era dela, não originalmente. Fora o erro de seu irmão mais novo,
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