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Capítulo 5: A Textura da Areia

Helena desceu os degraus de madeira que levavam à praia, sentindo-se absurdamente exposta. Ela não tinha trajes de banho, nem roupas de veraneio. Vestia a mesma roupa do dia anterior, o simples vestido preto que Carla lhe dera, agora amassado e inadequado sob o sol tropical. Era mais um lembrete de sua condição: ela não era uma convidada, era um item de bagagem, trazida para um propósito específico.

A areia era branca e fina como açúcar, e seus pés afundaram nela. O sol da Bahia, já forte, aquecia seus ombros, e o oceano se estendia à sua frente, um tapete infinito de azul-turquesa e espuma branca. A praia era completamente deserta, uma faixa particular de paraíso reservada para eles. A beleza do lugar era tão avassaladora que chegava a ser cruel.

Dante, ou "Leo", caminhava ao seu lado, mantendo uma distância respeitosa, mas Helena sentia sua presença como uma perturbação no ar. Ele havia trocado a camiseta por uma camisa de linho de mangas curtas, desabotoada no colarinho, revelando um vislumbre de pele bronzeada. Ele parecia pertencer àquele lugar, com sua elegância casual e sua aura de quem era dono do mundo.

— Você não respondeu à minha pergunta — disse ele, a voz calma sobrepondo-se ao ritmo das ondas. — O que você esculpiria? Se não houvesse limites.

Helena chutou a areia, observando os grãos voarem.

— É uma pergunta inútil. Limites são tudo o que existe.

— Talvez — ele concedeu, para a surpresa dela. — Mas a arte não vive na imaginação antes de viver na pedra? Qual é a forma da sua imaginação sem correntes?

Ela parou, virando-se para ele, a frustração borbulhando.

— Por que você se importa? Por que essa farsa de interesse na minha arte? Você me comprou. Não precisa fingir que se interessa pela minha alma.

Ele parou também, o corpo virado para o dela. O sol estava atrás dele, transformando-o em uma silhueta escura e imponente.

— Quem está fingindo? Eu paguei por sua companhia, Helena. Isso inclui sua conversa. E, francamente, sua visão cínica do mundo é muito mais interessante do que a bajulação vazia a que estou acostumado. Então, me diga. Por que você esculpe pessoas?

A intensidade em seu olhar a desarmou. Ele não estava sendo galanteador; era uma curiosidade genuína, quase acadêmica.

— Porque as pessoas são feitas de contradições — ela respondeu, a voz baixa. — Elas são fortes e frágeis. Bonitas e monstruosas. A pedra não mente. Se há uma falha, uma rachadura, ela está lá. Você não pode escondê-la com um sorriso ou uma palavra bonita. Você tem que trabalhar com ela, ou ela quebra.

— A pedra não mente, mas o artista sim — ele contrapôs, dando um passo em sua direção. — A pedra só mostra a perspectiva do escultor. É uma mentira lindamente trabalhada, talvez, mas ainda assim uma interpretação. Você escolhe qual falha mostrar, qual força exaltar.

Ela ficou em silêncio, atordoada pela precisão de seu argumento. Ele a entendia, ou pelo menos entendia sua arte, de uma forma que poucas pessoas conseguiam.

Continuaram a caminhar. O sol esquentava, e o ritmo das ondas era hipnótico. Helena se viu relaxando um pouco, a raiva dando lugar a uma exaustão tensa. Foi então que aconteceu. Distraída pela conversa, ela não viu uma rocha lisa e molhada, escondida sob uma fina camada de areia. Seu pé escorregou.

O mundo inclinou-se violentamente. Ela soltou um grito abafado, esperando o impacto doloroso contra a rocha. Mas ele não veio. Em um movimento incrivelmente rápido, Dante se lançou à frente, seus braços envolvendo-a, puxando-a de encontro ao seu corpo para firmá-la.

Tudo parou. O som das ondas, o calor do sol, o mundo inteiro desapareceu, reduzido àquele único ponto de contato. Uma de suas mãos estava espalmada em suas costas, os dedos fortes pressionando o tecido fino de seu vestido, segurando-a como se ela não pesasse nada. A outra envolveu seu braço, firme. O rosto dela estava a centímetros do dele, o peito pressionado contra a parede sólida de seus músculos.

O choque percorreu seu corpo, mas foi seguido por uma onda de calor que não tinha nada a ver com o sol. Ela podia sentir a respiração dele em sua pele, o cheiro dele — sal, sol e algo inebriantemente masculino. Sua mente gritava para ela se afastar, para cuspir um insulto, mas seu corpo a traiu completamente. Ficou imóvel, o coração batendo descontroladamente, consciente de cada linha dura do corpo dele contra o seu.

Ela ergueu os olhos e encontrou o olhar dele. A diversão havia desaparecido. Seus olhos estavam escuros, tempestuosos, a pupila dilatada. Sua respiração estava tão irregular quanto a dela. Ele não estava mais jogando. Aquele era o homem por baixo da máscara, o predador olhando para sua presa, e ela viu em seus olhos o mesmo fogo que sentia queimar em suas próprias veias. Seu olhar desceu lentamente para a boca dela, e o ar ficou tão denso que era quase impossível respirar.

O momento se esticou, elástico e carregado de uma eletricidade crua. Ele ia beijá-la. Ela sabia disso. E a parte mais aterrorizante era que uma parte dela, uma parte traiçoeira e sombria, queria que ele o fizesse.

Mas ele não o fez.

Com um esforço visível, como se estivesse lutando contra uma força poderosa, a mandíbula dele se contraiu. Ele a soltou, mas seus dedos demoraram um instante a mais em sua pele, queimando-a. Ele deu um passo para trás, quebrando o feitiço. O mundo voltou a existir, barulhento e ofuscante.

— Cuidado onde pisa — a voz dele saiu rouca, um tom mais baixo e áspero do que antes.

Ele se virou, dando as costas a ela por um momento, como se precisasse se recompor. Ele olhou para o oceano, as mãos nos quadris.

— É isso que os homens como eu fazem, Helena. Vemos algo bonito, algo selvagem... e queremos possuir. — Ele gesticulou para a praia intocada. — Acha que esta beleza é livre? Não é. Ela pertence ao resort. Que, por sua vez, pertence a uma corporação. Tudo é um ativo. A beleza é apenas mais uma mercadoria, para ser comprada, controlada e desfrutada por quem pode pagar o preço.

A amargura em sua voz era palpável. Ele não estava apenas falando da praia; estava falando dela. Estava justificando a si mesmo, reafirmando as regras de seu universo para colocar a barreira de volta entre eles.

Eles continuaram a caminhar até chegarem a uma pequena enseada isolada, cercada por rochas negras e altas que criavam uma praia privada dentro da praia privada. A água ali era calma, uma piscina natural de um azul cristalino. Era um lugar de uma beleza íntima e avassaladora.

Dante parou, virando-se para encará-la. A compostura controlada estava de volta, mas seus olhos ainda guardavam a tempestade de momentos antes. Ele estava perto, mais perto do que o necessário.

— O acordo era a minha companhia por um fim de semana — ele disse, a voz um murmúrio deliberado. — A manhã está quase no fim. A tarde se aproxima. O que você sugere que façamos, Helena?

Ele olhou para a água calma e depois de volta para ela.

— Quer nadar?

A pergunta era simples, casual. Mas o subtexto era pesado, carregado de desafio. Nadar significaria se despir. Significaria vulnerabilidade. Era um convite e uma ordem, um novo movimento em seu jogo implacável, e ele estava, pela primeira vez, colocando a próxima peça na mão dela, apenas para ver o que ela faria com ela.

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