Lara sempre foi a filha esquecida. Rejeitada pelo pai desde o nascimento, culpada pela morte da mãe, cresceu à sombra das irmãs perfeitas e de uma família que nunca a quis por perto. Quando a empresa da família entra em colapso, ela é vendida como moeda de troca para um poderoso e temido sheik de Dubai. Khaled Rashid, um homem acostumado a ter tudo o que quer, vê em Lara mais do que uma esposa contratada — vê uma fragilidade que o intriga e uma força que o desafia. Frio, controlador e letal, ele se propõe a protegê-la... desde que ela nunca se envolva nos segredos que sustentam seu império. Entre luxos, medo, desejo e cicatrizes antigas, Lara terá que escolher: fugir de tudo o que a assusta ou enfrentar a verdade de que, pela primeira vez na vida, alguém pode ser capaz de lutar por ela — mesmo que esse alguém também seja um monstro. Mas quando a família dela reaparece disfarçada de amor, com sede de poder e ambição, Lara perceberá que o perigo real talvez não esteja em seu marido… mas no sangue que corre nas veias de quem a criou.
Ler maisAlberto Vasconcellos
A ruína não chega de uma vez. Ela se insinua aos poucos, como uma praga silenciosa, destruindo tudo o que construí ao longo dos anos. Eu a vi se aproximar, tentei resistir, mas era como segurar areia entre os dedos. A Vasconcellos Import & Export, a empresa que levei uma vida inteira para erguer, estava falida. Foram anos de glória. Eu dominava o mercado de commodities, transportando produtos valiosos pelo mundo inteiro. Meu nome era respeitado, meus contratos eram disputados e meu império parecia inabalável. Mas o mundo dos negócios é cruel. Com a ascensão de novas potências econômicas, a concorrência ficou impossível. Empresas chinesas e árabes começaram a dominar o setor, oferecendo preços com os quais eu simplesmente não podia competir. Os contratos começaram a cair. Clientes antigos romperam acordos que existiam há anos. Investidores se afastaram. Fiz de tudo para segurar minha posição: peguei empréstimos, cortei custos, apostei em novas estratégias. Mas foi inútil. A verdade é que eu estava lutando contra uma maré impossível de conter. E agora, aqui estou. Falido. Sentado em um salão privado de um dos poucos hotéis que ainda aceitam meu nome, encaro o copo de uísque na minha frente. É a única coisa que ainda me proporciona alguma sensação de controle. Ao meu redor, os poucos amigos que restaram tentam me convencer de que nem tudo está perdido. — Você precisa ouvir a gente, Alberto — diz Gustavo, recostando-se na cadeira. Ele parece absurdamente relaxado para um homem que está diante de um desastre. — Há uma oportunidade em Dubai. Lanço um olhar cético para ele. — Oportunidade? — solto uma risada amarga, girando o copo entre os dedos. — Gustavo, eu não tenho dinheiro nem para pagar as contas básicas. Você realmente acha que posso sair do país? Murilo, que até agora estava em silêncio, entra na conversa. Ele é o mais pragmático dos dois, sempre analisando tudo com uma frieza que chega a irritar. — Você não precisa de dinheiro, precisa de conexões. E é isso que estamos te oferecendo. Levanto uma sobrancelha, interessado apesar de mim mesmo. Conheço bem como essas coisas funcionam. Os árabes dominam os setores de petróleo e comércio internacional. Bilionários com negócios que poucos conseguem entender completamente. — E por que um sheik se interessaria pela minha empresa falida? Gustavo sorri, como se estivesse me entregando a chave de um cofre recheado de ouro. — Porque ele não quer a sua empresa, Alberto. Ele quer um novo parceiro para um projeto grande. Algo que pode te colocar de volta ao topo. Sinto uma fagulha de esperança. Pequena, mas existe. — Continuem. — Esse sheik é um dos homens mais ricos dos Emirados Árabes. Está expandindo os negócios para o Ocidente e quer um parceiro confiável. Ele nos pediu indicações e falamos de você — explica Murilo. Eu solto uma risada seca. — Indicaram um empresário falido? — Indicamos um homem experiente, que já teve um império e sabe como se reerguer — Gustavo retruca. — O sheik quer te conhecer. Cruzo os braços. — E por que eu teria que viajar para isso? — Porque ele é um homem tradicional. Gosta de conhecer pessoalmente aqueles com quem faz negócios. Ele quer ver sua essência, entender quem você é. Eu rio de novo, agora com ironia. — Minha essência? Ele quer que eu vá a Dubai para me avaliar como um cavalo em um leilão? Murilo dá de ombros. — Se quiser ver assim... Mas ele quer que você leve sua família. Minha expressão se fecha na mesma hora. — Minha família? — Sim. Ele valoriza isso. Quer ver com quem está se associando. Minha mente trabalha rápido. Eu não me importo com isso. Tenho três filhas, mas nunca fui próximo de nenhuma. Para ser honesto, só Lara realmente me incomoda. A mais nova. A que me lembra, todos os dias, a maior perda da minha vida. Minha mulher morreu no parto dela. Desde então, nunca mais olhei para essa garota sem sentir raiva. Não falo isso em voz alta, claro. Mas está lá. Sempre esteve. Mas se essa viagem for minha única chance de reerguer meu império... Respiro fundo e encaro os dois. — O que eu preciso fazer? Gustavo e Murilo trocam olhares antes de Murilo responder: — Apenas aceite o convite. Pegue suas filhas e embarque. Uma festa, um jantar, uma conversa. Se tudo correr bem, você volta ao Brasil com um contrato que pode salvar sua vida. — E se der errado? — Então, você estará na mesma situação em que já está. Fecho os olhos por um instante. Sei que não tenho escolha. — Tudo bem. Quando partimos? Gustavo sorri, satisfeito. — Em três dias. Prepare-se, Alberto. Isso pode mudar tudo. Eu duvido. Mas, neste momento, qualquer esperança é melhor do que nada.Epílogo – Natália, Bianca e AlbertoDepois que deixaram Dubai, Natália, Bianca e Alberto voltaram ao Brasil com a sensação amarga da derrota, mas também com a chance rara de recomeçar do zero. E, surpreendentemente, eles fizeram isso... à maneira deles.Natália foi a primeira a se mexer. Em menos de seis meses, reapareceu com um senhor de idade, milionário, viúvo e completamente enfeitiçado pelos olhos e pelos sorrisos calculados dela.E então veio o golpe da barriga.Grávida, rica e com status social restaurado, Natália passou de escândalo a "senhora respeitável" da alta sociedade paulistana. O velho faleceu um ano depois, deixando tudo para o filho "a caminho". E, com isso, ela garantiu uma herança que nenhuma humilhação anterior jamais poderia apagar.— Não era amor, era sobrevivência com classe, ela dizia, rindo enquanto brindava champanhe com a irmã.Com parte da herança, as duas reabriram a antiga empresa da família — uma marca de moda voltada para mulheres jovens e sofisticadas
Epílogo – Layla & RafiqSe teve uma amizade que floresceu no meio do caos e virou laço eterno, foi a minha com Layla.Ela apareceu na minha vida como um respiro, quando tudo ainda era sufoco. Me ensinou sobre os costumes locais com paciência, me ajudou a entender minha posição na cultura, mas, acima de tudo, me fez sentir... pertencente. A gente se conectou no primeiro olhar — duas mulheres de mundos diferentes, mas com o mesmo brilho nos olhos: força.Hoje, somos inseparáveis.Fazemos compras juntas no souk antigo, rimos até chorar no nosso café preferido escondido entre as vielas da cidade antiga, trocamos receitas que nunca seguimos direito e fugimos dos maridos pra fazer spa sem dar explicação.— Se os homens governam o mundo, nós governamos o coração deles, ela sempre diz, rindo com sua taça de suco de romã em mãos.Layla é um furacão de alegria e elegância. E o amor dela por mim é algo que me sustenta nos dias mais difíceis. Ela nunca me julgou. Nunca me cobrou. Apenas... esteve
Cinco anos depois.O sol de Dubai continua o mesmo, dourado e quente como fogo. Mas a minha vida… essa não tem mais nada a ver com o deserto que me engoliu anos atrás.Hoje, ele floresceu em mim.O jardim está cheio de crianças correndo. As flores que Khaled mandou plantar em homenagem ao nascimento de nosso filho desabrocham como se soubessem que é um dia especial. As fontes jorram água cristalina, e os sons de riso, vida e amor enchem cada canto da nossa casa.Sim, nossa. Porque hoje tudo me pertence também.— Mamãe! Olha o que eu fiz!Meu pequeno corre na minha direção com os olhos brilhando. Cabelos escuros, pele dourada, e aquele sorriso travesso que ele definitivamente herdou do pai.— O que foi, Adir? — pergunto, abaixando para abraçá-lo.Ele estende um desenho feito com giz colorido. É a nossa família. Eu de vestido longo, Khaled alto ao meu lado, e ele entre nós segurando nossas mãos. No céu, o nome dele está escrito em letras grandes: ADIR AL-SAUD.Meus olhos se enchem de lá
Narrado por LaraDepois que minha família embarcou de volta pro Brasil, o silêncio dentro da casa ficou diferente.Não era mais o silêncio do desprezo. Era um silêncio de paz. Um tipo de vazio que não doía — pelo contrário, acalmava.As empregadas se movimentavam em passos leves, como se até elas sentissem que algo tinha mudado. Os corredores pareciam mais largos. O ar, mais leve. Pela primeira vez desde que eu pisei em Dubai, eu sentia que esse lugar era meu. E não apenas um castelo de vidro onde eu vivia vigiada por todos.Khaled ficou mais presente do que nunca. Ele passou a dormir comigo todas as noites. Me acordava com café da manhã na varanda. Mandava flores para o meu quarto. E eu escolhi mesmo.Escolhi ele.Escolhi a nossa vida. E o nosso filho.Hoje era o dia do ultrassom morfológico. Já tínhamos passado da metade da gestação. O bebê mexia muito, principalmente de madrugada, e toda vez que Khaled colocava a mão na minha barriga, parecia que o nosso filho — ou filha, até entã
Narrado por Lara Depois que abracei a Natália e a deixei no quarto, meu corpo inteiro tremia por dentro, mas o meu rosto era puro aço. Cada segundo dentro daquela casa me fazia querer gritar. Aquilo ali não era um lar. Era um cativeiro disfarçado de palácio. E ela estava presa. Fraca. Quebrada. Desci as escadas com a certeza queimando no meu peito. Khaled estava do lado de fora, ao lado do carro, de braços cruzados, me observando como se soubesse que algo em mim tinha virado. E tinha mesmo. Me aproximei sem hesitar. Ele arqueou a sobrancelha com aquele olhar afiado, mas não disse nada. Fui eu quem quebrei o silêncio: Lara: Eu quero ele morto. Khaled piscou lentamente, como se estivesse confirmando se tinha ouvido certo. Khaled: E não era você que sempre disse que odiava sangue? Que era contra violência? Dei um passo pra frente. Encostei o peito no dele. Minha voz saiu baixa, firme, fria. Lara: Você já matou tantas vezes. Já eliminou gente por muito menos. Agora mate porque eu
Narrado por LaraKhaled não respondeu de imediato. Ele me olhou por um longo tempo, como se avaliasse cada centímetro da minha alma, buscando alguma insegurança que o fizesse desistir da ideia. Mas, no fim, ele apenas deu um leve aceno de cabeça e chamou um dos seguranças. Em árabe, disse algo rápido e firme. O homem assentiu e saiu correndo.Minutos depois, estávamos em um dos carros pretos da família, cercados por uma pequena caravana. Três SUVs blindadas, mais motos abrindo caminho. Parecia que a gente estava indo pra guerra. E talvez estivéssemos mesmo.Khaled estava ao meu lado, calado. Seu maxilar travado. As mãos entrelaçadas no próprio colo, e os olhos vidrados na janela. Eu sabia que ele odiava aquele homem com todas as forças. E, no fundo, eu também sentia medo. Não do que Hamzah podia fazer comigo — porque Khaled jamais deixaria — mas do que eu poderia encontrar. Da expressão da Natália. Do que ela se tornara.Talvez eu estivesse indo ver os cacos da minha irmã. Ou talvez..
Último capítulo