Marcada pelo abandono do pai na infância, Helena prometeu nunca se entregar ao amor, numa única vez em que ela quebrou essa promessa, ela apenas se machucou mais ainda. No entanto, é em um conceituado escritório de advocacia que seu destino cruza com William, um advogado sênior gentil e irresistivelmente atraente. A princípio, Helena resiste, mas a convivência vai abrindo brechas em seu coração. Entre feridas do passado e a promessa de um novo futuro, Helena terá de decidir: continuar presa ao medo ou acreditar que o amor pode ser, acima de tudo, um renascimento.
Ler maisHouveram dois momentos na minha vida onde eu senti as portas do meu coração se fecharem. O primeiro foi quando eu tinha 11 anos. Eu me agarrava ao vestido da minha mãe enquanto meu pai entrava no ônibus, partindo para outro estado e nos abandonando no terminal. Olhei para cima e vi gotas de lágrimas caindo sobre a barriga inchada dela que carregava o meu irmão. Naquele dia, mesmo sem entender bem porquê ele partia, eu prometi a mim mesma que nunca amaria alguém e tranquei as portas em meu peito.
A vida aconteceu, passou por mim como um vendaval feroz, ajudei minha mãe a criar Luiz, meu irmão mais novo. Mantive minha promessa, ninguém me conquistou, não tive nada além de casos de uma noite, ao menos não até eu completar 24 anos. Era o dia da minha graduação em administração, eu estava radiante e podia ver o rosto de minha mãe vibrando na plateia. Luíz batia palmas cheio de entusiasmo ao seu lado enquanto eu pegava o canudo.
Se eu tivesse ido embora com eles, se eu tivesse mantido meus olhos neles naquele dia, talvez, apenas talvez, aquilo não tivesse acontecido. Mas não, dentre os rostos dos formandos, eu encontrei alguém, o homem mais lindo que eu já tinha visto e, para minha desgraça, o que eu descobriria futuramente ser o mais cruel também.
Henry, ele era um formando de engenharia de produção. Eu não sei bem o que foi, talvez seus olhos, seu sorriso, ele tinha um charme perigoso naquela droga de sorriso. Ele se aproximou de mim e falou:
— Oi, parabéns. - Foi apenas isso, seria muito fácil apenas responder “Obrigada” e dar as costas. Mas a verdade era que eu já estava rendida, o tom de voz e a aparência já tinham me pegado.
— Ah… Obrigada, pra você também. - Eu respondi sorrindo involuntariamente.
— É realmente incrível. - Ele comentou olhando para mim.
Eu olhei em volta rindo e respondi com um brilho no olhar:
— Verdade! Amei o local, e mal dá pra acreditar que estamos nos formando, né?
— Não, você. Quero dizer, você é incrível. - Ele não tirou os olhos de mim por um único momento. Eu não soube responder, apenas desviei o olhar, rindo meio sem graça enquanto colocava o cabelo atrás da orelha. Ele inclinou a cabeça ainda sorrindo e piscou, era isso. Um jogador profissional brincando com uma amadora.
A gente saiu por alguns meses, decidimos investir numa empresa juntos, fundamos a H&H Soluções, uma empresa de consultoria. No dia da abertura do nosso escritório, ele me surpreendeu com um pedido de casamento.
Talvez, se eu tivesse dado atenção àquela tiragem de tarô que minha amiga fez para mim, onde as cartas aparentemente diziam que ele me traria “sofrimento e traição", eu tivesse evitado a minha ruína. Mas eu já tinha quebrado minha promessa, o que era uma droga de uma leitura de tarô? Eu nem acreditava nessas coisas, fazia por diversão.
Então, eu aceitei. Com doces mentiras, palavras cantaroladas como feitiços e sorrisos que brilhavam tanto que me cegavam, ele abriu a fechadura que havia no meu coração.
Henry e eu nos casamos, foi bonito, foi infinito, foi incrível… foi a farsa mais dolorosa e inebriante que eu já vi. Com um ano e meio de casados eu engravidei, a empresa ia bem e eu deixei ele guiar as coisas durante a gestação.
Com 4 meses eu fiz a ultrasom para descobrr o sexo de nossa filha. Apareci de surpresa na empresa para contar para ele e o encontrei transando em cima da sua mesa com Renata, a estagiária que nos auxiliava como secretária.
Eu não reagi, fiquei parada lá, em silêncio. Eu era realmente a filha de minha mãe, condenada ao mesmo destino que ela e milhares de outras. As lágrimas se acumularam nos meus olhos como as decepções se acumularam no meu peito.
Ele parou quando me viu e se levantou dizendo as coisas clássicas: “Não é isso que você tá pensando” e “Deixa eu explicar”. Eu apenas dei as costas e corri. Descendo as escadas em desespero, eu caí e rolei um lance abaixo. Perdi a minha bebê.
O que morreu dentro de mim naquele dia não foi somente minha filha, foi minha capacidade de amar, de sonhar em conjunto, de confiar. Esse foi o segundo momento.
Fechei novamente as portas no meu coração, dessa vez além de trancar com cadeados, selei e soldei. Construí muros em volta e enrolei arame farpado, ninguém entrará aqui novamente. Não enquanto meus traumas servirem de cães de guarda. Eu já tinha sofrimento o suficiente para uma vida inteira em mim.
Foram meses de luto: tanto do da bebê quanto do relacionamento. Henry se separou de mim, fizemos um acordo e ele comprou minha parte da H&H.
Passei algum tempo morando com minha mãe, vivendo entre lágrimas ácidas que molhavam meu travesseiro de noite e frases de “Tudo bem” sendo ditas através de sorrisos falsos de dia.
Eu pensei em desistir, pensei em acabar com tudo, jogar fora minha vida com uma cartela de comprimidos e uma garrafa de vodka. Mas toda vez que pensava nisso, repetia para mim mesma que, se eu era mesmo filha de minha mãe, então além de sua maldição no amor, eu tinha herdado também a força dela. Eu era boa, competente, inteligente, eu ia conseguir.
Alguns meses depois, com a ajuda de um colega de faculdade, arranjei um emprego como secretária de um escritório de advocacia. 13 meses desde que tinha perdido a bebê, 12 meses desde que Henry tinha pedido o divórcio, agora eu tinha voltado a morar sozinha, eu tinha me reconstruído pedaço por pedaço.
Durante aquele tempo, mergulhei no trabalho para me curar. Foi quando eu recebi a proposta de um emprego que me traria um rendimento melhor do que minha antiga empresa e do escritório que eu estava: secretária executiva pessoal do Co-CEO de uma grande empresa de advocacia.
Minha experiência com a área de gestão de empresas tinha falado mais alto no meu currículo. Decidi dar uma chance e fui fazer uma entrevista, conhecer o local e meu contratante.
Vesti uma roupa básica e clássica de escritório: um terninho preto com um broche dourado, presente de formatura da minha mãe. Cabelo preso num rabo de cavalo alto, a maquiagem ajudava a esconder as bolsas debaixo dos meus olhos. Ainda era difícil, às vezes eu lembrava de tudo que tinha acontecido no ano passado e sentia meu peito afundar.
Talvez estivesse, talvez mais muralhas estivessem se erguendo e eu sentisse o peso.
Me apresentei na recepção e rapidamente fui encaminhada ao escritório no último andar. Quando a porta se abriu à minha frente, eu o vi: alto, pele clara, uma barba que parecia servir de moldura para o seu rosto, cabelos pretos curtos.
— Muito prazer, meu nome é William Boniasse, Co-CEO da BC Advocacia. - Ele se levantou para me receber, sorriu e estendeu a mão para a cadeira. Co-CEOs não costumavam se levantar para receber meras secretárias. Mais importante, por que eu tinha prestado tanta atenção na aparência dele? Ele era lindo, possivelmente o homem mais lindo que eu já tinha… espera, eu já pensei isso antes. Não, nem pensar, sem a menor chance de algo assim se repetir.
— Me desculpe, eu cometi um engano. - Foi o que eu disse quando dei meia volta, fechei a porta atrás de mim e caminhei rápido na direção do elevador. Foda-se o que iam pensar de mim, foda-se meu currículo, eu não ia dar nem a oportunidade. Não, eu sabia como essas coisas funcionavam. Pressionei o botão do elevador repetidas vezes torcendo para que aquilo o fizesse subir mais rápido. Segurei com força minha bolsa e continuei pressionando até que escutei aquela voz.
— Espera! - Droga, ele tinha vindo atrás de mim.
Empurrei aquele pensamento para longe. Henry não iria aparecer em frente ao meu prédio de noite, era loucura demais até para ele. Ainda mais depois da ameaça que William tinha feito. E, sinceramente, eu tinha coisas muito mais interessantes para pensar. Como a noite passada e o dia que tinha acabado de viver.Assim que cheguei no meu apartamento, decidi apenas trocar de roupa. Tinha passado horas na jacuzzi com William e não queria que o cheiro dele saísse de mim. Depois de um rápido jantar, me enrolei na cama e senti o sono tomando conta de mim, posso estar errada, mas tenho quase certeza de que dormi sorrindo.O dia amanheceu brilhante, céu limpo como a minha mente estava agora. Me arrumei e fui direto pro trabalho, estava ansiosa pra retomar minha rotina depois de passar um dia no paraíso. Não que eu não quisesse passar o resto da minha vida como ontem, mas manter os pés na realidade era importante.Hoje eu percebo como me afastar dos meus objetivos pessoais e me submeter a Henry n
Eu poderia ter ficado nos braços de William para sempre, mas o toque do meu despertador me trouxe de volta para a realidade. Eu despertei procurando o celular na cabeceira, por sorte eu tinha levado minha bolsa para cima enquanto eu e ele tropeçamos escada acima dando uns amassos.Desliguei e me sentei na cama puxando o lençol para cobrir meu peito, senti William se agitar do meu lado enquanto eu corria as mãos pelo meu cabelo, ainda sentindo seu cheiro em mim da noite passada.— O que foi? - Ele perguntou meio que num gemido de cansaço. — Por que acordou tão cedo?— Pra ir trabalhar, né. Preciso passar em casa ainda. - Eu respondi quase rindo da pergunta. — Ou você se esqueceu que hoje ainda é quarta-feira?Eu estava prestes a me virar na cama para me levantar, mas senti seus braços agarrando minha cintura e me puxando para trás. Soltei um grito e uma risada enquanto via ele se inclinar sobre mim.— Qual a graça de ficar com seu chefe se você não puder faltar ao trabalho de vez em qu
HelenaApós o jantar.O jantar tinha sido melhor do que eu podia imaginar, e o vestido tinha funcionado, William estava fissurado em mim. Eu não sei dizer se foi o vinho, mas eu estava me sentindo particularmente feliz, leve e o desejando. Ou, talvez, tenha sido apenas o efeito natural de passar tempo com ele fora do ambiente do trabalho.Era fácil estar com ele, era simples. Quando eu não pensava no passado, William parecia uma escolha tão óbvia para mim que me fazia lamentar o tempo perdido. Na verdade, cada risada, cada beijo, cada momento daquela noite me fez me perguntar porquê eu tinha me negado aquilo em primeiro lugar.Quando chegamos ao condomínio de luxo, William atravessou os portões e seguiu pelas ruas. Era um lugar lindo e eu não podia me imaginar morando ali sem ter um surto com a conta. Paramos em frente a uma casa enorme, não era uma mansão, mas era grande e bela com a fachada em design moderno, cinza, branco e marrom estampavam harmoniosamente.William estacionou a m
WilliamAo encontrar Helena na noite do jantar.Quando Helena surgiu por aquela porta eu achei que estava alucinando. Ela era linda no dia a dia e eu sabia como ela ficava esplêndida arrumada para outras ocasiões. Afinal, eu a tinha visto pela primeira vez num jantar de negócios, mas ela estava muito além.— Oi. - Eu consegui ouvir sua voz me cumprimentando, mas não consegui reagir. Acho que meu queixo estava caído. Mas dane-se, que estivesse, ela merecia saber o efeito que tinha em mim. — William?— Você… - Instintivamente corri os olhos pelo seu corpo, eu tinha me segurado para não ser inapropriado antes, mas ela estava irresistível. — Você está absurdamente incrível.Eu percebi o sorriso dela crescer de forma brilhante e tímida enquanto ela colocava o cabelo atrás da orelha e cruzava os braços segurando o sobretudo. Eu ainda estava perdido na sua beleza, hipnotizado, não conseguia mais me conter. Então, me aproximei dela, apenas seus braços cruzados entre nós. Seus olhos de ônix
Bati na porta da sala de William e entrei ao ouvir sua autorização.— Você não precisa bater, sabia? - ele falou fechando a pasta a sua frente na mesa com um sorriso no rosto..— Primeiro eu não preciso de chamar e Dr. e agora não preciso bater na porta. - Falei fechando a porta atrás de mim e caminhando com um sorriso sugestivo no rosto e um ar dramático. — Está flertando comigo, Dr. William?— Talvez… Está funcionando? - Ele falou se levantando, dando a volta na mesa e vindo em minha direção.— Hum… - Desviei o olhar com um ar pensativo. — Talvez.Ele sorriu e parou diante de mim colocando uma mecha de cabelo atrás da minha orelha.— Que horas eu posso te pegar?— Acho que às sete e meia. - Falei segurando sua mão e me afastando. Eu pude ver nos seus olhos que ele queria me beijar, mas eu ia manter minha escolha. Mesmo que já soubessem de nós, mesmo que falassem, eu não ia ser só mais uma me agarrando com o chefe no horário de trabalho.— Agora, eu preciso ir pra conseguir estar ar
Eu gostaria de dizer que coloquei a cabeça de volta no lugar quando cheguei em casa, mas não foi o caso. Eu cheguei em casa, troquei de roupa e fui direto pra academia. Me exercitei enquanto minha cabeça continuava rodando com o que Sarah tinha dito. Ela tinha colocado em palavras um medo meu.Eu queria ficar mais tempo lá, mas assim que bati a marca de duas horas me forcei a sair. Eu ia jantar com William no dia seguinte e não queria estar com o corpo doendo.Então, voltei, jantei e me sentei na varanda com minha fiel taça de vinho. Nenhuma música, bebida ou exercício parecia conseguir tirar o dilema de William da minha cabeça. O que significava que eu não podia mais fugir, tinha que resolver.Eu estava considerando as variáveis e tentando chegar a uma solução quando meu celular tocou. Abri a notificação e vi uma mensagem de William.“Você estava linda hoje, como sempre. Queria ter passado mais tempo com você.”Toquei a taça nos meus lábios, eu também queria… Queria ter continuado be
Último capítulo