Ela é uma jornalista desastrada com um gato exigente. Ele é um ator famoso tentando limpar a própria barra. O plano? Um namoro de mentira, contrato assinado, visitas programadas e zero envolvimento emocional (em teoria). Mas ninguém avisou que fingir um relacionamento perfeito é mais difícil do que parece, especialmente com uma família intrometida, uma imprensa implacável e um gato que claramente não gosta de fingimentos. Eles combinaram tudo. Só esqueceram de combinar com o coração.
Leer másAlguns dias se passaram desde a última vez que vi Pedro, e, por mais que eu tente me convencer de que foi a decisão certa, ainda sinto aquele aperto no peito toda vez que penso nele. É engraçado, ou trágico, talvez, como alguém pode estar tão presente mesmo depois de ter se tornado ausência.Mas a vida, como sempre, não para para que eu me reorganize emocionalmente. E, para minha surpresa, ela decidiu me dar um empurrão justo quando eu mais precisava.Hoje recebi a ligação que pode mudar tudo: fui chamada para trabalhar como repórter em uma emissora importante. Eu! A mesma Isadora que até outro dia estava escrevendo notas pequenas e tomando café frio em plantões intermináveis.Quando desliguei o telefone, fiquei alguns segundos parada no meio da sala, olhando para o nada, tentando assimilar. E então, claro, Bento apareceu, me encarando como se estivesse esperando alguma reação.— Você não vai acreditar, Bento! — falei, pegando-o no colo. — Sua mã
Eu nunca soube lidar com a intensidade do que sentia por Isadora. Desde o primeiro dia, quando aquele contrato improvável nos uniu, percebi que havia algo nela que me desconcertava. Talvez fosse a forma como ela sorria quando queria disfarçar o nervosismo, ou o brilho insistente dos olhos, mesmo depois de tanto sofrer. Eu deveria ter mantido distância. Era só um acordo, afinal. Mas cada gesto dela me atravessava como se fosse pessoal, como se me pertencesse.No começo, eu repeti para mim mesmo que aquilo passaria. Que era só convivência. Que qualquer um, ao passar tanto tempo ao lado dela, poderia confundir admiração com algo maior. Mas os dias foram se acumulando, e a verdade é que eu não confundia nada. Eu sabia muito bem o que estava sentindo: desejo, carinho, uma necessidade absurda de protegê-la, de ser o motivo do seu riso, de ser aquele em quem ela poderia confiar.E, mesmo assim, calei.Era covardia, sim, mas também era medo. Medo de estragar tudo.
O silêncio depois que Pedro fechou a porta parecia diferente de qualquer outro silêncio que já tinha habitado meu apartamento. Não era vazio, mas também não era confortável. Era um silêncio cheio dele, cheio de lembranças que ainda ecoavam pelos cantos, o cheiro da sua pele, o som da sua voz, a presença dele que parecia não ter ido embora de verdade, mesmo que eu tivesse visto com meus próprios olhos o momento em que ele partiu.Deixei-me cair no sofá, abraçando uma almofada como se fosse capaz de segurar a sensação de calor que ele tinha deixado em mim. Uma parte de mim queria acreditar que estava sonhando, que nada daquilo tinha acontecido,mas outra parte, mais profunda e mais sincera, sabia que estava acontecendo sim, que eu estava entrando em algo que me assustava ao mesmo tempo em que me atraía como um ímã.Pedro tinha ido embora, mas levou com ele uma parte de mim.Fiquei alguns minutos encarando a porta, quase esperando que ele voltasse, mas o som d
Eu acordei com a sensação nítida de estar em cima de uma linha finíssima: de um lado, o contrato; do outro, aquilo que eu me recusei a nomear por tempo demais. Respirei fundo, afaguei Bento, que se espreguiçou no meu travesseiro como se fosse dono legal do imóvel, e mandei a mensagem antes de perder a coragem:Isadora: “Tenho um plano: não ter plano nenhum. Quer… só sair por aí comigo hoje?”A resposta veio quase no mesmo minuto.Pedro: “Topo. Boné, tênis e nenhum roteiro. Te busco em 20min?”Senti um sorriso nascendo antes mesmo de perceber. As quarenta e oito horas tinham começado.Ele apareceu com um boné simples e uma camiseta que não gritava “ator famoso”. O sorriso também era simples, e foi ele que me desmontou. Bento veio checar o visitante, cheirou o cadarço de Pedro, deu uma patada de leve e voltou para a janela, como quem concede passagem.— Aprovado pelo síndico — ele brincou, coçando a cabeça de Bento. — Isso deve si
Era difícil ver essa imagem de Pedro, ele tão fragilizado. Ele ficou de pé perto da janela, de braços cruzados, como se o vidro pudesse dar uma resposta melhor do que eu. Eu continuei perto da porta, sentindo o batimento no pescoço. Era o mesmo apartamento de sempre, mas nada parecia no lugar.— Eles transformaram o seu texto em sobre mim — ele disse, enfim, sem me olhar. — Não precisava ter um nome. Bastou o meu histórico.Engoli seco.— Eu sei. E dói porque… — procurei as palavras — porque o texto não é sobre você. É sobre o mecanismo. Mas o mecanismo pegou carona no seu rosto.Ele soltou um riso mínimo, sem humor.— O mecanismo adora um rosto conhecido.Fiquei alguns passos mais perto. Não o suficiente para encostar, mas perto o bastante para sentir o ar mudar.— Eu te enviei a versão ontem à noite — falei, baixo. — Sem nomes, sem insinuações. Eu acreditei que estava sendo correta com o texto e com você.— Eu li — ele respondeu, virando-se. Os olhos cansados, o maxilar tenso. — E n
Acordei com a notificação incessante do celular vibrando na cabeceira. Por um instante, desejei ignorar e mergulhar de novo no travesseiro, mas sabia que não seria possível. O coração acelerou antes mesmo de pegar o aparelho.A tela iluminada confirmava o que eu temia: a matéria havia saído. Meu nome estampado, minhas palavras expostas, e junto delas, uma parte de mim que eu nunca havia compartilhado com tanta gente.Abri o link, hesitante, e comecei a ler. Cada frase parecia maior do que eu mesma, cada palavra carregava um peso que não parecia caber no meu peito. Respirei fundo, tentando absorver, mas a sensação era de estar nua em praça pública.O celular não parava: mensagens de amigos, conhecidos, gente que eu não via há anos. Uns me elogiavam pela coragem, outros diziam estar chocados, alguns simplesmente mandavam corações. Mas entre tudo isso, a minha mente só repetia: E Pedro?Levantei, quase tropeçando nos próprios pés, e fui até a cozinha. Coloquei café para passar e me apoie
Último capítulo