Eu nunca soube lidar com a intensidade do que sentia por Isadora. Desde o primeiro dia, quando aquele contrato improvável nos uniu, percebi que havia algo nela que me desconcertava. Talvez fosse a forma como ela sorria quando queria disfarçar o nervosismo, ou o brilho insistente dos olhos, mesmo depois de tanto sofrer. Eu deveria ter mantido distância. Era só um acordo, afinal. Mas cada gesto dela me atravessava como se fosse pessoal, como se me pertencesse.
No começo, eu repeti para mim mesmo que aquilo passaria. Que era só convivência. Que qualquer um, ao passar tanto tempo ao lado dela, poderia confundir admiração com algo maior. Mas os dias foram se acumulando, e a verdade é que eu não confundia nada. Eu sabia muito bem o que estava sentindo: desejo, carinho, uma necessidade absurda de protegê-la, de ser o motivo do seu riso, de ser aquele em quem ela poderia confiar.E, mesmo assim, calei.Era covardia, sim, mas também era medo. Medo de estragar tudo.