Alguns encontros parecem planejados pelo destino. Não porque sejam perfeitos, mas porque têm o poder de virar nossa vida de cabeça para baixo. Às vezes, a vida nos coloca diante de pessoas que parecem pertencer a um mundo completamente diferente do nosso. Pessoas que, com um simples olhar, são capazes de desestabilizar nossas certezas. Foi assim que tudo começou para mim. No instante em que conheci Henry Blackwood.
Leer másPOV Zoey Sinclair
Alguns encontros parecem planejados pelo destino. Não porque sejam perfeitos mas porque têm o poder de virar nossa vida de cabeça para baixo. Às vezes a vida nos coloca diante de pessoas que parecem pertencer a um mundo completamente diferente do nosso. Pessoas que de alguma forma conseguem desestabilizar nossas certezas apenas com um olhar. Foi assim que tudo começou para mim. No instante em que conheci Henry Blackwood. Sempre acreditei que a vida em Santa Aurora era tranquila demais para alguém que sonhava grande como eu. Era uma cidade pequena, charmosa, cercada por montanhas e vales verdes mas previsível em cada esquina. As pessoas se conheciam pelo nome, fofocas atravessavam as ruas mais rápido do que o vento e nada realmente novo acontecia. Cresci em meio à simplicidade de casas coloridas e cafés familiares mas em meu coração havia sempre uma chama acesa: eu queria mais. Queria descobrir até onde poderia ir se não tivesse medo de deixar o conhecido para trás. Desde cedo me apaixonei pelo mundo da tecnologia. Enquanto muitos colegas sonhavam em seguir os passos dos pais no comércio ou em pequenas empresas locais eu me via deslumbrada com os computadores, com os códigos, com as possibilidades infinitas que surgiam diante de uma tela iluminada. Meu quarto pequeno e aconchegante era também meu refúgio de aprendizado. Passava horas desmontando aparelhos antigos, pesquisando soluções online e sonhando em um dia criar algo grandioso. Quando finalmente terminei o ensino médio tomei a decisão mais importante da minha vida até então: prestaria vestibular para a Universidade Blackstone de Tecnologia em Eversfield, uma das mais renomadas do país. Lembro-me da noite em que o resultado saiu. Estava sentada na cozinha com o coração acelerado enquanto meu pai, Elias Sinclair, fingia ler o jornal e minha mãe, Helena Sinclair, secava pratos sem tirar os olhos de mim. Quando vi meu nome na lista de aprovados um grito escapou da minha garganta misturado a lágrimas de alegria. Naquele momento tive certeza de que o destino estava me levando para onde eu deveria estar. Eversfield era o oposto de Santa Aurora. Uma metrópole vibrante, cheia de arranha-céus espelhados, buzinas constantes e luzes que nunca se apagavam. Nos primeiros dias me senti uma estranha naquele mundo mas logo entendi que era ali que eu queria construir minha história. Na Universidade Blackstone de Tecnologia descobri rapidamente que nada seria fácil. As salas eram modernas, equipadas com computadores de última geração mas os professores não se impressionavam com entusiasmo ingênuo. Exigiam resultados, disciplina e criatividade. Lembro-me da primeira aula de programação avançada: fiquei paralisada diante da tela enquanto alguns colegas digitavam linhas e mais linhas de código como se respirassem aquilo desde o nascimento. Foi nesse ambiente desafiador que conheci minhas primeiras amizades em Eversfield. Clara, uma jovem de cabelos cacheados e sorriso sempre pronto, era meu oposto: confiante e expansiva, nunca deixava o silêncio tomar conta das conversas. E havia Daniel, dedicado e paciente, que muitas vezes passava horas me ajudando a entender problemas de lógica que me deixavam perdida. Entre noites de estudo, cafés apressados e longas discussões sobre projetos eles se tornaram meu porto seguro naquela selva de concreto. Houve dias em que pensei em desistir. Provas difíceis, noites sem dormir e a saudade de casa pesavam. Mas cada obstáculo superado me fazia sentir mais forte, como se estivesse me reinventando longe das raízes que me formaram. Eversfield me moldava, me transformava sem jamais apagar a essência da menina que acreditava nos próprios sonhos em Santa Aurora. Aos poucos aprendi a amar aquela cidade. As cafeterias escondidas em ruas movimentadas, os parques onde eu lia nas tardes de domingo e o ritmo frenético que me empurrava a ser melhor todos os dias. No meio de tanta correria havia também conquistas: os primeiros projetos entregues com sucesso, os elogios discretos de professores que raramente elogiavam e a sensação de que eu estava finalmente construindo algo que poderia me levar além. Quando a formatura chegou percebi que não era mais a mesma garota assustada que desembarcara na estação de trem anos antes. Eu era Zoey Sinclair, formada em uma das universidades mais prestigiadas do país, pronta para dar o próximo passo. E esse passo me levaria até a Blackwood Tech… e a Henry Blackwood. Foi então que surgiu a oportunidade que mudaria minha vida: uma vaga de analista júnior na Blackwood Tech, a maior e mais respeitada empresa de tecnologia do país, sediada justamente em Eversfield. Todos os meus colegas falavam sobre como trabalhar ali era um privilégio reservado a poucos. A Blackwood Tech não contratava qualquer pessoa e muito menos para posições próximas à liderança. Eu sabia que seria um processo seletivo difícil mas não hesitei em me inscrever. No dia da entrevista acordei antes do sol nascer. Passei horas escolhendo a roupa certa, algo que transmitisse profissionalismo mas sem apagar minha essência. Optei por um conjunto discreto: uma calça social preta e uma blusa de seda clara que realçava meus olhos. Meu cabelo loiro, naturalmente liso, foi preso em um coque elegante. Queria mostrar que estava pronta mesmo que por dentro estivesse tomada pelo nervosismo. Ao chegar ao prédio da Blackwood Tech senti meu coração acelerar. A torre de vidro refletia a cidade inteira como se quisesse mostrar ao mundo seu poder. O saguão era imenso, com paredes de mármore, recepcionistas impecáveis e funcionários que pareciam andar sempre com pressa. Respirei fundo e anunciei meu nome na recepção. Para minha surpresa fui informada de que seria entrevistada diretamente pelo CEO da empresa, Henry Blackwood. Meu estômago se revirou. Todos conheciam o nome dele. Henry era um jovem bilionário, herdeiro de um império que havia expandido com as próprias mãos. Inteligente, exigente e com uma reputação impecável no mercado, era respeitado e temido na mesma medida. Mas nada me preparou para vê-lo pessoalmente. Quando a porta do seu escritório se abriu senti meu corpo estremecer. Henry Blackwood era simplesmente deslumbrante. Alto, de ombros largos, cabelo perfeitamente penteado para trás, barba bem aparada que realçava os traços marcantes de seu rosto. O terno azul-escuro caía impecavelmente em seu corpo revelando músculos definidos sem exagero. Sua presença era tão forte que parecia preencher a sala inteira. Mas foi seu olhar que realmente me atingiu. Olhos intensos, fixos em mim como se quisessem atravessar minhas barreiras e descobrir quem eu era de verdade. — Zoey Sinclair? — sua voz grave ecoou no ambiente. Assenti sentindo as mãos suarem discretamente. — Por favor, sente-se — ele indicou a cadeira diante de sua mesa. — Vejo que se formou recentemente pela Universidade Blackstone de Tecnologia. Como foi a experiência? — Desafiadora mas transformadora — respondi tentando manter a voz firme. — A universidade exigiu muito de mim e me preparou para enfrentar situações complexas. Aprendi a trabalhar sob pressão e a encontrar soluções criativas para problemas inesperados. Ele me observava com uma expressão neutra, quase impossível de decifrar. — E por que a Blackwood Tech? Há tantas empresas no setor. O que fez você escolher justamente a minha? Engoli em seco antes de responder. — Porque acredito que aqui está o futuro. A Blackwood Tech é referência em inovação e em impacto global. Eu quero aprender com os melhores e contribuir para algo que realmente faça diferença. Um breve levantar de sobrancelha denunciou que minha resposta havia chamado sua atenção. — E o que você acredita que pode oferecer a esta empresa? — perguntou inclinando-se levemente para a frente. — Dedicação, resiliência e capacidade de aprender rápido. Sei que ainda não tenho anos de experiência mas tenho a determinação necessária para compensar isso. Estou disposta a crescer junto com a empresa. Ele cruzou os braços me analisando em silêncio por alguns segundos que pareceram minutos. — Você se considera competitiva Zoey? — Considero sim. Mas acredito que competir não significa derrubar os outros e sim buscar constantemente a minha melhor versão. Um leve sorriso surgiu no canto de seus lábios, quase imperceptível mas suficiente para acelerar meu coração. — E se eu disser que não tenho interesse em contratar alguém inexperiente mas que há algo em você que me faz reconsiderar? O que responderia? Respirei fundo sentindo a tensão aumentar. — Responderia que acredito no meu potencial. Sei que preciso provar meu valor e estou disposta a trabalhar duro para isso. Henry me encarou com mais intensidade do que antes. Seus olhos escuros pareciam testar meus limites como se buscassem encontrar algum sinal de fraqueza. Eu me mantive firme mesmo que por dentro estivesse prestes a desmoronar. A entrevista seguiu com mais algumas perguntas técnicas que respondi com confiança. A cada resposta eu sentia que estava conquistando espaço mas ao mesmo tempo percebia algo no olhar dele. Não era apenas profissionalismo. Havia uma curiosidade silenciosa, quase como se quisesse entender quem eu era além do currículo. Quando a entrevista terminou ele se levantou. Eu fiz o mesmo sentindo minhas pernas vacilarem levemente. Estendi a mão para agradecer e ele apertou a minha com firmeza. — Obrigado pelo seu tempo senhorita Sinclair. Em breve entraremos em contato com a decisão final — disse em tom formal mas seus olhos diziam algo diferente, algo que eu não conseguia decifrar. Ao deixar a sala senti uma mistura de alívio e inquietação. O coração ainda acelerado, as palavras dele ecoando em minha mente. Será que havia ido bem? Será que aquele olhar enigmático significava interesse profissional ou algo além disso? Eu não sabia. Caminhei pelo saguão da Blackwood Tech como quem atravessa dois mundos: de um lado a menina simples de Santa Aurora e do outro a mulher que ousava sonhar em conquistar espaço no império de Henry Blackwood. Quando saí do prédio o sol já começava a se pôr tingindo Eversfield com tons alaranjados. Respirei fundo e prometi a mim mesma: eu voltaria, faria valer cada esforço e descobriria o que realmente se escondia por trás daquele olhar enigmático.POV HENRY BLACKWOOD O zumbido dos servidores ficou para trás mas o silêncio do meu escritório era ensurdecedor. Eu estava sozinho olhando para as luzes de Eversfield que de repente pareciam mais distantes. O punho da minha mão estava cerrado e eu me forcei a respirar fundo controlando a fúria que não era pelo erro no código mas pela minha própria falha de controle.Eu havia passado a semana inteira construindo um muro de gelo ao redor de Zoey Sinclair. Desde que a vi naquela sala de conferências na segunda-feira eu soube que era a única maneira. O impulso de ir até a mesa dela de perguntar sobre seu progresso de olhar para ela e desvendar o que havia por trás daqueles olhos focados era uma distração que eu não podia permitir.A dificuldade não estava em ser frio; estava em ser ignorante.Na Segunda-feira, minha tática foi estritamente defensiva. Na reunião matinal eu mal me movi, evitando direcionar o queixo na direção dela. Usei o sarcasmo ("A Blackwood Tech não investe em prosa"
POV Joey Sinclair A primeira segunda-feira com Henry Blackwood de volta à torre foi como ligar um interruptor de alta tensão. A diferença entre a semana anterior, dominada pela calma austera de Patrick e Liz, e o dia de hoje era palpável. O silêncio no 35º andar não era mais de concentração; era de tensão absoluta. O ar parecia mais fino e os funcionários andavam mais rápido com olhares fixos nas telas. Eu mal tive tempo de deixar minha bolsa na mesa antes que Sophie, a assistente, anunciasse a reunião matinal na sala de conferências do CEO. Ao entrar na sala a presença de Henry me atingiu com a força de um soco no estômago. Ele estava de pé ao lado da tela de projeção impecável em um terno cinza-chumbo com uma postura que irradiava poder e controle total. Seus olhos que na entrevista haviam sido curiosos e penetrantes agora eram impessoais. Sentei-me discretamente na ponta da mesa ao lado de Patrick. Henry esperou que todos estivessem em seus lugares. — Bom dia. Vamos ser r
POV Zoey Sinclair A entrevista terminou no final da tarde e o tempo que se seguiu foi uma agonia de poucas horas. Eu me pegava checando o celular a cada cinco minutos o nervosismo crescendo a cada toque desconhecido e a incerteza pairava como uma nuvem sobre Eversfield. O alívio só veio na manhã seguinte quando o e-mail de Sophie a assistente de Henry Blackwood finalmente chegou confirmando a contratação. Um grito de euforia ficou preso na minha garganta. Eu tinha conseguido! A euforia porém durou apenas até o momento em que eu apertei o botão "Enviar" no e-mail de resposta à Sophie aceitando o cargo. Naquela noite meu pai Elias Sinclair e minha mãe Helena ligaram de Santa Aurora e a voz emocionada de minha mãe ao dizer que eu era o orgulho deles fez lágrimas escorrerem pelo meu rosto. Eu havia conquistado o futuro que sonhara e meus pais haviam garantido o sacrifício. A notícia logo se espalhou entre Clara e Daniel que organizaram uma celebração improvisada e barulhenta no me
POV Henry BlackwoodMinha vida sempre foi feita de controle. Mas ninguém nasce com ele — aprende-se.Cresci sob o olhar exigente dos meus pais, em uma casa onde o sucesso era esperado, não celebrado. Meu pai, Charles Blackwood, acreditava que emoções atrapalhavam decisões. Era o tipo de homem que media o valor de alguém pelo resultado, não pelo esforço. Minha mãe, Eleanor, era elegante e inteligente, mas tão contida quanto ele. Afeto, em casa, vinha em forma de metas atingidas, prêmios conquistados e comportamentos impecáveis.Meu sobrenome sempre abriu portas, mas nunca me iludi com isso. Desde cedo entendi que heranças não constroem legados, apenas testam se você é digno de tê-los. Aos doze anos, já acompanhava meu pai em reuniões. Ele não falava muito, apenas observava e esperava que eu fizesse o mesmo. Foi assim que aprendi a ler expressões, prever intenções e entender que confiança é a moeda mais cara no mundo dos negócios.Quando entrei na universidade de negócios, muitos achava
POV Zoey Sinclair Alguns encontros parecem planejados pelo destino. Não porque sejam perfeitos mas porque têm o poder de virar nossa vida de cabeça para baixo. Às vezes a vida nos coloca diante de pessoas que parecem pertencer a um mundo completamente diferente do nosso. Pessoas que de alguma forma conseguem desestabilizar nossas certezas apenas com um olhar. Foi assim que tudo começou para mim. No instante em que conheci Henry Blackwood.Sempre acreditei que a vida em Santa Aurora era tranquila demais para alguém que sonhava grande como eu. Era uma cidade pequena, charmosa, cercada por montanhas e vales verdes mas previsível em cada esquina. As pessoas se conheciam pelo nome, fofocas atravessavam as ruas mais rápido do que o vento e nada realmente novo acontecia. Cresci em meio à simplicidade de casas coloridas e cafés familiares mas em meu coração havia sempre uma chama acesa: eu queria mais. Queria descobrir até onde poderia ir se não tivesse medo de deixar o conhecido para trás.
Último capítulo