Sarah Miller sempre foi uma mulher forte, mesmo que a vida tenha lhe dado poucos motivos para isso. Com cabelos castanhos claros e olhos esverdeados, perdeu a mãe aos cinco anos e, desde então, foi criada pela avó ao lado do meio-irmão mais novo. Aos 19 anos, decidiu seguir sua própria jornada: concluiu os estudos e passou por diversos empregos em lanchonetes, mercados e o que mais aparecesse. Mas Sarah nunca deixou de sonhar alto. Seu maior desejo sempre foi trabalhar como arquiteta na renomada Fisher & Blanc Architecture, uma das maiores empresas de Nova York. E, após inúmeras tentativas, aos 22 anos, ela finalmente conseguiu uma entrevista. O curioso? Mesmo sem quase nenhuma experiência, acabou sendo contratada — como secretária do temido senhor Kevin Watson Fisher. Arrogante, frio e conhecido por tratar todos os funcionários com extrema rigidez, Fisher é tudo o que Sarah despreza em um chefe. E por dois anos, ela o aturou apenas por causa do emprego dos sonhos. Até que tudo muda… por causa de uma inesperada viagem de negócios.
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Tento ignorar, mas o barulho insuportável do meu celular continua tocando sem parar. Mexo o braço, tateando até encontrar o celular ao meu lado na cama. Dormi com ele ali mesmo, depois de passar boa parte da noite jogando e assistindo série. — Meu Deus, quem é que tá me ligando a essa hora? — resmungo, pegando o celular ainda sonolenta, os olhos quase sem abrir. — Chicletinha… — escuto a voz da minha amiga Mia do outro lado da linha. — Por que você tá me ligando agora? — resmungo, ainda com a voz arrastada de sono. — Liguei pra avisar que vou me atrasar um tiquinho pra gente se encontrar depois do trabalho… Minha tia me chamou e eu vou ter que dar uma passadinha lá rapidinho. Eu sei, eu sei que você odeia quando eu faço isso — mas juro que é coisa de 20 minutinhos! Não me mata, tá? Te compenso com fofoca, docinho ou um elogio bem exagerado, do jeitinho que você gosta. — Tudo bem… mas precisava me ligar agora? — resmungo, passando a mão no rosto. — Peraí… você ainda tá na cama?Aquele arrogante finalmente te deu uma folga?? Aleluia, né? Já tava achando que você tinha virado patrimônio da empresa! Aproveita bem, porque vai que ele muda de ideia e te chama até pra trabalhar nos feriados Reviro os olhos. — Claro que não. Ainda é cedo, quero voltar a dormir — falo, me jogando de volta na cama. — mulher… já são 07:48. Você perdeu o horário ou tá querendo perder o emprego mesmo? Porque assim, do jeito que você tá tranquila, parece que pediu demissão no sonho e esqueceu de avisar a seu chefe Ela fala, e eu finalmente me dou conta. Me levanto num pulo, olho o horário no celular… e sim. 07:48. EU ESTAVA FERRADA. EU SÓ TINHA 12 MINUTOS PRA ME ARRUMAR. — O QUÊ??? 07:48??? EU ACHEI QUE ERA CINCO DA MANHÃ!!! MEU DEUS DO CÉU, EU TÔ FERRADA! Eu só fechei o olho um pouquinho… como assim o mundo andou e eu fiquei??? AAAAAAH, por que ninguém me acordou?? Eu vou ser demitida, é isso. Acabou pra mim! — falo desesperada. Me levanto da cama correndo, ainda com o celular no ouvido. — CARALHO, POR QUE VOCÊ NÃO ME AVISOU ANTES?! — grito, procurando minha toalha no meio da bagunça que é meu quarto — Como eu ia saber criatura? Você nunca se atrasa, sempre chega cedo parece até que é você que abre aquele lugar Não tenho tempo pra discutir com ela agora. Desligo o celular e o jogo em cima da cama, já imaginando ela me xingando por isso. Acho minha toalha e vou direto pro banheiro escovar os dentes. Me olho no espelho e quase tenho um treco: meu cabelo castanho está completamente bagunçado, e meus olhos esverdeados, vermelhos e inchados de sono. Mas não tenho tempo pra “apreciar” esse desastre. Termino de escovar os dentes às pressas e entro no chuveiro, tomando o banho mais rápido da minha vida. Saio me secando correndo e pego as primeiras peças de roupa que encontro pela frente: uma saia vermelha e uma camisa social branca de botões. Faço um coque rápido, calço meus saltos pretos e… corre, Sarah. Corre. Corro diretamente para o elevador do prédio do meu apartamento, desesperada, mas paro assim que vejo a placa pendurada bem no centro da porta de aço. “EM MANUTENÇÃO - DESCULPE PELO TRANSTORNO. RETORNAREMOS EM BREVE.” Droga, droga, droga! Hoje com certeza não é o meu dia. Olho para as escadas de emergência, aquelas malditas escadas cinzas e estreitas, imaginando o quanto vou ter que descer. Sétimo andar. Sete andares. De salto. Correndo. Respiro fundo, solto um suspiro sofrido e começo a descer, o mais rápido que consigo. Os degraus parecem multiplicar. A cada lance de escada, minha respiração fica mais pesada. Maldita academia que eu vivo adiando. Meus saltos ecoam entre as paredes de concreto como um aviso de desespero. Depois de alguns minutos descendo aquelas escadas que pareciam infinitas, meu Deus, finalmente chego ao térreo. Apoio uma mão no peito e outra nos joelhos, respirando ofegante. Mas não tenho tempo pra me recuperar. Endireito o corpo e apresso o passo, saindo do prédio. Passo correndo pela portaria e vejo seu Carlos, o porteiro, sentado em sua poltrona de sempre, tomando café e folheando um jornal velho. — Bom dia, seu Carlos!— digo, quase sem fôlego. — Bom dia, menina Sarah. Perdeu a hora hoje, hein? — responde ele, franzindo a testa e me observando com aquele olhar de pena misturado com julgamento. Dou um sorriso sem graça, aceno e corro pra rua, rezando pra aparecer um táxi. Vários passam, todos ocupados. Alguns sequer diminuem a velocidade. Estico o braço desesperada, mas nada. Que merda! Olho o relógio: 08:22. Eu tô muito atrasada. Tô ferrada. Em dois anos trabalhando na Fisher & Blanc Architecture, sempre dei meu máximo pra nunca me atrasar nem um dia. Eu sabia muito bem da fama do meu chefe com atrasos e faltas. Ele não tolera esse tipo de coisa. Claro que não. Aquele insuportável não tolera nada. Depois de alguns minutos torturantes, finalmente consigo um táxi. Entro rápido, quase tropeçando. — Bom dia, moço! Por favor, Fisher & Blanc Architecture, centro! O mais rápido que o senhor conseguir! — peço, fechando a porta atrás de mim. — Senhorita, se eu acelerar mais do que já acelero, a gente vai voar — reclama ele, com uma expressão azeda. — Eu não me importo se a gente decolar, só me leva rápido, por favor! — respondo, aflita. Ele suspira irritado mas acelera. E como se o universo quisesse me castigar ainda mais, pegamos um pequeno congestionamento logo na entrada da principal avenida. Meu nervosismo cresce. Fico me mexendo no banco, roendo as unhas, encarando o relógio no braço como se isso fosse mudar algo. Quando finalmente chegamos, já são 08:50. Quase uma hora atrasada. Eu tô completamente ferrada. O táxi para em frente ao grande prédio de vidro espelhado, moderno e imponente. A fachada da Fisher & Blanc Architecture brilha com a luz do sol da manhã. Pago a corrida, entrego o dinheiro e o taxista me encara com uma sobrancelha arqueada, ainda irritado. — Fica com o troco — digo, forçando um sorrisinho nervoso. Ele encara o dinheiro, depois me encara… e sua expressão suaviza. Sou rica pra ficar dispensando troco? Claro que não. Mas naquele momento, só o que importava era entrar logo naquela empresa. Corro até a entrada principal, passo pelas grandes portas de vidro, e o segurança da recepção, me lança um olhar daqueles que dizem: “Querida, você tá ferrada.” — Bom dia, Gabriel — digo rapidamente. — Bom dia, Sarah — ele responde, com um sorrisinho discreto e cúmplice. Sigo em frente, cruzando o saguão. Passo por vários colegas da recepção e dou acenos apressados, tentando manter a dignidade. Mas é impossível não notar que todos me olham da mesma forma. Aquela cara de quem sabe que você tá lascada, mas tá ansioso pra ver o circo pegar fogo. Subo no elevador. Aperto o botão do meu andar várias vezes, como se isso fosse fazê-lo funcionar mais rápido. O botão pisca calmamente, me desafiando. — Vai merda,vai, vai… — murmuro, nervosa. Finalmente, o elevador sobe. Quando chego ao meu andar, ajeito a saia, respiro fundo e dou o primeiro passo. Todos me olham. Quase ao mesmo tempo. Como se uma sirene silenciosa tivesse anunciado minha chegada. E então… eu tropeço. E caio. — Ai! — solto, me apoiando no chão, sentindo o rosto queimar de vergonha. Escuto risos abafados. E o pior deles vem de Emma, minha rival no trabalho. Aquela que nunca perde a chance de me humilhar. Ela cobre a boca com a mão, os olhos brilhando de diversão. Emma tem cabelos loiros platinados, lisos e sempre impecáveis. Usa um blazer rosa claro e uma saia justa que parece feita sob medida. Salto alto, maquiagem perfeita, perfume caro. Uma boneca corporativa. E venenosa. Levanto com raiva, lanço um olhar furioso pra ela e caminho rapidamente até minha mesa. Passo por Bella, minha colega, que me olha assustada. — O que aconteceu? Você tá muito atrasada! — sussurra, preocupada. — Depois eu te explico — respondo, ainda tentando recuperar a compostura. Ela me observa, ainda sem entender, mas volta a digitar no computador. E eu estou prestes a sentar na minha cadeira quando escuto uma voz que me paralisa: — Senhorita Miller. Congelo. Engulo seco. Viro lentamente. — Na minha sala. Agora. — diz Kevin Fisher, meu chefe.Sarah Miller Eu estava na sala do hotel, terminando de organizar alguns papéis, quando bateram na porta. — Quem é? — perguntei automaticamente, sem levantar os olhos. — Entrega para a senhorita Sarah Miller. Franzi a testa e me levantei, andando até a porta. Assim que abri, dei de cara com um enorme buquê de flores… Girassóis. Arregalei os olhos. Girassóis?! Justo girassóis… Eu nunca gostei muito deles, acho até meio sem graça, grandes demais, exagerados. Prefiro flores mais discretas, mais delicadas, como lírios ou orquídeas. — Obrigada… — disse, pegando o buquê com alguma dificuldade. O entregador apenas assentiu e foi embora. Fiquei parada por alguns segundos, olhando aquelas flores, completamente sem entender nada. Aí, óbvio… minha cabeça fez o pior caminho possível. “Só pode ter sido ele…” Kevin. Respirei fundo, o coração acelerado. Só podia ter sido o Kevin. Depois de me tratar daquele jeito seco, frio, como se eu fosse só mais uma funcionária qu
Sarah Miller O sol atravessa as frestas da cortina, desenhando faixas douradas pelo quarto. Abro os olhos lentamente, sentindo aquele calor suave na pele e, pela primeira vez em dias… respiro fundo, sem sentir peso no peito.Não sei exatamente o que está acontecendo entre mim e Kevin. Nem sei se está… acontecendo. Mas, de algum jeito estranho, só de lembrar do beijo de ontem daquele beijo diferente, tão silencioso e cheio de significados escondidos , sinto um sorriso escapar sem que eu consiga conter.Levanto, passo as mãos pelos cabelos e vou até a janela, abrindo um pouco a cortina para olhar o movimento da cidade lá embaixo. As ruas agitadas, pessoas indo e vindo… e eu aqui, trancada nesse quarto de hotel, com o coração completamente bagunçado.Pego o celular na mesinha ao lado da cama e, quase sem pensar, ligo para a Mia.— ALOOOOÔÔÔÔ! — ela atende gritando, como sempre, me fazendo rir.— Mia… — respiro fundo, me sentando na beira da cama. — Preciso te contar uma coisa…— MEU DEU
Sarah miller Vejo uma movimentação estranha do outro lado do restaurante e me atento, olhando curiosa. Algumas pessoas começam a se aproximar, parte delas parece assustada com a situação, outras apenas curiosas, se inclinando sobre as mesas, desviando cadeiras e até alguns objetos que estavam no caminho.— O que tá acontecendo? — ouço Lúcia perguntar ao marido, que parece tão perdido quanto ela, olhando na mesma direção, sem saber o que responder.Meu olhar volta automaticamente para frente e, num segundo que parece durar uma eternidade, vejo Austin acertar um soco em Kevin.Meu coração dispara.Sem pensar duas vezes, levanto rapidamente da cadeira, empurrando o encosto para trás e indo até eles, passando por entre os curiosos e os funcionários que começam a se alarmar.— Parem! — grito, me aproximando, com a respiração acelerada — Parem com isso, agora!Mas não adianta.Kevin já está partindo pra cima de Austin novamente, que tenta revidar. Eles trocam golpes pesados, ignorando comp
Sarah Miller O restaurante era chique, com uma decoração moderna e elegante: paredes em tons de cinza, iluminação baixa e aconchegante, e mesas com toalhas brancas impecáveis, arranjos minimalistas de flores e velas pequenas que criavam um clima quase íntimo demais para um jantar “de negócios”.Assim que entramos, Austin nos conduz até uma mesa no fundo, onde alguns colaboradores já nos esperavam.— Sarah, Kevin… esses são Lucía e Roberto Galván — apresenta Austin, com aquele ar sempre teatral.Lucía é uma mulher belíssima, na casa dos quarenta, pele morena iluminada, cabelos castanhos presos num coque sofisticado, com algumas mechas soltas emoldurando o rosto de traços marcantes. Usa um vestido verde-esmeralda de cetim, justo, de alças finas e com uma fenda tão ousada quanto a minha.Roberto, ao lado dela, parece uma escultura: alto, cabelos grisalhos bem penteados para trás, barba por fazer, olhar sério mas gentil. Veste um terno preto perfeitamente alinhado, com um lenço branco do
Sarah MillerAbro os olhos lentamente, sentindo uma dor de cabeça latejante que parecia dividir meu crânio ao meio. Levo a mão à testa, como se isso fosse ajudar de alguma forma, e olho ao redor. A cama enorme e bagunçada definitivamente não é a minha. Onde é que eu tô?Me sento de repente, o coração disparado. Meu Deus, o que aconteceu? Tento puxar alguma coisa da memória, mas tudo está embaçado. Só lembro de estar no bar com algumas pessoas simpáticas… e bebendo. Bebendo demais.Me viro e quase desmaio outra vez.Kevin está ali.Sentado no sofá em frente à cama, sem camisa, vestindo apenas uma calça de moletom cinza. O cabelo ainda molhado entrega que acabou de sair do banho. Ele está jogado no sofá com os braços apoiados no encosto, pernas abertas de forma displicente, e me observa com aquela calma irritante — como se eu não tivesse acabado de acordar num quarto que não é o meu, usando uma camisa que, com quase toda certeza, é dele.— O que aconteceu? Por que eu tô aqui? — pergunto
Sarah Miller — Você reclama que o cara não te dá um dia de folga e, quando ele te dá, você reclama também. Assim fica difícil te defender — diz Mia, indignada, na chamada de vídeo.Estava conversando com Mia depois que Kevin subiu sozinho para o quarto. Contei a ela sobre essa folga estranha que ele me deu.— Você não entende, Mia. Aconteceram mais coisas… e acho que foi por isso que ele me deu essa folga, e isso me incomoda — digo, suspirando.— Que coisas, Sarah? Somos amigas há anos, não entendo por que não está me contando tudo.Realmente somos amigas há anos e nunca escondo nada dela. Mas estava escondendo o beijo, pois não queria que ela e Justin criassem esperanças ou pensassem que estava rolando algo com Kevin. Até porque não pretendo que aconteça mais nada. Então prefiro não contar agora. Vou esperar voltar pra Nova York, aí sim conto tudo. Vai ser um alívio.— Agora não posso contar, mas prometo que te conto tudo quando voltar pra Nova York.— Queria saber logo, mas vou res
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