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Capítulo 2 — O Vazio que Ficou

O barulho da explosão ainda ecoava na cabeça de Caio Moretti quando ele finalmente conseguiu se arrastar para fora do carro. O mundo ao redor parecia um borrão cinza e laranja, cheio de fumaça, sirenes distantes e cheiro de metal queimado. Seus olhos ardiam, a pele queimava em alguns pontos, mas nada disso importava.

— Júlia… — ele sussurrou, como se o nome fosse um fio que o mantivesse de pé. — Júlia!

Mas só encontrava fogo.

Chamas intensas onde, segundos antes, o corpo dela estava preso.

Ele tentou voltar, mesmo cambaleante, mesmo com o braço sangrando e o peito latejando. Tentou correr até o carro em chamas, mas dois bombeiros o seguraram com força.

— Não! Minha noiva tá ali! — ele gritou, lutando como se sua vida dependesse daquilo.

— Senhor, não dá pra entrar — um dos bombeiros insistia. — A explosão foi total. A gente não encontrou sobreviventes lá dentro.

As palavras atingiram Caio como estilhaços invisíveis.

Seu corpo ficou mole, sem ar, como se um peso de toneladas tivesse caído sobre ele.

— Não… não fala isso. — A voz saiu quase infantil. — Ela tava viva. Ela… ela tava viva.

As pernas falharam.

Ele caiu de joelhos no asfalto quente, os olhos presos no fogo.

Ali, no meio do caos, Caio sentiu seu mundo se partir em um silêncio tão ensurdecedor que nem as sirenes conseguiam preencher.

E então veio o choro. Um choro que vinha do fundo, rasgando tudo por dentro, como se o peito estivesse implodindo. Ele se curvou, apoiando as mãos no chão, respirando de forma curta, perdida, incapaz de aceitar que a vida dele tinha acabado ali, naquele instante.

— Caio…? — uma voz fraca chamou atrás dele.

Era Helena.

Ela estava com machucados leves, o rosto sujo de fuligem e o olhar marejado. Parecia frágil, trêmula… mas havia algo a mais ali. Algo escondido por trás do susto, algo que Caio não percebeu — mas que estava presente.

Helena se aproximou devagar, cambaleando até se ajoelhar ao lado dele.

— Eu… eu achei que você tivesse morrido — ela murmurou, colocando a mão em seu ombro. — Eu… eu fiquei desesperada.

Caio não respondeu.

Não a olhou.

Apenas fixava os olhos nas chamas.

Helena engoliu seco, sentindo as próprias mãos tremerem. O que deveria ser um momento de choque, de tristeza genuína… era, para ela, uma mistura perigosa de sentimentos — medo, adrenalina e uma oportunidade que nunca admitira em voz alta.

— A culpa não foi sua… — ela sussurrou, tentando que sua voz saísse quebrada, convincente. — Você tentou salvar a gente.

Quando Caio finalmente a olhou, havia tanto desespero em seus olhos que Helena quase recuou.

Quase.

— Ela era tudo pra mim — ele disse, a voz baixa, rouca. — Eu devia ter tirado ela primeiro. Eu devia…

— Não! — Helena se apressou, segurando o rosto dele com as duas mãos, como se quisesse impedir que ele afundasse mais. — Você fez o que conseguia. Você fez o certo.

Era mentira. Ela sabia que ele não tinha feito.

Mas a mentira, naquele momento, servia a dois propósitos: acalmar… e aproximar.

Helena o puxou para um abraço, e Caio — quebrado, sem chão — deixou-se cair contra ela. Chorou no ombro dela como nunca tinha chorado na vida.

E Helena o apertou com força, com um carinho que era mais calculado do que sincero.

Por dentro, um pensamento escuro se formava, quase silencioso:

Agora eu estou aqui. Agora sou eu quem resta.

Ela enterrou o rosto no pescoço dele, fechando os olhos como se sentisse dor.

Mas não era dor.

Era a sensação perigosa de finalmente estar onde sempre quis — no centro dos braços daquele que nunca tinha olhado para ela como olhava para Júlia.

Ainda não.

Mas Helena tinha toda a intenção de fazer isso mudar.

— Eu vou cuidar de você — ela murmurou, como se prometesse algo doce. — Você não está sozinho.

Caio apertou os olhos com força, chorando ainda mais.

— Eu só quero ela de volta… só ela…

Helena o abraçou mais forte, a expressão suavemente sombria escondida atrás do choro.

— Eu sei, Caio… eu sei… — disse, acariciando seus cabelos num gesto quase íntimo. — Mas eu estou aqui. Com você. Sempre estive.

E, ao longe, enquanto Caio acreditava que Júlia tinha sido engolida pelas chamas…

… o destino preparava outro caminho.

Ela estava viva.

E prestes a acordar nos braços de outro homem.

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