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Capítulo 6 — A Verdade Que Ele Não Consegue Dizer

Daniel voltou para o hospital com passos pesados, mas o coração batendo rápido demais. A discussão com Caio ainda queimava dentro dele como ferro quente. As palavras ecoavam, especialmente a última frase de Caio:

“Ela é minha noiva.”

Mas Júlia não lembrava dele.

Não lembrava de nada.

E o peso disso deixava Daniel dividido entre culpa e uma sensação nova, perigosa, que crescia sem permissão.

Quando entrou no corredor da ala em que ela estava internada, o hospital parecia mais silencioso do que antes. As luzes frias, o cheiro de antisséptico, o vazio — tudo contrastava com o nó que apertava seu peito.

Ele parou diante da porta por alguns segundos, respirando fundo, tentando se controlar.

Tentando ser forte.

Tentando não sentir o que estava sentindo.

Mas quando entrou… tudo desmoronou um pouco.

Júlia estava acordada.

Sentada na cama, encostada nos travesseiros, olhando pela janela como se tentasse decifrar o mundo lá fora. A luz suave da tarde entrava e iluminava sua pele, deixando seus olhos com um brilho sereno.

Quando ouviu a porta, ela virou o rosto.

E sorriu.

— Você voltou.

Uma frase simples.

Mas bateu nele como um soco.

Daniel engoliu seco.

— Eu disse que voltaria — respondeu, tentando soar estável.

Júlia estendeu a mão para ele, sem pensar, como se aquilo fosse natural. Instintivo. Parte dela.

Ele hesitou por um segundo… mas acabou segurando.

O toque dela era leve, morno, confiante — como se aquela mão tivesse pertencido a ele a vida inteira.

— Eu me sinto melhor — ela disse, os olhos nos dele. — Mais acordada. Mais… eu, eu acho.

Daniel sorriu de leve.

— Que bom. Fico feliz.

Júlia mordeu o lábio, uma expressão tímida surgindo.

— Você… ficou aqui enquanto eu dormia?

Ele desviou o olhar.

— Fiquei. Quis garantir que você estivesse bem.

Ela respirou fundo, como se aquilo tocasse alguma emoção profunda que ela não sabia nomear.

— Obrigada — murmurou.

O silêncio que se instalou entre eles era diferente de antes.

Mais cheio.

Mais quente.

Quase… íntimo.

Júlia puxou a mão dele um pouco mais, fazendo com que ele se aproximasse da cama.

— Eu queria te perguntar… — ela hesitou — por que eu sinto tanta paz quando você chega? É estranho. Eu olho pra você e… parece certo. Parece que eu te conheço desde sempre.

Daniel fechou os olhos por um segundo.

Era o tipo de coisa que deixava a culpa dele insuportável.

— Júlia… — ele começou, sentando-se na beirada da cama, respirando fundo. — Tem algo que eu preciso te contar. Algo importante.

Ela franziu a testa, preocupada.

— Algo ruim?

— Algo verdadeiro — respondeu, a voz baixa, quase dolorida. — Eu… eu não sou quem você pensa que sou.

Ela o encarou por alguns segundos, tentando entender.

A respiração dela acelerou levemente.

— Como assim? — perguntou.

Daniel abriu a boca para dizer.

Para contar tudo.

Para desfazer o equívoco antes que ficasse grande demais.

— Júlia… eu não sou seu…

Mas ela não deixou terminar.

A mão dela subiu para tocar o rosto dele, suave, gentil, como se já tivesse feito aquilo mil vezes. E algo no olhar dela — aquele pedido silencioso, aquele medo de perder algo que nem entendia — o paralisou.

— Não… — ela disse baixinho. — Não fala nada agora. Não estraga isso.

— Júlia, você não entende… — tentou insistir.

— Entendo o que sinto — ela o interrompeu, a voz quente, decidida. — E o que eu sinto quando você está perto… não pode ser errado.

Antes que Daniel pudesse recuar, antes que pudesse dizer qualquer coisa, Júlia o puxou pela camisa.

E o beijou.

Um beijo inesperado.

Suave no começo, tremido, como se ela tivesse medo de ele fugir.

Mas cheio de algo profundo: confiança, entrega, algo que ela não conseguia explicar porque vinha de um lugar onde a memória falhava… mas o coração não.

Daniel congelou.

O corpo inteiro dele tensionou.

Os dedos se fecharam contra o lençol num reflexo desesperado de autocontrole.

Ele deveria afastá-la.

Deveria dizer a verdade.

Deveria explicar tudo.

Mas quando o beijo se aprofundou — lento, quente, inocente e devastador — algo dentro dele quebrou.

E ele correspondeu.

Por um instante.

Um único instante que ele sabia que nunca esqueceria.

Quando se afastaram, os lábios ainda próximos, a respiração entrelaçada, Júlia abriu os olhos com um brilho suave.

— Se você for embora… eu não vou saber quem eu sou — ela sussurrou. — Então fica. Por favor… fica comigo.

Daniel sentiu o chão desaparecer sob os pés.

Porque naquele pedido…

naquela voz frágil…

ele encontrou exatamente a coisa que sempre tentou evitar:

A necessidade de protegê-la.

A mesma de quando ela tinha seis anos.

A mesma que o guiou no meio das chamas.

A mesma que agora era um problema enorme, perigoso, irresistível.

Ele tocou o rosto dela com cuidado.

— Eu fico — disse, a voz baixa, quebrada — mesmo que isso complique tudo.

E sabia que complicaria.

Muito.

Porque cada segundo que passava…

Júlia se afastava mais do noivo que acreditava estar morto.

E corria diretamente para os braços do homem que o salvou…

e que, agora, ela jurava reconhecer como seu.

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