Júlia demorou mais para acordar naquela manhã. O quarto estava silencioso, iluminado por uma claridade leve que entrava através das persianas, criando listras suaves sobre o chão e sobre sua pele. Mas, diferente dos dias anteriores, ela não abriu os olhos com calma.
Acordou com o coração acelerado.
E com um som na cabeça que parecia ecoar de muito longe:
Vidro… estilhaçando.
Um grito.
O cheiro forte de gasolina.
Ela sentou na cama num sobressalto, quase arrancando o curativo na testa. A respiração saiu trêmula, rápida, enquanto tentava entender por que aquela avalanche de sensações a invadia sem aviso.
Era como se várias peças de um quebra-cabeça caótico fossem arremessadas na direção dela, mas sem formar imagem alguma.
— Não… não… — murmurou, apertando os olhos com força, tentando afastar o aroma imaginário de fumaça.
A porta se abriu devagar.
— Júlia?
A voz de Daniel.
E só isso bastou para que o corpo dela relaxasse um pouco, como se a presença dele apagasse, pelo menos temporariame