Mundo de ficçãoIniciar sessãoDante Ferraz era um homem que havia enfrentado os desafios da vida com coragem e astúcia, conseguindo alcançar o sucesso que sempre almejou. No entanto, sua trajetória é cruelmente interrompida por um trágico acidente aéreo que muda completamente sua existência. Nesse fatídico episódio, não só sua vida é arrancada de maneira abrupta, mas também sua verdadeira identidade. O mundo o dá como morto, e, nesse vazio, um amigo que ele considerava leal, Caio Valença, revela-se um traidor ardiloso. Caio, aproveitando-se da aparente morte de Dante, não hesita em usurpar seu império e seduzir Helena, a adorada esposa de Dante, que acreditava ter perdido para sempre. Os anos passam, e, de forma surpreendente, Dante ressuscita. No entanto, essa nova chance de vida transforma-o de maneira irreconhecível. Ele surge como um homem poderoso e abastado, detentor de um novo nome e uma nova identidade. Mas essa metamorfose não traz apenas riqueza e prestígio; repleta de sede de vingança, sua verdadeira essência continua intacta. Agora, ele torna-se uma força temida e invisível no mercado, operando nas sombras e seduzindo Helena, a mulher que se julga ter deixado para trás. No meio de um turbilhão de falsas aparências, paixões intensas e uma busca implacável por justiça, Dante perceberá que o processo de renascer vai muito além de simplesmente voltar à vida. Significará, na verdade, um retorno para ajustar as contas, um caminho angustiante na cobrança do preço pela traição que o despojou de tudo o que mais amava. Em sua jornada, ele descobrirá que a verdadeira força não reside apenas em sua nova fortuna, mas na capacidade de confrontar aqueles que lhe fizeram mal e na determinação em restaurar não apenas sua identidade, mas também a honra que lhe foi roubada.
Ler maisPrólogo — O Homem Que o Mundo Enterrou Vivo
O odor de queimado ainda pairava no ar. Mesmo após tanto tempo, parecia impregnado na pele, na atmosfera e nas memórias que insistiam em retornar. Dante Ferraz abriu os olhos lentamente, mas a luz intensa o atingiu como uma lâmina afiada. Tudo ao seu redor era branco, frio e excessivamente limpo. Ele tentou mover-se, mas seu corpo não reagiu. Tentou gritar, mas da sua boca só saiu um som fraco, semelhante ao ar escapando por um tubo. Seu corpo não obedecia suas ordens. No entanto, sua mente... ah, sua mente estava mais viva do que nunca. Imagens passaram pela sua memória em flashes vívidos o fogo devorador, o estrondo do avião se despedaçando, o som metálico de algo se soltando, o rosto de Helena e o grito angustiado de Matteo antes que tudo se transformasse em fumaça. E então, um vácuo. Um silêncio ensurdecedor. A primeira voz que ouviu ao despertar foi suave, mas determinada. — “Calma. Você está seguro.” Não era uma voz familiar. Não pertencia a nenhum membro de sua família. Contudo, era a única voz que ele possuía naquele momento. Nos dias que se seguiram, essa voz retornava continuamente. Era a mulher de jaleco. Seus olhos mostravam cansaço, as mãos transmitiam firmeza e sua voz era tranquila. Ela trocava o soro, limpava os curativos, murmurando palavras de consolo que ele mal conseguia responder. Falava para mantê-lo ancorado à realidade, para impedir que ele desistisse. Dante não sabia o nome dela. Na verdade, isso pouco importava. Naquele instante, ela era a única que parecia recordar que ele ainda existia. Os meses se arrastaram interminavelmente. Dante aprendeu a mover um dedo, depois o braço. A dor se tornava parte de sua nova rotina. Quando finalmente conseguiu falar, a primeira pergunta irrompeu de sua garganta arranhada: — “Minha esposa... sabe?” A mulher hesitou. O olhar dela se perdeu por um instante, e naquele momento ele compreendeu mesmo antes de ouvir a resposta. — “Ela... seguiu em frente.” O mundo imediatamente parou. Ou talvez já estivesse parado há muito tempo; ele apenas não havia percebido. Dias depois, a mulher trouxe um jornal dobrado. Tentou escondê-lo, mas Dante avistou o nome estampado na capa: “Caio Valença assume o Grupo Ferraz. Viúva do empresário Dante Ferraz reaparece ao lado do novo CEO.” Caio. O amigo. O irmão de alma. O homem que prometera cuidar de sua família caso algo lhe acontecesse. Dante fechou os olhos e, pela primeira vez, desejou não ter sobrevivido à calamidade. Mas já era tarde demais para isso. Seu corpo foi reconstruído. O homem que o mundo conhecia estava morto oficialmente sepultado. Restava apenas a outra versão de si mesmo. A que renasceu da dor. A que carregava seu nome como uma cicatriz e a alma como uma ferida exposta. A mulher do jaleco continuava ao seu lado. Cuidando dele. Falar era algo raro. E de vez em quando, quando pensava que ele estava dormindo, ela olhava para ele com um misto de sentimentos que ele não conseguia identificar seria compaixão... ou medo? Foi ela quem o ajudou a se erguer. Foi ela quem ensinou Dante a andar novamente. Foi ela quem ouviu o primeiro “obrigado” sair de seus lábios uma palavra baixa, rouca e sincera. Mas, no fundo, Dante sabia que gratidão e amor não coexistem no mesmo coração. E o coração dele já estava excessivamente repleto de ódio. Agora, uma nova missão se apresentava a ele. O inferno que conseguiu sobreviver não era nada comparado ao caos que estava prestes a desencadear. O mundo enterrara Dante Ferraz. O homem que retornou, porém, ninguém conhece. E todos irão se lembrar.NARRADO POR DANTE O papel parou de tremer quando eu assinei. Fim. Os flashes vieram. A sala aplaudiu. Mãos nas minhas costas. — Hoje é teu dia, Dante. Mas eu só pensava em sair dali. Puxei o celular do bolso. > “Chegou bem? Já tá voltando?” Não enviei. A TV da sala, no canto, ligou sozinha. Sem ninguém tocar. Volume subindo. — “Urgente: atropelamento grave no Jardim Botânico.” Meu corpo travou. — “A vítima é a médica Lorena Mello…” A caneta caiu da minha mão. E o som dela batendo na mesa ficou alto demais pro silêncio que veio depois. — “Segundo testemunhas, ela empurrou uma criança antes de ser atingida.” O mundo inclinou. Não pensei. Só repeti baixo: — Não… Renan já tava do meu lado. — Dante… Mas eu não ouvia. Na tela, imagens tremidas. Luz vermelha. Sirene. Uma ambulância. — “Encaminhada em estado crítico… suspeita de traumatismo craniano.” Meu estômago virou. — Não… não, não… A mesa virou minhas costas. Eu sentei antes de cair. — Eu mandei ela —
NARRADO POR LORENA “Vai tranquila. Cuida do meu guri… mas, principalmente… volta pra mim. Eu só respiro com tu perto, vida. Só tu.” Sorri de canto. — Sempre volto, Dante. Sempre. Ele me olhou… aquele olhar bruto, intenso, protetor. — E volta bonita assim. Só pra eu te despir de novo. E saiu. Eu encostei na parede. Mas o coração… não tava leve. Algo pesava. Estranho. Apertado. Sufocando. ** No carro, o Mateo cantava baixinho no banco de trás. — Tia Lorena, a mamãe já tá lá? — Tá, meu amor. Tá te esperando. Estacionei. Vi a Helena na calçada. Braços cruzados. Olhar frio. — Vamos, campeão. — soltei o cinto. — Dá a mão. Ele segurou. Aquela mãozinha quente. Confiante. Pequena. Atravessamos. E aí… O SOM. O GRITO DO MOTOR. O RUGIDO FEROZ. A cabeça virou sozinha. O CARRO. VINDO. RÁPIDO. SEM FREIAR. O tempo… parou. Tudo ficou lento. O rosto da Helena mudando. O grito dela saindo mudo. O Mateo puxando minha mão. — Tia Lô…? O olhar dele assustado. E no fundo d
NARRADO POR LORENA SEGUNDA-FEIRA NARRADO POR LORENA Acordei com o cheiro do café vindo da cozinha. Estiquei a mão na cama. Toquei o lado dele. Ainda quente. Mas vazio. Me virei devagar, o lençol caindo da cintura. A luz da manhã entrava pelas frestas da cortina. Suspirei. Levantei. Só com a camisa dele no corpo. Grande, cheirando a ele. As pernas nuas. Desci as escadas devagar, os pés descalços no piso frio. E ali estava ele. Em pé, em frente ao espelho da sala. Camisa branca aberta nos botões de cima. Gravata pendurada no pescoço. Calça preta justa, o cinto meio solto. Relógio brilhando no pulso. O cabelo molhado, penteado pra trás. Ele ajustava os punhos da camisa, concentrado. Mas quando viu meu reflexo… parou. Virou devagar. O olhar dele… escuro. Firme. Aquele olhar que só ele tinha. Aquele olhar que queimava a alma. — Porra, vida… tu quer me matar? — ele falou baixo, rouco. Fingi inocência. — Nem fiz nada. Ele largou a gravata. Veio andando.
NARRADO POR DANTE Eu encostei na porta, calado. Fiquei olhando. A Lorena tava sentada no tapete da sala, as pernas cruzadas, os cabelos soltos caindo no rosto. O Mateo gargalhava, tentando pegar os blocos de montar que ela escondia atrás das costas. — Achei! — ele gritou. Ela riu alto, iluminada. — Não vale! Você é muito bom nisso, campeão! Aquela risada… Aquele brilho no olhar dela… Eu nunca tinha visto a Lorena tão leve. Tão… inteira. Mas eu sabia. Sabia que por dentro ainda tinha um eco. Uma dor escondida. Aquela frase da Helena não tinha sumido. Ela me olhou por cima do ombro, sorrindo. — Amor, vem brincar com a gente! Sorri pequeno. — Já vou, vida. Só vou pegar uma coisa no quarto. Ela voltou a brincar com o Mateo, distraída. Eu fui até o quarto. Peguei a chave do carro. Fechei a porta devagar. Porque eu precisava ir. Precisava resolver. Precisava encarar. Precisava tirar a voz da Helena da cabeça da minha mulher. Desci.
NARRADO POR LORENA O carro parou. A casa dela parecia maior ao vivo. Mais fria. Mais distante. O Dante desligou o motor. Olhou pra mim, sem dizer nada. Só aquele olhar que dizia “tô aqui.” Ele saiu, deu a volta, abriu a porta pra mim. A mão dele pegou a minha. E não soltou. Nem um segundo. Subimos os degraus. Ele tocou a campainha. A porta abriu. Ela estava ali. A Helena. Linda. Serena. Mas com um olhar que já pesava antes mesmo de falar. Os olhos dela caíram na nossa mão entrelaçada. Subiram pro rosto dele. O sorriso veio, pequeno. Educado. Mas nada gentil. — Oi. — ela disse. — Oi. — ele respondeu. O braço dele passou pela minha cintura. Me puxou mais perto. Firme. Sem deixar espaço. — Essa é a Lorena. Minha mulher. Meu coração bateu alto. Mas eu mantive o sorriso discreto. Seguro. A Helena me olhou devagar. De cima a baixo. Pesando. Avaliando. Classificando. — Prazer. — ela disse, com um sorriso que não chegava nos olhos. — O prazer é meu. — res
NARRADO POR DANTE Acordei antes. Fiquei olhando ela dormir, enrolada no lençol, os cabelos espalhados no travesseiro, a respiração leve. Desci. Preparei café. Subi com a bandeja. Sentei na beira da cama. Passei a mão no rosto dela devagar. — Vida… acorda. Preciso falar uma coisa. Ela abriu os olhos, sonolenta, preguiçosa. — O que foi? Sorri leve. — Hoje eu vou buscar o Mateo. Vai passar o final de semana comigo. Ela sorriu pequeno. — Que bom, amor. Que delícia. Respirei fundo. Aproximei mais. — Mas eu vou buscar ele na casa da Helena. Ela parou. O sorriso sumiu. — E eu quero que tu vá comigo. — falei, firme. Ela me olhou surpresa. — Na casa da… da Helena? Assenti. — É. Quero você comigo. Quero entrar lá contigo. Quero que ela veja que você tá comigo. Quero ela sabendo que quem tá na minha vida agora é você. Ela respirou fundo. Baixou o olhar. — Dante… eu nem conheço ela. A gente nunca nem se viu… eu não sei se é uma boa ideia… ela pode interpretar mal… o Ma
Último capítulo