NARRADO POR DANTE
Eu encostei na porta, calado.
Fiquei olhando.
A Lorena tava sentada no tapete da sala, as pernas cruzadas, os cabelos soltos caindo no rosto.
O Mateo gargalhava, tentando pegar os blocos de montar que ela escondia atrás das costas.
— Achei! — ele gritou.
Ela riu alto, iluminada.
— Não vale! Você é muito bom nisso, campeão!
Aquela risada…
Aquele brilho no olhar dela…
Eu nunca tinha visto a Lorena tão leve.
Tão… inteira.
Mas eu sabia.
Sabia que por dentro ainda tinha um eco.
Uma dor escondida.
Aquela frase da Helena não tinha sumido.
Ela me olhou por cima do ombro, sorrindo.
— Amor, vem brincar com a gente!
Sorri pequeno.
— Já vou, vida. Só vou pegar uma coisa no quarto.
Ela voltou a brincar com o Mateo, distraída.
Eu fui até o quarto.
Peguei a chave do carro.
Fechei a porta devagar.
Porque eu precisava ir.
Precisava resolver.
Precisava encarar.
Precisava tirar a voz da Helena da cabeça da minha mulher.
Desci.