**Narrado por Helena**
Dois anos.
Dois anos se passaram desde o acidente. Dois anos desde o último beijo trocado. Dois anos lutando para sobreviver em um corpo que ainda exala vida, mas já não realmente vive.
Aprendi a sorrir para não assustar meu filho. Aprendi a cozinhar para duas pessoas, mesmo que a falta do terceiro prato na mesa faça falta a cada refeição. Aprendi a disfarçar, fingindo que seguir em frente é o mesmo que esquecer e, na verdade, não é.
Caio permaneceu. Ele ficou quando todos os outros se foram. Ficou quando o mundo parou de se preocupar se eu estava bem. Ele me cuidou. Cuidou de nós. Cuidou de Mateo.
Às vezes, penso que foi aí que começou o erro quando deixei de enxergar o cuidado como amizade e passei a vê-lo como uma forma de sobrevivência.
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Naquela tarde, o céu estava saturado. Um cinza caloroso e pesado, como se estivesse prestes a liberar a chuva, mas ainda retendo-a. Eu estava na varanda, observando Mateo brincar com seus carrinhos, rindo sozinh