NARRADO POR LORENA
SEGUNDA-FEIRA
NARRADO POR LORENA
Acordei com o cheiro do café vindo da cozinha.
Estiquei a mão na cama.
Toquei o lado dele.
Ainda quente.
Mas vazio.
Me virei devagar, o lençol caindo da cintura.
A luz da manhã entrava pelas frestas da cortina.
Suspirei.
Levantei.
Só com a camisa dele no corpo.
Grande, cheirando a ele.
As pernas nuas.
Desci as escadas devagar, os pés descalços no piso frio.
E ali estava ele.
Em pé, em frente ao espelho da sala.
Camisa branca aberta nos botões de cima.
Gravata pendurada no pescoço.
Calça preta justa, o cinto meio solto.
Relógio brilhando no pulso.
O cabelo molhado, penteado pra trás.
Ele ajustava os punhos da camisa, concentrado.
Mas quando viu meu reflexo…
parou.
Virou devagar.
O olhar dele…
escuro.
Firme.
Aquele olhar que só ele tinha.
Aquele olhar que queimava a alma.
— Porra, vida… tu quer me matar? — ele falou baixo, rouco.
Fingi inocência.
— Nem fiz nada.
Ele largou a gravata.
Veio andando.