Mundo ficciónIniciar sesiónCapítulo 1 — O Início de Tudo
Nunca precisei de muito para me sentir pleno. Para mim, a vida se resumia a três coisas essenciais: um teto que me abrigasse, um prato quente que aquecesse meu corpo e a companhia de alguém especial para compartilhar o silêncio ao final de cada dia. No entanto, foi ao conhecer Helena que realmente compreendi o que significa ter um lar. Helena chegou de forma inesperada, como uma brisa suave que não se anuncia, e, de alguma forma, permaneceu. Não era uma presença marcada por promessas grandiosas, mas pela simplicidade do cotidiano. Seu riso fácil iluminava os ambientes, seu jeito teimoso me desafiava a ser melhor, e aquele olhar profundo tinha a capacidade de dissipar qualquer ansiedade. Nosso casamento distava muito das convenções das revistas de moda. Era um momento simples e repleto de intimidade, cercado por pessoas que realmente amávamos. Não houve ostentação; o que contava eram apenas o amor e a coragem que nos uniam. Lembro-me do vestido dela leve, sem brilhos exagerados, mas incrivelmente belo. E do seu sorriso nervoso que brotava a cada passo que ela dava em minha direção, como se a própria felicidade estivesse transbordando. Quando Helena pegou minha mão e pronunciou o sim, senti como se o universo inteiro coubesse ali, entre nossos dedos entrelaçados. A vida ao lado dela era como um projeto para a eternidade. Juntos, construímos nossa casa com carinho, tijolo por tijolo. Ríamos das falhas e comemorávamos as conquistas, e em cada canto podíamos perceber uma história recém-escrita. Cada planta que ela colocava na janela era um lembrete de que a verdadeira felicidade reside nos pequenos detalhes do dia a dia. A vida deu uma reviravolta quando Helena apareceu na sala segurando um teste de gravidez. Naquele instante, soube que tudo mudaria. Ela olhou para mim e disse com um sorriso que misturava medo e esperança: “Você vai ser pai.” O chão sob meus pés pareceu desaparecer. Um medo avassalador penetrou em mim, seguido de uma alegria tão intensa que me fez sentir que meu coração quase explodiria de felicidade. Eu ia ser pai! O amor que já sentia por Helena agora se concretizava em uma nova vida, com um pequeno ser que tinha seu próprio nome e seus próprios batimentos. O nascimento de Matteo revelou-se o ápice da minha existência. Ao ouvir seu primeiro choro, juro que o tempo parou por um segundo. Abraçar aquele bebê foi um reconhecimento visceral do que é amar alguém que você ainda não conhecia, mas pelo qual já estaria disposto a dar a vida. Olhando para mim, com lágrimas nos olhos, Helena exibia um semblante de exaustão bem como de felicidade, e eu apenas pensava: nada iria roubar essa sensação de nós. E, por um bom tempo, nada roubou. Os dias eram apressados, mas repletos de alegria. As noites mal dormidas se tornavam insignificantes diante das risadinhas do Matteo e do olhar que Helena me dirigia, como se eu fosse o homem mais afortunado do mundo. Acordar e vê-la amamentando nosso filho na poltrona da sala era uma cena que eternamente desejaria viver. Quando Matteo começou a engatinhar, o caos se instalou em nossa vida e eu adorava cada segundo. A primeira vez que ele me chamou de “papai” trouxe lágrimas aos meus olhos, sem qualquer vergonha. Helena riu, brincando que eu estava sendo bobo. E eu realmente era. Um homem bobo, grato e perdidamente apaixonado. Voltando para casa depois do trabalho, minha ansiedade aumentava a cada passo que me afastava da porta. Ao abri-la, o som de dois corações vibrando juntos preenchia o ar. Helena cantava desafinado enquanto Matteo batia palmas, e eu deixava o mundo lá fora, mergulhando na felicidade de nosso lar, meu pequeno império simples, mas inteiramente meu. Numa dessas noites, com Matteo adormecido e Helena repousando no sofá, meu melhor amigo, Caio Valença, apareceu. Ele é como um irmão para mim, aquele tipo de homem que eu escolheria como padrinho se tivesse que me casar de novo. Ele chegou trazendo uma garrafa de cerveja e aquele sorriso que sempre ilumina qualquer ambiente. Nos sentamos na varanda, como era comum, cada um com sua garrafa, enquanto contemplávamos o céu repleto de estrelas. — “Cara, você conseguiu.” — ele exclamou. — “Uma família linda, uma casa, empresa… tudo!” Eu ri, um pouco sem graça pela sua afirmação. — “Nem tudo, Caio. Ainda quero deixar algo para Matteo. Desejo que ele cresça com segurança, que nunca precise escolher entre o que ama e o que paga as contas.” Ele me olhou de forma pensativa, como se estivesse refletindo sobre algo mais profundo. — “E a Helena?” — “Helena é o centro de tudo. Se cheguei até aqui, foi por causa dela.” Caio assentiu, mas havia algo de estranho em seu olhar um brilho que não combinava com a leveza da conversa. Por um breve momento, pareceu distante, como se carregasse um pensamento que não deveria ser exposto. — “Cuidado para não confiar demais, irmão.” — disse ele, de repente. Franzi a testa, confuso. — “O que você quer dizer com isso?” Ele tentou disfarçar, tomando um longo gole da cerveja. — “Nada, só… o mundo muda rapidamente. Às vezes, quem está ao seu lado hoje não estará amanhã.” Achei que fosse influenciado pelo álcool, e ri. — “Deixa de drama, Caio. Helena é minha vida. Não há futuro sem ela.” Ele apenas sorriu, mas o sorriso não atingiu seus olhos. Conversa continuou por horas. Discutimos sobre trabalho, sobre um novo contrato que eu estava prestes a fechar, meus planos futuros. Ele parecia excessivamente interessado nos detalhes, nas projeções e nos números. Mas eu, cego pela confiança, não percebi o veneno escondido por trás da curiosidade. Naquela mesma noite, antes de adormecer, envolvi minha mão pela cintura de Helena e sussurrei: — “Eu te amo. Não existe nada no mundo que eu deseje além disso.” Ela se virou para mim, sonolenta, oferecendo aquele sorriso que sempre enfraquecia qualquer defesa minha. — “Eu também te amo, Dante. Para sempre.” E eu acreditei. Com a força de um homem que está certo de que o destino é favorável. Enquanto o sono me envolvia, pensei na minha sorte. Eu tinha a mulher que amava, o filho que sempre sonhei, um amigo leal e um futuro promissor à frente.






