Mundo ficciónIniciar sesiónJuliana Bezerra sempre sonhou com uma vida tranquila no interior do Rio de Janeiro, mas anos presa a um relacionamento abusivo destruíram tudo o que ela acreditava sobre amor, segurança e sobre si mesma. Desesperada por paz, ela foge com a ajuda de sua melhor amiga, Karina, que vive em Londres e a recebe de braços abertos para um recomeço. Mas recomeçar nunca é fácil. O idioma vira um desafio constante, suas qualificações não valem nada ali, e o peso dos traumas ainda a acompanha em pesadelos, gatilhos e inseguranças. Determinada a trabalhar, Juliana aceita a vaga que Karina consegue: ser babá de Mel Tudor, uma menina de cinco anos que fez todas as outras babás desistirem antes do final do primeiro dia. Só que Juliana não é como as outras. Com paciência, afeto e conhecimento, ela conquista a menina — algo que ninguém, nem mesmo o pai dele, conseguiu. E esse é o começo do problema. Leo Tudor, CEO bilionário, frio, arrogante e viciado em controle, não sabe lidar com a presença daquela mulher latina, sem pedigree, sem títulos nobres e com um sotaque que denuncia cada insegurança. Para a família Tudor, ela é… inadequada. Para a governanta — apaixonada secretamente por Leo — ela é uma ameaça. E para Leo, ela é a primeira pessoa em anos capaz de desafiar suas certezas… e bagunçar seu autocontrole. Em uma casa onde todos esperam que ela fracasse, Juliana precisará encontrar sua força, enfrentar o preconceito silencioso da aristocracia inglesa e lidar com o homem que a irrita, a provoca… e a atrai de uma forma que ela não estava pronta para sentir.
Leer másJuliana Bezerra
Eu acordei com o barulho insistente do meu celular vibrando na cômoda.
Era o meu despertador das seis. Mais um dia de trabalho na escola… ou pelo menos era o que eu esperava.Me espreguicei devagar, tentando não fazer barulho, mas antes que eu pudesse levantar, senti uma mão pesada puxando meu braço de volta.
— Vai levantar pra onde? a voz do André cortou o ar, rouca e irritada. — Ainda nem falei com você.
Engoli seco. A claridade fraca da manhã entrava pela fresta da cortina, iluminando só metade do quarto.
Respirei fundo.— Eu vou trabalhar, André. Tenho aula às oito… você sabe respondi baixo, tentando manter a calma.
Ele se levantou de repente, me prensando contra a parede fria ao lado da cama. O choque me fez perder o ar.
— Trabalhar? Trabalhar pra quê, Juliana? ele aproximou o rosto do meu, os olhos escuros queimando de raiva. — Que homem é esse que deixa a mulher sair de casa pra ficar dando atenção pra criança dos outros?
— É meu emprego… sussurrei, desviando o olhar.
Ele segurou meu queixo com força, me obrigando a encará-lo.
— Eu não tenho mulher pra sair por aí, não.
O tom dele era baixo e perigoso. — Você fica. Hoje você fica. Tá entendido?Meu coração martelava dentro do peito. Não era a primeira vez que ele fazia isso… mas cada vez parecia pior.
— André… eu preciso ir. Eu dependo desse salário.
Ele riu. Mas não era um riso de verdade, era um som frio, de deboche.
— Depende de mim. Não de emprego nenhum.
Apertei os lábios. A verdade é que eu já não dependia dele. Dependia da minha coragem para ir embora.
E ela estava começando a surgir, mesmo que aos pedaços.— Eu vou. repeti, mais firme do que esperava.
Ele deu um passo rápido e empurrou a porta com a mão, bloqueando minha saída.
— Você não vai lugar nenhum, Juliana.
Por um instante, senti aquele velho medo tentar me dominar.
Mas algo dentro de mim… mudou. Talvez fosse o cansaço. Talvez fosse a vontade de viver.— André, sai da minha frente. Agora.
Ele me encarou como se eu tivesse acabado de desafiar um rei.
Tentei passar por ele, mas André foi mais rápido. Arrancou a chave da porta, girou a fechadura e guardou no bolso da bermuda.
— Pronto. Resolvido. Agora você não sai mais. disse com aquela frieza que sempre me arrepiava.
— André, por favor… minha voz falhou. — Eu preciso trabalhar.
Ele se aproximou, tão perto que eu pude sentir o cheiro de álcool da noite anterior.
— Já falei que você não vai. Mulher minha não sai de casa pra trabalhar.
Os olhos dele passearam pelo meu rosto, como se tivesse orgulho da minha fraqueza. — E para de me desafiar, Juliana. Você não é ninguém longe de mim.Ele pegou minha mochila e a jogou no chão.
— Eu volto à noite.
Antes de sair, lançou o olhar que eu mais temia. — Tenta sair daqui… se conseguir.A porta bateu tão forte que o som ecoou pela casa inteira.
Fiquei parada no meio da sala, sentindo o choque, o medo, a humilhação… e algo a mais: a certeza amarga de que isso nunca ia mudar.
Meus olhos ardiam. Quando passei a mão pelo rosto, senti a dor pulsando no canto do olho.
O roxo estava pior do que eu imaginava.Peguei o celular com as mãos tremendo e abri a conversa que eu mais precisava naquele momento.
Karina minha melhor amiga. Minha única saída.
Escrevi rápido, antes que a coragem sumisse.
“Kari… ele me trancou em casa. Tirou a chave. Eu… eu não aguento mais.”
Ela respondeu quase na mesma hora, como se estivesse esperando por isso.
Karina:
Ju, o que ele fez com você? Me conta agora.As lágrimas finalmente caíram, silenciosas, queimando minha pele já machucada.
“Eu tentei ir trabalhar. Ele não deixou. Me prensou na parede… meu olho tá roxo. Kari, eu tô com medo.”
Ficou alguns segundos sem responder, e então veio a mensagem que mudaria tudo.
Karina:
Amiga, chega. Você não vai ficar aí mais um dia. Eu vou te ajudar a fugir. Vou comprar sua passagem pra Londres hoje mesmo. Você pede demissão essa semana, junta suas coisas escondida e vem pra cá ficar comigo.Meu coração disparou.
Londres.
Outra vida. Outra chance.Mas o medo veio logo em seguida.
“Kari… eu não sei falar inglês. Como eu vou viver aí?”
A resposta dela veio firme, decidida como ela sempre foi.
Karina:
Aqui você aprende, Ju. Eu te ensino, eu te ajudo, eu te protejo. Mas você precisa vir. Ou esse homem ainda vai te matar.Outra mensagem:
Karina:
Seu olho está roxo porque ele te machucou. Mas você é linda, inteligente, capaz. Você não nasceu pra viver assim. Eu tô aqui. Não solto sua mão.Chorei. Não de tristeza…
Mas por sentir, pela primeira vez em muito tempo, que alguém realmente se importava.Olhei para a porta trancada, para minha mochila caída no chão, para o meu reflexo machucado na janela…
E então senti algo nascer dentro de mim:
a vontade de ir embora. De verdade.
A vontade de sobreviver.Leo TudorA manhã começou como todas as outras.Silenciosa. Controlada. Exatamente como eu gostava.O sol entrava pelas janelas altas da sala de jantar, refletindo na mesa impecavelmente posta. Café preto, frutas cortadas com precisão excessiva e pão ainda quente. Nada fora do lugar.Exceto minha filha.Mel estava sentada à minha frente, balançando as pernas com impaciência, os braços cruzados e o olhar emburrado fixo no prato.— Vai comer ou pretende encarar a comida até ela se sentir intimidada? perguntei, pegando minha xícara.Ela fez um som irritado com a boca.— Não tô com fome.— Engraçado comentei, calmamente. Ontem você estava com bastante energia para chamar a babá de dentadura.Os olhos dela se arregalaram por um segundo… depois vieram o desafio e a teimosia que ela herdou de mim.— Ela foi chata.— Ela estava fazendo o trabalho dela respondi, firme. E você foi desrespeitosa.Mel virou o rosto, claramente contrariada.— Ela não gostava de mim.Apoiei a xícara no pires com
Karina tinha me mandado o endereço, mas eu ainda não estava preparada para o que encontrei quando desci no ponto indicado.A rua era silenciosa, arborizada, com casas tão grandes que pareciam pequenos museus. Mas nenhuma delas chegava perto daquela que estava no número marcado no papel amassado em minha mão.Eu empanei.Literalmente.Em frente a mim havia uma mansão imensa, com muros altos e portões de ferro trabalhado. Um brasão enorme — dourado, reluzente — estampava as iniciais T.T.Tudor.O nome soava ainda mais pesado ali, materializado em pedra, vidro e riqueza.O portão não era apenas grande — era monstruoso. E atrás dele… eu conseguia ver parte do enorme jardim, com árvores perfeitamente podadas, uma fonte de mármore no centro e três carros de luxo estacionados na entrada, como se fossem peças de coleção:Um Rolls-Royce preto.Um Bentley azul-marinho.E uma Range Rover branca, enorme, impecável.Eu não sabia se devia entrar ou sair correndo.Meu coração batia tão forte que par
A vida às vezes muda de lugar sem pedir permissão.Num dia você está fugindo às pressas, com a mala pesando mais nas memórias do que nas roupas…E no outro, está sentada num quarto emprestado em Londres, tentando aprender a respirar de novo.Eu ainda estava nesse processo.Respirar.Viver.Entender quem eu era sem medo.Karina insistia que eu estava indo bem, mas eu não acreditava muito. O inglês tropeçava na minha boca, minhas mãos suavam cada vez que alguém falava rápido demais, e o café onde eu trabalhava era… bom. Apenas isso. Bom.O problema é que “bom” não paga aluguel em Londres.E meu salário, por melhor que fosse para um começo, era quase simbólico.Naquela tarde, eu estava lavando algumas xícaras quando Karina entrou pela porta dos fundos, ofegante, como se tivesse corrido uma maratona. Os olhos dela brilhavam daquele jeito que só brilhavam quando ela tinha uma notícia bombástica.— Ju, você precisa sentar. Agora.— Meu Deus… aconteceu alguma coisa? — coloquei as xícaras de
Leo Tudor A vida muda rápido demais. Algumas pessoas dizem isso como metáfora… mas no meu caso, foi literal. Perdi minha esposa há dois anos, e desde então tudo ganhou outra cor. Cinza. Silenciosa. E eu precisei aprender a respirar dentro desse silêncio. Hoje, minha rotina é simples: Acordo cedo demais. Abro as cortinas do loft e deixo a luz cinzenta de Londres entrar. Confiro e-mails, respondo mensagens da diretoria, reviso relatórios. Tudo automático. Tudo calculado. Mas nos últimos meses… existe um caos adicional na minha vida. Um caos de cinco anos, de cabelos loiros e olhos astutos: Mel. Minha filha.. Meu tornado em forma de criança. Meu orgulho — e meu maior desafio. Já estamos na nossa sétima babá em quarenta dias. E nenhuma sobrevive mais de um dia ao furacão Mel. Ela não é maldosa. Só… fechada. Machucada demais pela perda da mãe. E eu também não facilito, sendo honesto. Trabalho demais. Peço demais. Espero demais. E, nesse ritmo, ninguém aguenta. N
Juliana Bezerra Acordei com um cheiro maravilhoso de café invadindo o quarto. Por um momento, nem sabia onde estava… até ver a janela alta iluminada pela luz fria de Londres. Suspirei fundo. Era real. Eu estava mesmo ali.— Bom dia, dorminhoca. ouvi a voz da Karina, suave, divertida.Virei o rosto e ela já estava puxando as cortinas, deixando a claridade entrar.— Karina… você acorda cedo demais. murmurei, ainda enrolada no cobertor.— Aqui o dia começa cedo, amor. Vai se acostumando.Me levantei, espreguicei e segui o cheiro delicioso até a cozinha. Quase caí para trás quando vi a mesa: torradas, ovos mexidos cremosos, cogumelos salteados, tomate assado, linguiçinhas, geleias, chá… e até croissants.— Você fez tudo isso? perguntei, impressionada.— Claro. É seu primeiro dia aqui. Eu queria que fosse especial.Sentei, e nós duas começamos a comer enquanto ela me contava histórias do bairro, me olhando com aquele cuidado que só ela tem. Cada detalhe da mesa parecia pensado para me
Juliana BezerraKarina pegou minha mala como se fosse obrigação dela me carregar dali pra frente.— Vamos pra casa. Você deve estar exausta. O voo foi tranquilo?— Foram quase doze horas de viagem, fora a escala em São Paulo... eu tô morta. suspirei. — E ainda enjoei umas três vezes.Ela riu, balançando a cabeça.— Você sempre passando mal quando fica nervosa. Mas agora acabou. Bem-vinda a Londres, Ju.Saímos do aeroporto e o céu estava nublado, típico. O cheiro do frio pareceu atravessar meu casaco simples. Entramos no carro que ela tinha, e enquanto dirigia, ela começou a apontar tudo pela janela.— Eu moro em Greenwich, você vai amar. É tranquilo, seguro, cheio de árvores, parques, gente simpática... tem uma vista perfeita do Tâmisa. Ela sorriu. — E tem a minha casa, que agora também é sua.Meu peito aqueceu.— Karina... eu não quero te dar trabalho.— Cala a boca. Ela sorriu de canto. — Eu esperei anos pra você sair daquele inferno. Agora deixa eu cuidar de você um pouco.Fique





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