Mundo ficciónIniciar sesiónEle perdeu a voz quando o amor morreu — e o mundo inteiro aprendeu a temer o seu silêncio. Durante a guerra dos clãs, o Alfa do Norte viu sua Luna ser assassinada pelo inimigo. Desde então, governa em silêncio absoluto, preso entre culpa, raiva e solidão. Anos depois, Helena Morel, filha do clã rival, foge de um casamento arranjado e cruza os limites do Norte. Ela carrega no corpo uma marca idêntica à da mulher que o Alfa perdeu — um símbolo lunar que ninguém entende, mas que desperta memórias antigas e instintos adormecidos. Entre o gelo e o desejo, o silêncio dele começa a ruir. Mas quando o homem que matou a antiga Luna volta para reivindicar a fugitiva, o Alfa precisa escolher: continuar calado ou gritar o nome da mulher que pode devolver sua alma — e sua voz. Um romance sombrio de lobisomens, amor proibido e redenção, onde até o silêncio uiva.
Leer másA neve caía grossa, branca demais para um campo coberto de sangue.
Kael Dravik lutava.
O aço batia no aço.
Do outro lado, Lyra, sua Luna, corria entre as árvores, protegendo os mais jovens.
Foi o suficiente para o tempo partir.
Um rugido profundo rasgou a névoa.
Kael o reconheceu e tudo o mais desapareceu.
Dravon sorriu, lâmina à altura do rosto.
— Kael! — Lyra gritou, e o som cortou o vento.
A lâmina de Dravon desceu.
Lyra cambaleou.
— Lyra… — tentou dizer, mas a voz não veio.
Ela sorriu, olhos brilhando com dor e ternura.
Mas ele gritou.
O rugido subiu das entranhas como avalanche e explodiu no céu.
Junto do rugido, veio o castigo.
Depois — silêncio.
Kael a segurou contra o peito.
Kael moveu os lábios. Nada.
Dravon observava à distância, satisfeito.
Kael permaneceu ajoelhado, curvado sobre Lyra.
Quando o sol nasceu, o Alfa do Norte havia morrido — e no lugar ficou um homem sem voz.
Diziam que, em noites de lua cheia, o vento ainda trazia o eco do grito.
Ele voltou ao castelo e nunca mais abriu a boca.
Se gritar… o lobo morre com você.
Kael fechava os olhos e deixava que o vento arrastasse a lembrança.
Muito longe dali, em outra fronteira, uma mulher corria pela mata vestida de branco — o mesmo branco de Lyra.
Quando parou para respirar, o vento soprou por entre as árvores e fez o céu estremecer.
— Helena.
A mulher ergueu o rosto.
No alto, a lua inteira se virou devagar, como quem reconhece um sangue.
Ele abriu os olhos.
E o Norte, inteiro, conteve a respiração.
O Norte dormia em paz.As montanhas respiravam devagar, embaladas pelo som da neve.O nome de Helena permanecia gravado no gelo, brilhando sob a lua — agora inteira, sem feridas.O vento cantava como se cada sopro fosse lembrança.Mas em algum lugar, bem abaixo do altar, onde o gelo se tornava pedra e a luz não alcançava, algo se moveu.Um pulsar.Baixo, constante.Antigo demais para ser esquecido.Aren caminhava sobre o vale ao amanhecer.O manto dourado arrastava na neve, e os lobos o seguiam em fila.Nos olhos dele, a serenidade dos que viram o amor vencer — mas também o peso dos que sabem que nada vence para sempre.Ele parou diante do altar e se ajoelhou.O nome dos pais brilhava com o toque da lua.— Pai. Mãe. — murmurou. — O Norte respira. Mas respira fundo demais.O vento respondeu em sussurros.Helena e Kael falavam juntos, em uníssono, através do ar.— Cada paz carrega o embrião da tempestade.— E cada filho carrega o chamado do mundo.Aren abaixou a cabeça.— Então é verdad
O tempo passou como vento sobre o gelo.Os anos foram lentos no Norte, mas o silêncio nunca mais foi o mesmo.Ele não pesava — respirava.E, dentro dele, vivia o som de um nome que jamais se apagou.Helena.O Norte murmurava esse nome em cada aurora.Os lobos ainda uivavam em reverência.Erynn, agora muito velha, dizia que o mundo só seguia inteiro porque alguém, um dia, ousou amar sem medo de morrer.Aren crescera.O menino de olhos dourados tornara-se homem.Caminhava com a calma dos que aprenderam a escutar antes de falar.E Kael — o Alfa silencioso — envelhecia ao seu lado, sereno, em paz.Naquela noite, o céu estava limpo.A lua, pela primeira vez desde a guerra, subiu inteira e prateada, sem sombra, sem divisão.Aren olhou pra ela e sorriu.— Ela voltou — murmurou.Kael assentiu, o olhar brilhando sob a luz fria.Com os dedos, escreveu na neve: “A lua não volta. Nós é que voltamos a vê-la.”Aren leu e riu, com ternura.— Ainda és o poeta que nunca falou.Kael apenas tocou o ombr
A neve começou a cair de novo, mas dessa vez sem frio.Os flocos pareciam cinzas de luz, descendo devagar, pousando sobre o vale como bênção.O Norte voltara a respirar.E cada sopro parecia murmurar o mesmo nome — Helena.Aren caminhava descalço, o manto arrastando no gelo.Seguia o som que vinha do vento, uma melodia antiga, feita de sussurros.Ao seu redor, os lobos o acompanhavam em silêncio, com passos leves e respeito quase humano.No alto da montanha, Erynn esperava.O cajado dela brilhava em prata e dourado, as cores do novo Norte.— Está pronto? — perguntou.— Nunca estive mais. — Aren sorriu. — O vento me ensinou o que é eternidade.Erynn o observou, emocionada.— Hoje escrevemos a última palavra desta era.— Não será uma palavra. Será um nome.Kael subiu logo atrás, silencioso como sempre.Os olhos cansados refletiam o mesmo brilho do filho.A cicatriz na garganta havia desaparecido — no lugar, um traço de luz.Helena, pensou ele, ainda curava.Quando chegaram ao topo, o mu
O amanhecer chegou leve, sem vento. A neve dormia sobre o vale como véu. O Norte, pela primeira vez em eras, parecia respirar em compasso humano.Kael caminhava entre as ruínas da antiga fortaleza. As paredes de gelo refletiam o sol nascente, tingidas de dourado. Cada passo dele deixava uma marca que logo se desfazia, como se o chão não quisesse prendê-lo.Erynn o observava de longe. Sabia que o Alfa não falaria mais. Não por castigo — mas por escolha.Desde o sacrifício de Helena, ele não pronunciava uma palavra. Tinha recuperado a voz no instante em que ela se tornara luz, mas decidira guardá-la. Para ele, falar era profanar o silêncio que ela havia criado.Aren aproximou-se, envolto num manto cinzento. Os olhos dele, dourados como o nascer do dia, ainda brilhavam com traços do reflexo. — Pai. Kael o olhou, sorrindo. O menino sorriu de volta. — Ainda não falas?Kael negou com a cabeça e escreveu com o dedo sobre a neve: “As palavras pesam mais do que a luz.”Aren leu e
O lago que dormia no centro do vale começou a se mover. As águas, antes claras e imóveis, tornaram-se negras como ferro líquido. E do fundo, um som baixo e constante emergiu — o bater de um coração que não devia mais existir.Erynn foi a primeira a perceber. Estava em prece quando o gelo sob seus pés vibrou. Olhou para o horizonte e sentiu o ar esquentar. — Ele está tentando voltar — murmurou.Kael ergueu o olhar. O reflexo da lua tremia na superfície da água. E dentro dele, uma sombra lutava para nascer. Kaen.Aren sentiu o chamado antes de qualquer um. O corpo dele queimava por dentro, como se o sangue buscasse fugir das veias. Correu até o lago, o vento abrindo caminho. Kael tentou segui-lo, mas o ar o repeliu — o Norte não queria testemunhas.Quando Aren chegou à margem, a água já fervia. O reflexo se ergueu em forma humana: os olhos vermelhos, o corpo feito de sombra viva. — Irmão — disse Kaen, sorrindo. — Vieste me despedir? — Vim te libertar. — Libertar? Eu sou
O som do último batimento ecoou por todo o vale. Depois, veio o silêncio — profundo, puro, insuportável.A lua clareou, lavando o sangue da noite anterior. E no centro do altar de gelo, onde o corpo de Helena caíra, havia agora apenas luz. Não havia ferida, nem sombra. Somente uma forma translúcida, feita de calor e calma.Kael ainda estava ajoelhado. A espada jazia caída ao lado. Os dedos dele, manchados da luz que antes era sangue, tremiam. Erynn tocou seu ombro. — Levanta, Alfa. Ele balançou a cabeça. — Não posso. — Ela escolheu. — Eu devia ter escolhido por ela. — Isso teria tirado o sentido da escolha.O vento soprou, leve. Um fio de cabelo de Helena, dourado, dançava no ar. Kael o segurou com cuidado, como se tocasse um milagre. A cicatriz em sua garganta brilhou uma última vez — e apagou.Na fortaleza, Aren acordou de um pesadelo. O corpo suava frio, o peito doía como se tivesse perdido metade de si. Correu até a entrada, tropeçando. Os lobos no caminho o obs
Último capítulo