"Quando enfim a loba o encontrar, irá se libertar e seu destino se cumprirá… e com ela, a espécie subjugada renascerá dando início a uma nova era." Aurora sempre viveu com incertezas acerca de sua vida, ela sabia que não era como os outros, mas suas perguntas nunca foram respondidas. Então, ela desistiu, era mais simples assim, porém, o destino é surpreendente, a correnteza é imparável. Aurora não sabia, mas a força daquele destino era violenta e a profecia seria cumprida assim que ela visse aqueles olhos escuros.
Ler mais21 anos antes…
Mary A barriga de oito meses não era tão grande como já vi em outras mulheres, mas deve ser pelo fato de eu não ser uma mulher comum. O colchão duro deixava minhas costas doloridas, porém, nada naquela sala era para me dar algum conforto, ao contrário, as câmeras posicionadas nos quatro cantos não me deixavam esquecer do porquê estava ali. A sala bem iluminada e insalubre estava bem trancada, através do vidro reforçado, via o corredor branco e vazio. Perdi a noção do tempo que estava ali, é incrível como a vida de uma pessoa pode mudar drasticamente. Há um tempo, eu tinha uma vida “comum”, tinha casa, trabalho, uma vida... tudo o que uma pessoa normal deseja. Mas eu não era uma pessoa normal. Havia uma anomalia em meus genes, herdado dos meus antepassados. Minha mãe certa vez contou sobre a maldição da nossa família, disse que éramos fadados a morte, nunca passávamos dos quarenta anos de idade. Segundo ela, era devido a nossos genes de lupinos. Uma criatura que existiu há muito tempo: humanos que se transformavam em lobos e lobisomens. Eu nunca acreditei nessa história, até ser capturada. Aconteceu em um dia quando voltava do trabalho, alguém me abordou e me desacordou, quando abri os olhos estava em uma sala como esta. Fui torturada diariamente com testes e mais testes, exames e drogas sendo injetadas em meu corpo. De alguma forma, eles sabiam dos meus genes e estavam tentando forçar minha transformação. O objetivo era desenvolver uma nova raça que fosse superior aos humanos e era uma questão de tempo para eu ser dissecada. Frustrados, eles mudaram de tática; fui espancada quase diariamente, abusada, violada... E só assim eles conseguiram o que queriam. Em um desses abusos a fera surgiu assumindo meu corpo, mas não totalmente. Adquiri garras e pelos pelo corpo, um leve focinho, dentes maiores e pontudos. Não era nem humana e nem lobisomem, no entanto, forte o suficiente para matar. Ainda assim, eles eram mais fortes e conseguiram me manter enjaulada. Eu não sei como completar a transformação, nenhum dos nossos soube. Há um livro, mas foi escrito em uma linguagem que não existe nos registros atuais. O fato é que não é possível ler, mas acredito que nele está a resposta para tudo. Minha mãe só sabia que em um determinado momento, eu iria ficar fértil, querendo ou não, iria engravidar e que seria uma menina. Nascia uma menina em cada geração. Foi assim com ela e com nossas gerações anteriores, algo sobrenatural nos induz a procurar um parceiro para acasalar. Precisamos passar os genes adiante. Quando ela contava essas coisas eu não acreditava, parecia tão surreal. Minha mãe não casou; segundo ela, sua alma de loba não aceitava ter um companheiro, ela sentia repulsa e a única vez que aceitou, foi no seu período fértil, porém, a minha avó se casou e viveu uma vida de sofrimento até seus dias chegarem ao fim. Quando questionei porque não passávamos de uma certa idade, a resposta veio simples. "A alma não sobrevive sem seu par." Limpei as lágrimas que escorreram, perdi as contas de quantas vezes chorei e de quantas vezes pedi aos deuses que me libertasse daquela dor. Em vão... O barulho do rangido das rodas daquela cadeira alertou-me, todos os dias eles viam para fazer testes. Permaneci imóvel em cima da cama de cimento encostada na parede. Estava cansada e não precisava de uma dose de choque naquele dia, não iria sujeitar a minha bebê que nem nasceu, a esse sofrimento mais uma vez. Virei a cabeça apenas para ver o assistente daquela cientista louca entrar no quarto. ― Boa tarde, Mary. Não respondi, apenas olhei a cadeira com travas de um metal reforçado. ― Parece mais abatida que o costume. Está sentindo algo? Sente alguma coisa referente a sua bebê? ― Ele aguardou, esperando resposta, mas hoje não queria falar. — Tudo bem, já vi que não está muito disposta hoje. Pelo menos coopere e não me dê motivos para revidar, ok? Observei a arma com o tranquilizante e a de choque quando ele afastou o jaleco. Amaro não era de todo ruim, eu via em seus olhos que ele não gostava de me maltratar, apenas cumpria ordens e tentava fazer seu trabalho da melhor maneira possível. Ou talvez eu só estivesse enlouquecendo a ponto de enxergar alguma gentileza nele. Aceitei sua mão oferecida para me ajudar a levantar, sempre gentil, mesmo depois de tantas vezes que o ataquei tentando fugir. Suspirei. Não havia muito o que ser feito. Sentar naquela cadeira metálica era aterrorizante, eu só sentava ali para ser torturada. Amaro optou por colocar-me a focinheira antes de travar meus pés e mãos, mas antes, pedi: — Por favor, me ajude. — Encarei seus olhos escuros. — Desculpe — disse antes de encaixar a focinheira. Após fechar as travas, empurrou a cadeira até a sala: a sala de exames, ou de torturas. Dava na mesma. Quando entramos, ela já estava lá.ThalesJá fazia um tempo e o dia estava amanhecendo. Aurora estava cansada, mas ela não era uma mulher comum, sua força era grande para suportar a dor. Eu não saí do seu lado em nenhum momento e tentei lhe transmitir tranquilidade e força não só através de ações e palavras, mas também através do nosso vínculo.Adelya e Janete estavam ajudando, mas respeitavam bastante o tempo de Aurora, ela era a única que poderia saber quando nasceriam de fato. Na sala, Rubens e Rhael estavam atentos, eles eram nosso pequeno bando, mesmo que Rubens ainda não fosse um lobo.Aurora gemeu durante a contração forte e em seguida, agachou-se no chão, eu a acompanhei amparando suas costas, ela respirou fundo e as contrações vieram novamente. Adelya massageou sua barriga suavemente. Aurora gemeu mais uma vez e apoiou sua cabeça em meu ombro. Nós permanecemos na mesma posição e enfim as contrações aumentaram. — Vai nascer. — Aurora disse em um sussurro, mas Adelya que estava perto, escutou bem.Rapidamente el
— O que está fazendo? — a alfa perguntou sentindo os instintos despertarem. — Solte-a. — O comando saiu em meio a um rosnado e ela alertou a todos, incluindo seu companheiro, que mesmo distante, sentiria seu chamado.— Você foi tola em nos abrigar, nos colocou aqui dentro sem questionar. A culpa é sua. Seu povo irá morrer.— Por que está fazendo isso?— Oh, é uma história triste. Um dia minha família cuidou de um lobo ferido e depois, descobrimos que ele na verdade não era um lobo qualquer. — A bruxa falava e acariciava o filhote adormecido. — Ele tinha uma magia muito especial e nós só queríamos um pouco como forma de retribuição, mas ele não aceitou e matou todos. Eu e minha irmã fomos poupadas, acho que ele não conseguia matar crianças.A alfa procurava brechas para atacar, mas o filhote era muito frágil ainda, ela teve medo como nunca antes. Ela sentiu os outros chegando, mas não lhe houve tempo, a bruxa entregou o bebê rapidamente nas mãos da irmã e disse algo em uma língua desco
Como previsto, a alfa teve os primeiros sinais do nascimento do filhote logo no início do inverno, a neve já tinha caído em abundância e se acumulado na floresta, a magia do novo membro da alcateia vindo ao mundo foi sentida, a alfa estava agachada no chão apoiada por seu macho, a frente, duas fêmeas experientes ajudavam naquele momento único. A alfa tinha seus cabelos ruivos molhados pelo suor, seu corpo nú tremia acompanhando contrações regulares, o macho a abraçava, tão suado quanto, seus cabelos negos se misturavam com os volumosos fios da fêmea devido à proximidade. Mais uma vez ela colocou força, tremendo, respirando rápido, seus dentes cerrados ajudavam na força e a suportar a dor natural para aquele momento. — Vamos, falta pouco, coloque mais força na próxima. — A fêmea que estava posicionada para receber o filhote disse com um sorriso. A alfa respirou fundo e sentiu as pernas dobradas tremerem de cansaço, as mãos estavam seguras sobre a do seu companheiro que não se moveu
Aurora— Talvez não aconteça assim, tem muito tempo daqui para frente. —Thales disse ao se levantar. — O livro não descreve apenas o passado? Por que ele mostrou algo do futuro?— Eu não sei. Adelya disse que a magia está se equilibrando e que muita coisa vai mudar. Nós não éramos os únicos, havia outras alcateias, mas a maldição teve origem na nossa, ela foi forte o suficiente para afetar a todos. — A loba te permitiu ver mais?Respirei fundo e me acomodei no sofá. Thales me ajudou a tirar a calça e depois colocou minhas pernas em seu colo. — Sim, ela me mostrou o suficiente. — Olhei para Thales e procurei seu lobo, ele me atendeu, o dourado cobriu o negro, busquei nosso vínculo mais profundo e compartihei aquela lembrança…*“A fogueira volumosa esquentava ao redor, era uma noite de festa, uma noite onde adoravam aos deuses em agradecimento ao alimento e fartura daquele período. A alfa levantou amparada por seu companheiro, a barriga exposta refletia o brilho da fogueira, havia u
AuroraAlguns meses depois…O volante arrastou na minha barriga ao manobrar o carro, era quase fim de tarde, estava faminta, no entanto, algumas coisas precisavam ser resolvidas. Eram dois filhotes e eu sentia que estavam próximos, Adelya iria realizar o parto, felizmente, ela tinha alguma experiência. Os filhotes eram agitados e já não tinha tanto espaço pra eles. Adelya garantiu que era um casal, eu estava preocupada em ter um parto de dois em casa, mesmo que a loba estivesse segura. O destino queria assim, então eu devia confiar. Além disso, outras questões surgiram.Estacionei na frente da delegacia e saí com dificuldades do carro. A viatura estava na frente, então não perderia tempo. Ajustei o casaco que me deixava maior do que já estava e entrei no estabelecimento. Eu não podia dizer que estava às moscas, porque tinha um homem bastante aborrecido discutindo com uma mulher de frente ao balcão.O subordinado me olhou com uma expressão cansada e acenou para que eu entrasse. Dei le
Aurora— Eu vinha sentindo algo estranho, teu cheiro está um pouco diferente e fico ansioso, o lobo anda reclamando também por eu não estar perto o tempo todo, ele anda me pondo louco com sua irritação e eu até pensei nessa possibilidade, mas depois seu estômago estava ruim e… — Ele parou e respirou fundo. — Um filhote, um filho…— Desculpe por não ter contado antes, eu tinha certeza mesmo sem esse teste e, eu queria fazer algo mais elaborado, mas você ia acabar descobrindo sozinho antes disso.— Devia ter me contado assim que desconfiou, nós estamos transando feito loucos e você continua trabalhando. Isso não deve ser bom.— Não acho que tenha problemas nisso, não exagere.— Mas e se acontece alguma coisa?— Uma gravidez não é tão delicada assim, amor. Eu sou uma loba forte. Esqueceu?— Eu sei, jamais duvidei de sua força, mas foi inevitável não me preocupar. — Tudo bem, vamos com calma.— Depois discutimos sobre isso, agora você tem que comer. — Thales me deu um pequeno beijo e sen
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