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✦ CAPÍTULO 5 — O CHAMADO DO ALFA

O som do nome dela ainda pairava no ar quando o vento silenciou de repente.

O castelo inteiro pareceu ouvir.

Nas torres, os lobos pararam de uivar.

Nas muralhas, os guerreiros se entreolharam — como se o impossível acabasse de acontecer.

O Alfa havia falado.

Dentro da tenda, o ar ainda tremia.

Helena mal conseguia respirar; o corpo formigava, e o sangue corria quente demais.

Kael permanecia à frente, imóvel, o olhar cravado nela como lâmina.

O som que escapara da garganta dele ainda ecoava entre as velas, batendo nas paredes como um coração sem dono.

Erynn foi a primeira a se mover.

— Alfa... o que fizeste? — sussurrou, trêmula.

Kael virou o rosto em direção a ela, mas não respondeu.

A cicatriz brilhava como prata viva.

Helena recuou um passo, a respiração curta.

— Ele… — tentou dizer, sem fôlego — ele falou meu nome.

Erynn baixou o cajado, como se ajoelhasse diante de algo antigo demais para ser compreendido.

— Não. Ele te chamou.

O olhar da anciã mudou — de medo para reverência. — O Norte volta a ouvir o vento.

Ronan entrou em seguida, a espada ainda na bainha, mas a mão firme sobre o punho.

Quando viu o Alfa e a mulher no centro do círculo de cinzas, parou.

— Por todos os deuses… — murmurou. — O impossível.

Erynn o interrompeu, seca:

— O impossível é o que sustenta o Norte.

O silêncio que se seguiu foi quebrado por um trovão distante.

Do lado de fora, o céu escurecia, e a neve começou a cair grossa, redemoinhando sobre o vale.

Helena ergueu os olhos, sentindo o frio entrar pela pele, mas o calor que vinha de dentro dela era mais forte.

O vento soprava de novo, mas agora respondia.

Cada vez que Kael respirava, as chamas oscilavam, como se o ar o obedecesse.

Erynn aproximou-se de Helena com cautela.

— O selo queimou quando ele falou. — A voz dela era baixa. — Estás ligada a ele, criança.

Helena a fitou, assustada.

— Ligada? Como?

— Pela voz. — A anciã apontou para Kael. — Ele gritou uma vez e o mundo emudeceu. Agora te chamou e o mundo voltou a ouvir.

Helena deu um passo atrás, balançando a cabeça.

— Não, isso é loucura. Eu não pedi nada disso.

Ronan bufou, quase rindo.

— Achas que o destino pede permissão?

— E o Conselho? — perguntou Erynn. — O que vão dizer quando souberem?

Kael ergueu o olhar, frio, absoluto.

Não precisou falar.

Ronan entendeu o gesto e respondeu:

— Eles já sabem.

Lá fora, os sinos das torres ecoavam.

Três toques longos: o sinal de convocação.


O salão do Conselho estava lotado.

Sigrid e Maelor esperavam diante do trono de pedra.

Aos lados, guerreiros murmuravam, inquietos.

Quando Kael entrou, o som cessou como vento cortado.

Helena veio atrás dele, o manto ainda sobre os ombros, o cabelo solto e úmido.

Cada olhar pousava nela com curiosidade e temor.

Alguns se ajoelharam. Outros, cerraram os punhos.

Maelor foi o primeiro a falar.

— Dizem que o Alfa falou. — A voz soou como lâmina arrastada. — Quebraste o juramento do silêncio.

Kael o encarou, imóvel.

Helena sentiu a tensão no ar, como se o ar entre eles fosse vidro prestes a quebrar.

Erynn adiantou-se.

— Ele não quebrou nada. Apenas respondeu a um chamado.

Sigrid olhou para Helena.

— E o chamado tem nome, pelo visto.

O silêncio ficou pesado.

Helena quis recuar, mas sentiu algo diferente: um calor, um pulsar na pele, a mesma energia da tenda.

Quando Kael a olhou, o peito dela se apertou.

Podia sentir o eco dele dentro do próprio corpo.

Um sopro, uma lembrança, algo que não era pensamento — era presença.

Maelor ergueu a voz:

— Então a maldição muda de nome? O Alfa fala e o Norte perde o medo?

Ronan se adiantou:

— O Norte ouviu o próprio chamado. E teme o que não entende.

— Teme, sim — respondeu Maelor, firme. — Porque toda ponte entre mundos termina em ruína.

Kael respirou fundo, e o ar no salão mudou.

As tochas estremeceram.

Um som baixo vibrou — não uma palavra, mas um eco.

O mesmo eco que Helena ouvira dentro da tenda.

Sigrid levou a mão à garganta, surpresa.

— A voz dele…

Erynn completou:

— Não voltou por inteiro. Mas voltou o bastante para lembrar aos homens quem ele é.

Helena o observava.

O Alfa permanecia imóvel, mas o silêncio em torno dele parecia vivo, denso, respirando.

Ela percebeu que não era o único que sentia a marca arder.

A própria pele dela brilhava em reflexos prateados, visíveis apenas quando ele se movia.

— Ele te chama, mesmo sem voz — murmurou Sigrid. — E tu o escutas, mesmo calada.

Helena se virou.

— Isso é uma maldição?

— Ou uma bênção que o Norte não pediu — respondeu Erynn.

Maelor ergueu o punho, impaciente.

— O Norte não sobreviveu à primeira Luna. Não suportará outra.

A voz dele ecoou pelo salão, e o murmúrio cresceu.

Kael deu um passo à frente.

A cicatriz na garganta reluzia.

O som que saiu dele não foi voz — foi rugido.

Profundo, contido, humano e selvagem.

Os lobos lá fora responderam instantaneamente.

Um uivo atravessou o vale, quebrando o gelo nas janelas, vibrando nas colunas de pedra.

O chão tremeu sob os pés.

Helena levou a mão ao peito, o coração disparado.

O rugido parecia nascer dentro dela também.

O eco a atravessava como se as costelas fossem cordas de um instrumento antigo.

Erynn ajoelhou-se.

Sigrid baixou a cabeça.

Até Maelor, por um instante, ficou em silêncio.

Quando o som cessou, Kael respirou devagar e virou o rosto para Helena.

Os olhos dele — aquele azul frio de aço e noite — a encontraram.

Ela compreendeu sem palavras: o chamado era mútuo.

O Conselho, dividido, começou a discutir entre si.

Helena se afastou alguns passos, confusa, o ar pesado demais.

Ronan se aproximou, voz baixa:

— Ele não devia ter feito isso.

— Por quê?

— Porque cada vez que fala, o Norte sangra junto.

Helena olhou para Kael — imóvel, forte, mas com o sangue escorrendo em um fio fino da cicatriz.

A garganta dele ardia em prata e vermelho.

Ela se aproximou, instintivamente.

Quis tocá-lo, mas ele ergueu a mão, impedindo-a.

Mesmo assim, ela sentiu o calor dele, como se o toque existisse no ar entre os dois.

— E se o silêncio dele for o preço? — perguntou Erynn, olhando para o sangue. — E se a tua voz for a chave?

Helena o fitou, tremendo.

Não sabia se o que sentia era medo, ou amor, ou os dois ao mesmo tempo.

Do lado de fora, o vento soprou de novo — e, dessa vez, soou como uma resposta.

Dois corações. Um silêncio. Um destino.

Kael ergueu o olhar para o alto.

Os lobos uivaram.

E o Norte inteiro voltou a ouvir o rugido do Alfa.

Mas desta vez, não havia dor no som.

Havia vida.

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