A noite desceu com pressa, como se alguém tivesse soprado a luz para dentro das montanhas.
O castelo trancou os portões.
Os lobos, inquietos, rodavam em círculos, farejando um cheiro que não era de fera, nem de homem — era de fenda.
Helena não conseguia ficar parada.
A marca no ombro ardia em ondas, anunciando algo que o corpo ainda não sabia nomear.
Na torre, o vento entrava por frestas invisíveis, girava as chamas e sussurrava um nome antigo: Lyra.
Escuta, filha do Norte.
Não feches os olhos para o que te chama.
Ela fechou os olhos mesmo assim — e viu.
Não o salão, não a cama, não a lareira.
Viu a neve antiga, o campo do grito, o instante em que tudo partiu.
Lyra erguendo a mão, Dravon sorrindo com a lâmina, Kael ruindo por dentro.
Depois, um reflexo — a própria Helena, caminhando para o mesmo lugar, mas de branco mais claro, com a marca acesa como lua.
— Para. — A voz escapou sem que ela percebesse. — Para, por favor.
A visão se quebrou como gelo ao sol.
Ronan bateu à porta, entrou