O vento mudou de direção.
Veio carregado de cinza.
O cheiro de ferro no ar anunciou o que os corvos já sabiam: o Sul havia despertado.
Helena observava o horizonte da torre mais alta.
A neve que antes caía suave agora vinha cortante, como lâminas minúsculas.
Cada floco trazia um zumbido distante, um sussurro em idioma que ela não conhecia — mas compreendia mesmo assim.
Volta para casa.
O sangue reconhece o sangue.
Fechou os olhos e tentou ignorar, mas o eco insistia.
Nos últimos dias, as visões haviam voltado.
Às vezes, era Lyra chamando pelo nome de Kael.
Outras, era a própria Helena de pé em um campo em chamas, com os lobos caídos ao redor.
E sempre, sempre, a mesma voz fria respondendo no vento:
O amor dele não te pertence.
Acordava suando, o selo queimando sob a pele, e a certeza de que algo se aproximava.
Algo antigo.
Algo que lembrava ódio.
O castelo vivia em estado de vigília.
Ronan passava as noites nas muralhas, Erynn revia velhos rituais de proteção, e Kael...
Kael observava