A CIGANA E O DESTINO DE DON VITÓRIO Ela previu o futuro nos olhos do inimigo.Ele sentiu a alma arder no olhar da prisioneira. Sara Varga Santino foi criada entre tendas, cartas antigas e histórias sussurradas ao redor do fogo. Filha de uma poderosa cartomante e quiromante, ela nasceu com o dom de ler as mãos, mas ainda não conhecia o verdadeiro alcance de seu sangue místico. Virgem, prometida a um cigano de seu clã, ela cresceu respeitando os caminhos da espiritualidade, mas sempre sentiu que seu destino era diferente. Na noite em que foi sequestrada por ordens de um mafioso cruel e vendida como mercadoria em um leilão clandestino, algo despertou dentro dela.Foi quando seus olhos encontraram os de Vitório Salvatore Balestra. O DON implacável da máfia italiana, Vitório está prestes a selar um acordo perigoso com a família Terenzi — uma união forjada em sangue e interesses, selada com o casamento com a filha do chefe rival. Mas tudo muda quando ele presencia o leilão secreto de mulheres em sua própria boate — um tipo de negócio que ele proibiu desde que assumiu o controle da família após a morte do pai. Entre todas as vítimas, uma chama sua atenção: a cigana amarrada, de olhar selvagem, com um ódio que corta mais fundo que qualquer faca.Ele não sabe quem ela é.Ela, no entanto, o enxerga como nenhum outro. Ao olhar nos olhos de Vitório, o dom adormecido de Sara desperta — ela vê flashes de um futuro que não compreende: dor, guerra, redenção… e amor.Uma voz dentro dela sussurra: "Ele vai te salvar… mas antes, você terá que domá-lo. "Vitório, intrigado com a força daquela jovem, desafia a todos e declara em voz alta: “Ela é minha.
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A noite soprava quente sobre as tendas cigarras montadas na beira da estrada, com o cheiro de incenso se misturando ao aroma adocicado do vinho quente e da terra molhada pela maresia. Sara Varga Santino, com apenas dezenove anos, corria os dedos finos sobre as linhas da palma de uma senhora, como sua mãe lhe ensinara, mas sua mente estava inquieta. Havia um presságio pesado no ar. Algo que nem as cartas, nem as linhas das mãos, ousavam revelar com clareza. — A senhora deve tomar cuidado com estranhos — sussurrou, fechando os olhos por um instante, como se pudesse afastar a sombra que se formava em sua mente. Carmela Varga, a mãe, observava de longe. Seus olhos negros, profundos como um poço, acompanhavam cada gesto da filha. Ela sabia. A vidente sentia no peito: o destino de Sara estava próximo de ser arrancado de suas mãos inocentes. Naquela mesma noite, um comboio de carros pretos cortava a estrada poeirenta. No banco de trás, Massimo Terenzi, um dos chefes mais cruéis da máfia italiana, observava um dossiê com fotos. Em uma delas, Sara dançava entre as tendas, seus cabelos negros soltos, o vestido vermelho colado ao corpo em movimentos hipnóticos. — Quero essa cigana. Amanhã ela será minha moeda de troca — declarou, com um sorriso frio. Naquela noite, o clã Varga foi cercado. Homens armados surgiram entre as sombras, e Sara foi capturada antes que pudesse reagir. Os gritos da mãe ecoaram pela noite, mas Carmela nada podia fazer contra as armas apontadas. Quando abriu os olhos novamente, Sara estava trancada em um quarto pequeno, iluminado apenas por uma luz vermelha fraca. Vestida com roupas provocantes, sentia nojo do tecido colado à pele. Ela entendeu: seria vendida. Sara acorda no quarto escuro, com o cheiro de fumaça e suor impregnando o ar. O vestido colado ao corpo, os pulsos marcados pela corda. Ela está tonta, mas não chora. Respira fundo e fecha os olhos. E então o véu cai. Ela se vê diante de um espelho — mas não é um espelho físico. É uma cortina de fumaça, onde imagens se formam: Um palco. Luzes vermelhas. Homens ao redor, como lobos famintos. E, por fim, ele. Um homem alto, de terno negro, saindo das sombras Os olhos dele não a desejam como os outros — ele a reivindica. E dentro da mente dela, uma voz antiga ecoa: “Ele é quem te salvará... mas antes, te prenderá em correntes invisíveis. Domá-lo será tua missão. E só então, ele será digno de te libertar.” Sara vê mais. Vê sangue derramado, alianças sendo quebradas, um casamento que nunca acontecerá. Quando as imagens se formaram na névoa, Sara viu um altar. Um casamento suntuoso, repleto de mafiosos engravatados. Uma mulher de vestido branco caminhava em direção ao Capo, mas à medida que se aproximava, sua imagem se desfazia como areia ao vento. E então, foi Sara quem se viu ali. Vestida não de branco, mas com véus coloridos, joias ciganas, descalça. Os olhos de Vitório a encaravam com a mesma fúria de antes, mas havia algo mais: Rendição. A voz ancestral sussurrou: — Ele deveria se casar por sangue. Mas se casará por destino. Sara despertou com o peito arfando, os olhos fixos na porta. Ela não seria apenas mais uma moeda de troca. Ela seria o ponto de ruptura da dinastia Balestra. Vê o nome dele, como se as estrelas sussurrassem: “Vitório Salvatore Balestra.” Quando ela abre os olhos, está suando. Mas não de medo. Ela entende que não foi sequestrada por acaso. O destino a trouxe ali. Ela será a peça que vai virar a mesa da máfia. Mas primeiro, terá que olhar nos olhos dele e não se curvar. Mas o destino não era tolo. E o universo já movia suas peças. Vitório Salvatore Balestra, o Capo di Tutti Capi, chegava à boate para uma reunião com Massimo Terenzi. Ele estava irritado. Havia rumores de leilões secretos acontecendo sob seu teto, e aquilo era inaceitável. Vestido em um terno negro impecável, Vitório era a personificação do poder silencioso. Ele não precisava erguer a voz; bastava um olhar para que a sala se calasse. Quando a cortina se abriu e Sara foi empurrada ao palco, seus pulsos amarrados, Vitório sentiu o ar se rarefazer. Os olhos verdes delaVitório olhou para Sarah, o rosto ainda sombreado pela raiva da batalha, mas os olhos suavizando ao encontrarem os dela.— Se o meu pai tivesse escolhido a minha noiva… — disse, com um tom firme, mas carregado de sinceridade — ela seria infeliz… e eu também.Um leve sorriso se formou nos lábios dele.— Mas obrigado, Santa Sara porque eu escolhi a minha noiva.Sarah arqueou as sobrancelhas, divertida, mesmo com o vestido arruinado.— Ops, você escolheu, não. Santa Sara escolheu.Vitório soltou um riso baixo.— Mas você foi sequestrada e eu te resgatei.Ela deu um passo à frente, aproximando-se dele, o olhar verde faiscando com aquela segurança que ele já conhecia.— E porque Santa Sara deixou. — disse, com convicção. — Nada acontece sem a permissão dela.Vitório ergueu o canto dos lábios e murmurou:— Você sempre tem uma resposta, né, cigana?Sarah sorriu de canto.— Sempre. O nosso casamento nunca vai
Lá fora, os soldados de Vitório perseguiam os que tentaram fugir. Um por um, foram abatidos sem piedade. Nenhum sobreviveu para contar o que viu.Vitório, ainda com o olhar afiado, se virou para um dos capos:— Agora façam uma faxina. Chamem os faxineiros para limpar tudo.Depois, encarou Sarah e deixou um meio sorriso escapar.— Você sabe fazer uma festa de casamento, né?Sarah arqueou uma sobrancelha, provocante.— A nossa festa de casamento será inesquecível… Será que tiraram fotos?Vitório riu baixo, admirando a ousadia dela.— Eu escolhi a mulher certa.— Não — corrigiu ela, séria, mas com um brilho nos olhos verdes. — Santa Sara escolheu a mulher certa e o homem certo.Nesse momento, o pai e o irmão de Sarah se aproximaram.— Nós vamos ficar aqui por tempo indeterminado — disse o irmão, firme.Vitório assentiu.— Eu tenho bastante saudade do meu sangue, mas vocês têm muitos traidores no meio
Os violinos ainda ecoavam no ar quando Sarah, no meio do giro, travou o passo de repente. O corpo, antes leve e solto na dança, ficou rígido. O olhar dela se ergueu como se atravessasse o salão e as paredes, indo além do que qualquer outro ali poderia enxergar.— Parem de tocar! — a voz dela cortou a música como uma lâmina afiada.Os músicos congelaram. Todos no salão se voltaram para ela, sem entender.Sarah deu dois passos à frente, encarando um homem próximo à lateral da tenda principal. Os olhos dela, escuros e intensos, pareciam perfurá-lo.— Ele está aqui infiltrado. — disse com firmeza, apontando diretamente para o homem. — E tem mais gente lá fora.O murmúrio começou a se espalhar.— Se preparem. — a voz dela agora era grave, carregada de urgência. — Eles vão atacar. Ele avisou. É agora.Num instante, o clima de celebração se dissolveu. Soldados da família Moretti e homens ciganos, até então descontraídos, se ent
Vitório permaneceu de pé, observando Sara se afastar do sogro com os olhos marejados. A música cigana começava a retomar no fundo, os convidados aplaudiam, mas ele não ouvia nada.Ali, diante de todos, ele percebeu. Sara era uma força da natureza. Uma força espiritual.Ele não sabia dizer se aquilo que sentia era uma maldição ou uma bênção. Mas a verdade era que, através dela, estava vivendo algo que nunca teve com o próprio pai.A mesma distância fria que o ex-Don havia imposto no dia em que ele trouxe Sara, agora se dissolvia, substituída por uma proximidade inesperada, três vezes maior, graças àquela festa de casamento.Vitório respirou fundo.— Não ela não é uma maldição. Ela é um presente.E, em silêncio, ergueu um pensamento para a padroeira que Sara tanto reverenciava:Santa Sara eu não te conheço. Mas, se a senhora colocou essa cigana no meu caminho se ela é a minha companheira e será quem vai me guiar, quem vai
Sara manteve as mãos unidas diante do corpo, mas seus olhos se fixaram em um ponto atrás do ex-Don. Um leve sorriso surgiu em seus lábios antes que ela falasse, com voz baixa e segura:— Acompanhando o senhor… está uma jovem muito bonita. Ela sorri pelo que o senhor acabou de dizer… e me pediu para lhe dizer que vai esperar o nosso casamento no religioso. Ela estará presente… e depois vocês vão se encontrar.O velho patriarca franziu o cenho, confuso.Sara deu um passo mais perto e continuou:— Ela disse que, nesta vida, vocês não puderam ficar juntos… mas que vai procurar ajudá-lo para que, na próxima, seja permitido que o amor de vocês seja completo.Um tremor percorreu o corpo dele. A voz quase falhou quando perguntou:— Eu… não acredito… Francesca está falando com você?Sara assentiu, seus olhos marejando pela intensidade do sentimento que percebia.— Sim… — respondeu suavemente. — Ela é uma italiana muito l
Ele ergueu o olhar para ela, como se não esperasse ser abordado diretamente.— Me dê a sua mão. — pediu.Hesitante, ele estendeu a mão. A cigana a segurou com firmeza, como quem lê mais do que apenas a pele e as linhas da palma.— Aqui… eu vejo que você não realizou o que queria. Você não casou por amor. Carrega amarguras, decepções… Você fez tudo como diziam que deveria ser feito, mas nunca foi feliz.Os olhos dele se estreitaram, incomodados, mas ele não interrompeu.— Seu filho, não. Ele vai fazer tudo diferente. Ele será três vezes mais forte do que você imagina.— Três vezes? — ele murmurou, quase irônico.— Sim. Você esperava que, unindo forças com aquele traidor, ele se tornaria mais forte. Mas não… ele se tornaria mais fraco. — a voz dela se tornou mais cortante. — E mesmo assim, ele ainda protege as crias daquele traidor.O ex-Dom recostou-se na cadeira, pensativo.— Por que está me dizend
Último capítulo