Qual é a chance de encontrar liberdade nos braços de um estranho? O que era para ser apenas uma investigação levou Leonardo Pachis direto para o inferno. Capturado pela Yakuza, ele foi jogado à beira da morte. Agora, inconsciente no porão de uma mansão, ele só pode contar com a sorte… Ou com ela. Harumi já sobreviveu ao pior. Criada como propriedade, treinada para servir, silenciada para não sentir. Ela conhece bem o cheiro do medo. Mas não esperava encontrá-lo nos olhos de um estranho quase morto, escondido no lugar mais íntimo da casa onde é mantida prisioneira. Ela deveria ignorá-lo. Mas decide mantê-lo vivo. Não por bondade. Mas por uma chance. Sua liberdade, em troca da vida dele. Ela foi ensinada a obedecer. Ele nasceu para comandar. Mas ali, naquele porão esquecido, tudo o que foram deixa de importar. O que começa como uma troca silenciosa, vira uma aliança. Depois, um refúgio. E então, um desejo impossível de controlar. Ele vê a mulher por trás da máscara. Ela encontra no toque dele um pedaço da liberdade que sempre sonhou. Mas os inimigos não esquecem. E o amor, quando nasce entre dois sobreviventes, nunca vem sem dor.
Ler maisEstá escuro. O som do alçapão se abrindo me alerta. Desde que Leonardo veio para cá, estou assustada. Esses últimos dois dias foram um inferno na Terra. Não consigo dormir, dividindo meu tempo entre Mika e Leonardo. Long tem ajudado muito. Sei que o trabalho mais difícil é ele quem está fazendo, então me limito a questioná-lo.Um assobio. Só assim consigo voltar a respirar. É o Long.— Como estão as coisas com o chefe? — pergunto, assim que ele surgi.— Ele não vai aparecer por aqui nos próximos meses. A Outflit criou uma dor de cabeça enorme pra ele.— Pior do que a morte do Ren? — pergunto com um meio sorriso.Long ri, e eu o acompanho. Eu odiava o Ren. Minha vontade era ter matado ele com as minhas próprias mãos.— Bem pior — diz, ainda com um sorriso torto. — Com a notícia de que Leonardo está morto, Cosa Nostra e Outflit estão criando um caos.Meus olhos se perdem num ponto fixo da parede. Será que fizeram esse mesmo alarde quando fui levada? Quando desapareci? Duvido. Não... com
Quando volto para o porão, Long está ao celular. Ele para de murmurar algo assim que me vê e, com um “nos falamos mais tarde”, desliga o telefone, se aproximando de mim.— Volto amanhã para sedá-lo de novo — diz, apontando para a cesta no canto do colchão. — Aí está tudo o que você precisa. Cuide bem dele. Vou manter as coisas lá em cima sob controle enquanto você cuida do nosso passaporte para fora deste inferno.Assinto com a mandíbula tensa, os olhos fixos no ferido como se ele fosse uma bomba prestes a explodir.Long deixa um beijo na minha testa e se afasta. O silêncio ao redor me engole por completo.Resignada, caminho até a cesta, tentando controlar o tremor nas mãos.Abro a tampa de vime e encontro o essencial: bandagens limpas, álcool, pomadas cicatrizantes, linha e agulha cirúrgica.Pelo menos o Long pensou em tudo.Vou até uma das garrafas de água, derramando o conteúdo sobre uma bacia. Terei que limpar tudo antes de começar a cuidar de cada ferimento.Com cuidado, corto os
— Eu não posso participar dessa bagunça. — murmuro, dando um passo para longe. Mas não chego a avançar mais do que dois passos antes de sentir sua mão firme agarrar meu braço. Ele me puxa, me vira, e seus olhos estão ali — sérios, profundos, sem o traço malicioso que costumava me provocar. — Não há saída, Harumi. Ou você tá dentro... ou tá dentro.— Long, isso é loucura.— Loucura é continuar vivendo assim. Até quando? Até você engravidar de novo e eles arrancarem o bebê do seu ventre... sem nem ao menos pedir permissão?Prendo a respiração.A lembrança vem como uma lâmina atravessando o peito. Eu tinha dezessete anos. Engravidei do jovem mestre. E ele... ele ordenou que me tirassem aquilo que era meu sem ao menos me consultar. Médicos, agulhas, dor. Uma dor que me rasgou mais do que qualquer outra. Depois, o castigo: a masmorra. Me acusaram de ter feito de propósito. Me trataram como se eu tivesse tramado tudo. Mas eu não sabia... eu juro, eu nem sabia que podia engravidar dele.D
Coloquei as roupas usadas no ritual em cima da pia com um nojo silencioso, como se o simples contato com o tecido fosse suficiente para sujar novamente minha pele recém-lavada. Enrolei meu corpo no robe branco, o mesmo de sempre, amarrei o cabelo ainda molhado no alto da cabeça. Meus dedos trêmulos não conseguiam segurar os fios por muito tempo. A umidade escorria pelo meu pescoço, fria como a sensação que me invadia por dentro. Me aproximei do espelho, e ali estava ela: eu. A sombra de mim mesma.Sempre que olho meu reflexo, algo dentro de mim se despedaça. É como ver um corpo sem alma, um olhar que grita em silêncio. Vontade de chorar? Já não sei se é isso.É um aperto no peito, uma ânsia que sobe pela garganta e me sufoca.Comecei a evitar o espelho por isso porque ele não mente. Porque, nele, não posso fingir que estou bem. Porque, quando estou sozinha, tudo o que sinto... é pena de mim mesma.Um assobio me arranca da bolha em que me escondi.Long.Com toda certeza, já está larg
Eu odeio muitas coisas neste lugar, mas o que mais me repugna... é o salão do ritual.A primeira vez que fui trazida para cá, eu tinha apenas 15 anos. Lembro com nitidez dos detalhes que me marcaram, o cheiro forte de álcool misturado com perfumes, os gritos abafados, os risos sujos, as mãos que se estendiam demais. Havia tanto para temer naquela noite, tantas imagens que me feriram e, mesmo assim, hoje... ainda dou importância a cenas que sempre me deixam em pânico. Bebidas derramadas, drogas circulando como doces em festa, sexo escancarado, corpos se esfregando sob luzes pulsantes e coloridas, todo o caos arquitetado meticulosamente para satisfazer os desejos doentios deles.E no centro de tudo isso, sobre o palco, ao lado do jovem mestre, estava eu.Minha virgindade foi tirada ali, diante de todos. Um espetáculo cruel mascarado de ritual, aplaudido por monstros mascarados de homens. É impossível não lembrar dessa noite. Todas as vezes que meus pés cruzam o salão principal, essa
Dias atuais…O incenso queimava lentamente, exalando um aroma cítrico de laranja e bergamota que se entranhava na pele como um sussurro ácido, insistente.A cada inalação, minha mente flutuava por um breve instante antes de ser brutalmente arrastada de volta para minha realidade.Tudo ao meu redor parece antigo, impregnado de lembranças que não deveriam me pertencer. Cortinas pesadas, móveis escuros, o silêncio denso... Tudo colaborava para fazer o ambiente encolher ao meu redor.Eu sou uma boneca num relicário decadente, observada, manipulada.Respirar torna-se difícil. Não por falta de ar, mas pela presença dele. O líder.O aroma doce do incenso, antes reconfortante, tornava-se opressor demais para suportar.As correntes que me mantém aqui não são visíveis, mas eu as sinto: apertadas, constantes, cada elo forjado em promessas distorcidas, dívidas de sangue e obrigações que não escolhi.Eu era dele.Não por amor. Por posse.O líder me mantinha por perto como uma peça de xadrez valios
Último capítulo